Super Quarta: decisão de juros pode ter forte impacto no bitcoin; veja o que esperar
Variações na taxa de juros dos EUA têm sido determinantes no comportamento das criptomoedas ao longo dos anos
João Pedro Malar
Publicado em 30 de janeiro de 2023 às 14h44.
O bitcoin e o mercado de criptomoedas como um todo começaram 2023 com um forte movimento de recuperação. A principal cripto do setor já acumula uma valorização de quase 40%, enquanto outros ativos superaram a marca dos 100%, indicando que dobraram de valor. Entretanto, a continuidade desse quadro vai depender do que ocorrerá na chamada Super Quarta, no próximo dia 1º de fevereiro.
O dia recebeu esse nome porque é nele que vão ocorrer as decisões sobre juros por parte do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, e do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Enquanto o Brasil já encerrou seu ciclo de alta de juros, os EUA seguem com elevações para combater a inflação. Em dezembro, o aumento foi de 0,5 ponto percentual.
Tradicionalmente, as decisões de juros nos Estados Unidos afetam os fluxos globais de investimento, "puxando" capital destinado à renda variável - em especial em ativos e mercados considerados de risco - para a renda fixa norte-americana, vista como mais segura e com uma atratividade ligada à magnitude dos juros na maior economia do mundo. E o bitcoin e as criptomoedas não fogem dessa regra.
Em 2022, o setor enfrentou um novo "inverno cripto", um termo que se refere a um período de forte desvalorização de preços e baixo investimento. O grande desencadeador desse mercado de baixa foi exatamente a decisão do Fed de começar a subir os juros para enfrentar a inflação no país, que estava então no maior valor em quase 40 anos.
Desde então, o bitcoin caiu mais de 60%, puxando todo o mercado de criptomoedas para baixo. Agora, conforme o cenário econômico dos EUA dá sinais de melhora, com uma aparente desaceleração na inflação e após diversas altas de juros pelo Federal Reserve, a expectativa é que o cenário comece a mudar, e melhorar, para o setor.
Primeira Super Quarta de 2023
João Marco Cunha, gestor de portfólio da Hashdex, destaca que, como historicamente ocorre, a decisão do Copom nesta semana "não tem nenhum impacto relevante sobre o mercado de criptomoedas". Isso ocorre porque os criptoativos são mais ligados ao fluxo de investimentos internacionais, em especial em ativos de risco, que é pouco correlacionado com os juros brasileiros.
Entretanto, ele acredita que a decisão dos Estados Unidos "pode fazer a diferença" para o comportamento do bitcoin e das criptomoedas nas próximas semanas. Cunha destaca que já existe um consenso no mercado de que o Fed vai optar por uma alta de juros, mas em uma magnitude menor que nos outros encontros, de 0,25 ponto percentual.
Com a alta, a taxa de juros do país passará para o intervalo de 4,5% a 4,75% - patamar elevado para o padrão dos Estados Unidos. De acordo com dados do CME Group, 98,1% dos investidores apostam em uma alta nessa magnitude, o que mostra que "não deve haver surpresas", segundo o gestor da Hashdex.
Se o valor da alta não é uma questão, a comunicação por parte do Fed se tornou o foco dos investidores. Para Cunha, o mercado tem adotado uma postura de “no news, good news”, ou seja, a confirmação de eventos esperados tem gerado reações positivas, ajudando a impulsionar ativos como ações de tecnologia e o bitcoin.
"Nesse caso, é possível que haja algum impacto positivo sobre os preços dos ativos de risco, em geral, e dos criptoativos, em particular", observa o gestor. Para isso, seria necessário que o Federal Reserve, ou seu presidente, Jerome Powell, dessem sinais de que já enxergam uma concretude na desaceleração da economia norte-americana e, por isso, aliviarão o ciclo atual.
Lucas Josa, analista do BTG Pactual, explica que "quanto mais próximo parecer que eles estão se aproximando da taxa terminal [de fim de ciclo], melhor vai ser para o mercado, principalmente por que traz uma visão de que o Fed está conseguindo controlar a inflação, se mantendo no caminho para o alvo de 2% ao ano".
Josa também vê um consenso no mercado em torno de uma elevação de 0,25 p.p., que ele atribui a comunicações recentes por parte dos membros do Fed e também aos dados ligados à inflação dos EUA que saíram nas últimas semanas. Entretanto, ele observa que essa decisão já foi "precificada" pelo mercado, ou seja, os valores atuais dos ativos, incluindo o bitcoin, já refletem esse cenário.
"Por essa perspectiva, é bem provável que o aumento em si, caso obedeça à expectativa do mercado, não traga nenhum movimento brusco nos preços. Nesse caso, a comunicação do aumento passa a ser o ponto focal, principalmente por trazer pistas sobre os próximos passos da política monetária nos EUA", explica.
O analista acredita que o bitcoin e outras criptomoedas podem ter espaço para valorizar ainda mais caso o comunicado do Fed tenha um tom "dovish" - mais suave - devido à perspectiva de um ambiente macroeconômico mais favorável. Já se o tom for "hawkish" - mais duro - a expectativa será de que o ciclo continue ruim para o mercado por mais tempo, o que deve levar a quedas nos ativos e reversão de ao menos parte dos ganhos recentes.
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