(anyaberkut/Getty Images)
Gabriel Rubinsteinn
Publicado em 1 de dezembro de 2020 às 17h47.
A decisão do Banco Central e do CMN de adiar o início da implementação do Open Banking no Brasil, anunciada na última sexta-feira (27), aumenta a ansiedade pelo início do projeto, que terá impacto considerável na rotina de bancos e instituições financeiras do país — e, claro, de seus clientes — mas não chega a surpreender. Pelo menos é que dizem dois especialistas no assunto.
"A alteração nos prazos não muda a inevitabilidade do open finance". disse Ricardo Taveira, CEO e co-fundador da plataforma de open finance Quanto. "O suporte do Banco Central continua essencial para garantir a implementação de maneira efetiva no Brasil, com ampla adoção, mas, mais do que uma obrigação regulatória, o mercado já encara o open finance como uma mudança fundamental na maneira de como o cliente consome o serviço financeiro".
Para ele, o apoio do BC é apenas mais um braço para ajudar a encaixar as peças de um quebra-cabeças que já está sendo montado pelas próprias empresas do setor no Brasil: "O open finance já existe hoje no Brasil e a regulação vem para garantir que o acesso a ele aconteça mais rápido e para um número maior de brasileiros do que o movimento de mercado já em curso".
Marcelo França, CEO e fundador de Celcoin, startup que oferece APIs de serviços financeiros para mais de 130 bancos e fintechs, também ressalta que projetos de Open Banking e Open Finance já estão em andamento, independentemente da implementação pelo Banco Central, e até encontra pontos positivos para o adiamento: "Estávamos prontos para atender todas as instituições e entrar na primeira fase do Open Banking e muitas instituições já realizam serviços financeiros através de nossas APIs, mas percebemos que muitas delas estavam com seus times 100% alocados no Pix, o que tornou o adiamento inevitável. A nova data torna-se uma oportunidade de habilitar mais instituições para participar da fase 1 até o novo prazo [1º de fevereiro de 2021]. Estamos otimistas porque acreditamos que o Open Banking vai aumentar, consideravelmente, a competição no segmento financeiro".
O Open Banking vai dar aos clientes das instituições financeiras do Brasil o controle sobre seus dados cadastrais e de transações. Isso tem como objetivo fomentar a concorrência e o acesso a serviços financeiros — atualmente, apenas os bancos e instituições nos quais o consumidor possui conta têm acesso a tais informações.
Caso o consumidor opte pelo compartilhamento dos seus dados — o que será opcional —, ele poderá ter acesso a produtos e serviços de bancos e instituições financeiras das quais não é cliente e aos quais, consequentemente, não tem acesso atualmente.
Com o Open Banking será possível, por exemplo, ter conta em um banco, mas pegar empréstimo de outro e um cartão de crédito de um terceiro, tudo em um "lugar" só. Esse aumento da concorrência permitirá não apenas a personalização de produtos e serviços como tende a aumentar a competitividade entre as empresas, reduzindo custos.
O projeto do Open Banking no Brasil é dividido em quatro fases. A primeira, que começaria em 30 de novembro, foi adiada para 1º de fevereiro. A fase 2 está marcada para 15 de julho de 2021, a fase 3 para 30 de agosto e a fase 4 para 15 de dezembro. “Mesmo com o ajuste no cronograma, a conclusão do processo de implementação do Open Banking, dividido em 4 fases, ocorrerá em 2021”, garantiu o BC, no anúncio do adiamento.