Mercado futuro de cripto: tudo o que você precisa saber
Aprenda sobre mercados que negocia cerca de US$ 100 bilhões por dia com André Portilho, responsável pela área de ativos digitais do BTG Pactual
Da Redação
Publicado em 13 de abril de 2022 às 09h14.
Última atualização em 13 de abril de 2022 às 15h50.
Por André Portilho
@anportilho
Você sabia que o mercado de futuros de cripto é muito maior que o mercado à vista? É sobre isso que vamos falar no Crypto Insights desta semana.
Os futuros de cripto fizeram sua estreia no mercado em 2017, quando a CME – a maior bolsa regulada de futuros do mundo – começou as operações com futuros de bitcoin. Hoje a negociação desses instrumentos se espalhou pelas exchanges do mundo todo e negocia em média US$ 100 bilhões por dia.
Mas vamos voltar um pouco para entender antes o que é um contrato futuro e por que esse instrumento é de fundamental importância para o bom funcionamento dos mercados. Um futuro é tipo de instrumento derivativo que como o próprio nome diz, é um contrato que representa um acordo para um dado momento futuro. Esses contratos surgiram da necessidade de duas partes envolvidas em uma transação, comprador e vendedor, mitigarem os riscos de preço para frente.
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Para ilustrar isso, imagine o seguinte exemplo: um produtor de soja faz todo investimento no plantio e produção da safra - sementes, fertilizantes, mão de obra, insumos, etc. Mas só vai receber por isso no momento da colheita. Se o preço da soja despenca antes disso o faturamento com a venda da safra pode ser menor que o investimento e o produtor ficar no prejuízo.
A mesma coisa pode acontecer com o dono da fábrica de óleo de soja, por exemplo, mas na ponta contrária. Se o preço da soja explode para cima ele vai ter que pagar muito mais caro e nem sempre vai conseguir repassar o preço para o consumidor.
Os contratos futuros foram inventados para isso. Mitigar os riscos de variação de preço nessas transações, travando um valor para o futuro. Esse tipo de instrumento já é utilizado há milhares de anos com essa finalidade.
Voltando agora para o nosso foco, esses instrumentos se sofisticaram nas últimas décadas e hoje são os mais líquidos, tanto nos mercados tradicionais como nos de criptoativos. O ponto central é que quando você compra um futuro, não tem que desembolsar o valor total dele como aconteceria se você comprasse o ativo normal. A liquidação de fato só vai acontecer no vencimento do contrato, e antes disso é preciso apenas depositar uma margem de garantia que é menor que o valor total do ativo. Isso acontece para garantir que existam recursos para liquidar a operação no vencimento.
Outra coisa importante é que da mesma forma que se pode comprar um futuro é possível vender também. Isso faz com que os mercados futuros sejam uma ferramenta de ajuste e controle de preços muito mais eficiente que qualquer outra. É o mercado dizendo o quanto deve custar cada ativo pelo simples balanceamento entre oferta de demanda, ou seja, quem está vendendo e quem está comprando. Adam Smith ia ficar orgulhoso com esse mecanismo.
Trazendo agora para o mundo dos criptoativos: à medida que as exchanges foram incluindo os futuros nas suas plataformas, eles foram ganhando liquidez. Isso motivou a evolução dos contratos por parte das exchanges, com a criação de novos tipos que não existem nos mercados tradicionais, onde tudo se originou. Os futuros perpétuos, por exemplo, concentram grande parte da liquidez de bitcoin e ether e permitem muito mais facilidade e flexibilidade de operação e liquidação.
O resultado disso tudo é que o volume dos futuros de cripto é muito maior do que o do mercado à vista. Pra dar o exemplo do bitcoin, se a média atual de volume no mercado à vista é de US$ 15 bilhões por dia a dos futuros é de US$ 100 bilhões por dia, os movimentos de preço na maioria das vezes são ditados pelos futuros.
Outro ponto importante é que como o mercado cripto funciona de forma ininterrupta, os seja, não para nunca, a forma como acontece a liquidação desses contratos também teve que evoluir e hoje o mercado cripto tem mecanismos de liquidação muito mais avançados que os do mercado tradicional. A minha visão é que essa evolução vai migrar para os mercados tradicionais também, pelo simples fato de ser mais eficiente.
Esse desenvolvimento que está acontecendo no mercado cripto é só um dos exemplos que mostram como essa nova tecnologia e classe de ativos vai transformar a indústria financeira daqui pra frente, mudando a forma como ganhamos, gastamos e investimos nosso dinheiro. Quem ainda não percebeu isso vai ficar pelo caminho.
Um abraço e até o próximo Crypto Insights.
*André Portilho é o head de Digital Assets do banco BTG Pactual
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