Sócio fundador da Bridgewater Associates, Ray Dalio. (Kimberly White/Getty Images)
Gabriel Rubinsteinn
Publicado em 28 de dezembro de 2020 às 10h10.
Com pouco mais de 10 anos, a história do bitcoin é bastante recente. Mas, nesse período, não faltam história de pessoas que criticavam ferrenhamente o criptoativo e acabaram mudando de opinião. É natural que, por ser novo e ainda não ter se consolidado de forma massiva, apareçam dúvidas, críticas e desconfiança sobre o futuro não apenas do bitcoin, mas de todo o mercado de criptoativos.
Com o passar do tempo, o crescimento desse universo, suas aplicações no mundo real, sua adoção por empresas e pessoas físicas, e, claro, o aumento do preço, fazem com que muita gente tenha que repensar suas opiniões.
Aqui, separamos cinco nomes famosos do mercado financeiro nos Estados Unidos que, depois de vestirem a camisa contra o bitcoin e os criptoativos — alguns deles por vários anos —, aproveitaram a alta de 2020 para mudar de lado e se juntar a eles.
"Eu não preciso 'brincar' com bitcoin. Eu não entraria comprado, não entraria vendido. Eu não entendo porque isso seria uma reserva de valor só porque você não pode criá-lo. E, bem, existem milhares de coisas que não podem ser criadas e não chegarão a 1 milhão".
Foi assim que Stanley Druckenmiller, gestor de fundos de hedge bilionários por mais de 30 anos, se referiu ao bitcoin em entrevista de junho de 2019. Mas as coisas mudaram consideravelmente em 2020, quando ele anunciou ter investido no criptoativo.
Em nova entrevista, dessa vez ao canal de TV norte-americano CNBC, em novembro de 2020, Stanley disse tem investimentos em ouro, mas que acredita que seu investimento em bitcoin performará melhor no longo prazo, dizendo que o ativo digital "tem mais liquidez e espaço para crescer" do que o metal precioso e também afirmou o maior criptoativo do mundo tem "muito poder de atração como reserva de valor para os Millenials".
Quanta diferença, hein?!
Essa foi uma mudança a jato. Apesar de ter chamado o bitcoin de bolha em 2017, em novembro de 2020, o bilionário Ray Dalio, criador do maior fundo de hedge do mundo — o Bridgewater Associates — dizia que "o bitcoin não está pronto para o sucesso", que governos iriam banir o ativo digital e até usou o Twitter para pedir ajuda para entender o aumento do interesse no ativo, dizendo que provavelmente tinha "perdendo alguma coisa" sobre o assunto.
Menos de um mês depois, em um bate-papo no Reddit no início de dezembro de 2020, afirmou: "Acho que o bitcoin (e outros ativos digitais) se estabeleceram como uma alternativa ao ouro, com semelhanças e diferenças ao ouro e outros ativos de oferta limitada". A frase é bem diferente do que ele afirmou à CNBC em setembro de 2017, quando falou que "o bitcoin não é uma reserva de valor eficiente por causa da sua volatilidade".
Na mesma conversa do Reddit, aconselhou investidores a diversificarem seus portfólios com ativos com "oferta limitada, que tenham mobilidade e sejam uma reserva de valor" — características que se encaixam com o bitcoin.
Em 2018, ele disse que o bitcoin não deveria ter espaços em portfólios de investimento. Foram necessários mais de dois anos, mas em dezembro Fraser-Jenkins admitiu: "Eu mudei de ideia sobre o bitcoin na alocação de ativos".
Apesar da alta acentuado no preço do bitcoin nas semanas que antecederam o comentário, o chefe de estratégia de investimentos da Bernstein Research afirmou que não foi o preço que o motivou a mudar de ideia. Segundo ele, a pandemia do coronavírus mudou o ambiente político, os níveis de dívidas e as opções de diversificação de investimentos, o que, segundo ele, tornou o bitcoin atrativo.
"A pandemia resultou em expansão fiscal, aumentou a probabilidade da volta da inflação e aumento de impostos, e esses fatores vão aumentar a demanda por bitcoin", disse. O estrategista também falou que a volatilidade do bitcoin diminuiu significativamente nos últimos três anos, o que o tornou uma reserva de valor mais atraente.
Fraser-Jenkins recomendou que os investidores tenham uma pequena quantidade alocada em bitcoin, que deve ser aumentada de acordo com a performance do ativo. Também reconheceu que a alta acelerada de 2020 pode fazer com que os preços caiam no curto prazo, mas que "sua estratégia é voltada a investidores que manterão a posição por longo período".
Em meados de novembro de 2020, o lendário gestor de investimentos de Wall Street, Bill Miller, fundador da Miller Value Investments, recomendou "fortemente" a compra de bitcoin, afirmando que era "o ativo de melhor performance" em análises de tempo relativas ao último ano, aos últimos 5 anos e aos últimos 10 anos.
"[O bitcoin] tem sido muito volátil, mas acho que agora seu poder de permanência fica melhor a cada dia", disse Miller à CNBC. "Acho que os riscos de o bitcoin chegar a zero são muito, muito mais baixos do que nunca".
"Acho que todo grande banco, todo grande banco de investimento, toda grande empresa de alto patrimônio líquido vai eventualmente ter alguma exposição ao bitcoin ou algo parecido, que é ouro ou algum tipo de commodity", disse Miller, acrescentando que acredita que a inflação está "voltando" devido à enorme emissão de dinheiro pelo banco central americano (Federal Reserve, ou Fed).
"A história do bitcoin é muito simples, é sobre oferta e demanda", disse Miller. "A oferta de bitcoin cresce cerca de 2,5% ao ano, e a demanda está crescendo mais rápido do que isso e haverá um número limitado deles", completou.
O apresentador da CNBC — canal de TV dos Estados Unidos — é um antigo detrator do bitcoin. Em 2018, pouco depois da então máxima histórica do ativo digital, disse que "o vento virou contra o bitcoin". Também disse algumas vezes nos últimos anos que o bitcoin iria "perder o fôlego", entre diversas outras críticas ao ativo digital.
As coisas começaram a mudar em setembro, quando foi convidado por Anthony Pompliano, famoso entusiasta dos criptoativos e fundador da Morgan Creek Digital Assets, para participar de seu podcast. Na entrevista, tratou o ativo digital como um investimento sérioe e disse que poderia "investir 1% de seu portfólio em bitcoin".
Desde então, deu outras declarações a favor do criptoativo e, na segunda semana de dezembro de 2020, publicou nas redes sociais que compraria um pouco de bitcoin quando o preço do ativo deu uma recuada para pouco mais de 17 mil dólares, logo depois de atingir o então recorde de próximo de 20 mil.
"Vou diversificar com bitcoin. Não é uma grande posição para mim, mas certamente é importante ser diversificado, e o bitcoin é um ativo e eu quero ter um equilíbrio de ativos", afirmou.