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Blockchain ajuda na inclusão financeira, mas não é "varinha mágica", diz executivo

Em entrevista à EXAME, Mike Brock, CEO da TBD, destaca potencial da tecnologia como "sistema de liquidação descentralizado para a internet"

Mike Brock é CEO da TBD (Lucas Jones/Web Summit Rio/Divulgação/Divulgação)
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 22 de abril de 2024 às 12h00.

A tecnologia blockchain tem potencial para aumentar a inclusão financeira ao redor do mundo, mas não é uma "varinha mágica" capaz de resolver o problema do dia para a noite. A visão foi compartilhada por Mike Brock, CEO da TBD, em entrevista à EXAME durante o Web Summit Rio 2024. A TBD faz parte da Block, grupo de empresas criado por Jack Dorsey , fundador do Twitter.

Brock explica que tem uma "visão com mais nuance sobre o tema" e busca evitar exageros. Para o executivo, o blockchain representa um "sistema de liquidações descentralizado para a internet" que não existia antes da sua criação. Uma das suas principais vantagens é a capacidade de dar acesso para milhares de pessoas às "maravilhas do ecossistema de meios de pagamentos".

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Maravilhas essas que "continuam inacessíveis para a maioria da população global". Ao mesmo tempo, Brock defende que essas pessoas "não querem saber de chaves e carteiras privadas", indicando que a tecnologia ainda precisa superar barreiras técnicas e de acessibilidade para efetivamente ser mais adotada e solucionar problemas no sistema financeiro atual.

"Existem pessoas que definitivamente estão dispostas a ter essa preocupação com chaves privadas, carteiras digitais, mas são uma minoria. Em um nível mais fundamental, o bitcoin representa um dinheiro de liberdade, é uma forma em que podemos navegar o risco político no mundo, e isso dá um certo valor para o ativo", comenta.

Mas, com um foco em inclusão financeira, o aspecto central passa a estar na acessibilidade, em especial nos aspectos de custódia, conversão de criptomoedas para moedas fiduciárias e a confiabilidade entre as partes envolvidos nas transações. Foi pensando nesse último aspecto que a TBD lançou o tbDex , que busca ser uma "camada de confiança" nas transações descentralizadas.

Lançado no Brasil na semana passada, o tbDex "surge para tentar resolver um desses desafios para que possamos tornar as coisas mais fáceis. O maior problema que as pessoanos tem é que qualquer pessoa pode ter acesso a esses sistemas, mas para a maioria isso não significa muita coisa, porque elas não querem vender e comprar em bitcoin. A adoção [de blockchain] ainda não é alta porque, para muitos, é algo que assusta", avalia Brock.

O executivo comenta que "existem limites para a aplicabilidade" da tecnologia blockchain, mas que ela é "muito interessante como uma base para a criação de dinheiro e ativos digitais, uma camada para liquidações finais". Já para se tornar uma "camada para a criação de novas soluções", ele defende que é preciso aumentar a "confiança social" no seu funcionamento.

Esse é o motivo da TBD apostar nas identidades digitais como forma de tornar as operações em blockchains "mais confiáveis". "Você pode ter várias vantagens na tecnologia, mas sem a confiança, não adianta. Ao ter uma camada de confiança, algo como bitcoin se torna muito mais interessante. É algo que facilita adoção, o uso para a criação de novos produtos e de casos de uso".

"Não acho que o blockchain mata as moedas fiduciárias, mas ele cria novas oportunidades de criação de mercado e de chegar a pessoas que ainda estão sendo ignoradas, excluídas pelo sistema financeiro. E consegue fazer tudo isso de forma mais barata. São mais oportunidades para formação de capital, criação de negócios, receber pagamentos", explica o CEO.

"O bitcoin é uma comodity digital e uma camada de liquidação ao mesmo tempo, é um marco científico interessante, mas temos que entender que existem muitas pessoas que acham ele vai matar tudo, que não vai ter mais bancos, dinheiro, bancos centrais. Isso não faz sentido. Mas, ao adicionarmos isso [blockchain e cripto] ao que temos hoje, é possível preencher alguns vazios que os sistemas tradicionais não conseguiram preencher", diz.

Brock defende ainda que "a coisa mais importante que pode fazer para qualquer indivíduo no planeta não é facilitar que receba um pagamento, é dar a capacidade de formação de capital.. A tecnologia blockchain não é meramente para envio de dinheiro, é importante, mas meu sonho é que ela no fim plante as sementes que resultem na formação de capital, um desenvolvimento dos países".

Nesse sentido, o CEO da TBD explica que a meta do grupo liderado por Jack Dorsey é "democratizar o acesso aos pagamentos como ocorreu na democratização da informação com a internet". Para ele, a tecnologia blockchain "cria soluções que antes não existiam para os problemas. Mas muitas pessoas do mundo cripto nem entendem esses problemas direito. Não é uma varinha mágica que você balança e resolve tudo. É uma solução que depende de vários fatores, mas o importante é começar esse movimento".

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