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Bitcoin não é infinito: o que é e como funciona a escassez programada

Digitais, criptomoedas não são infinitas e escassez programada pode ser elemento chave para valorização e potencial reserva de valor no futuro; entenda

Bitcoin, apesar de digital, tem sua escassez programada (Getty Images/Reprodução)

Bitcoin, apesar de digital, tem sua escassez programada (Getty Images/Reprodução)

Quando o assunto são os recursos naturais do planeta Terra, o ouro integra uma lista selecionada de minérios extremamente escassos e valiosos. Isso fez com que tenha se tornado uma verdadeira reserva de valor por milênios. No entanto, moedas digitais como o bitcoin pretendem reproduzir as características que tornaram o ouro tão valioso. E podem conseguir.

Digitais, mas não infinitas. As principais criptomoedas, possuem projetos extremamente detalhados quanto à sua programação para que possam cumprir o seu papel e atingir o objetivo de integrar uma nova economia digital. Através da tecnologia blockchain, a sua escassez digital é programada de diversas formas.

“A ideia é que através da tecnologia blockchain, é possível que você programe um token e se certifique que ele é único, ou que a sua oferta seja limitada”, explicou Lucas Osório, analista de ativos digitais na Mynt, plataforma de criptoativos do BTG Pactual.

No blockchain, circulam dois tipos de tokens: os fungíveis, como o bitcoin, e os não fungíveis (NFTs). Estes últimos, têm a sua autenticidade e escassez ainda mais garantidas e podem representar ativos digitais ou físicos.

“Os NFTs seriam como a Monalisa. Embora existam diversas réplicas do quadro, existe apenas um quadro original que pode ter a sua autenticidade atestada por um especialista”, explicou Lucas Osório.

Por outro lado, as criptomoedas são fungíveis, ou seja, podem ser substituídas por outra coisa de mesma espécie, qualidade, quantidade e valor. Cada bitcoin não é único, mas é escasso por ter uma oferta total limitada.

“O bitcoin é um token que tem iguais mas com o código sempre diferente. Foi programado em um sistema em que a emissão de bitcoin é pré-determinada e ninguém mais pode alterar isso, de forma que se torna uma alternativa de reserva de valor para o sistema financeiro mundial de hoje, com maior previsibilidade sobre a oferta futura de ativos”, disse Lucas Osório em entrevista à EXAME.

As facilidades propostas pelo bitcoin fora do sistema financeiro tradicional podem trazer benefícios para investidores que vivem em países com alto nível inflacionário. A segurança e a maior previsibilidade da oferta futura pode ser um atrativo nestes locais, como a Nigéria, que teve um forte movimento de compra de bitcoins.

“Estamos passando pelo olho do furacão no que se diz respeito ao aumento da oferta de moedas fiduciárias. Após um extenso período de expansão monetária, veio o Covid e acelerou a injeção monetária mundial a níveis exorbitantes. Hoje, vemos a consequência da expansão monetária no mundo todo, com a inflação afetando o poder de compra das pessoas e o aumento nas taxas de juros aumentando a possibilidade de uma recessão no futuro próximo”, justificou Lucas.

“A centralização do controle da oferta monetária na mão dos bancos centrais possibilita com que tenhamos uma ferramenta para lidar com adversidades econômicas. Porém, a falta de previsibilidade monetária que a dependência dos bancos centrais gera é um ponto de risco aos investidores, que se encontram hoje tentando prever os próximos movimentos dos juros para montar suas estratégias de alocação”, acrescentou.

O bitcoin possui uma oferta máxima de 21 milhões de unidades, das quais mais de 90% já foram “mineradas”. Além disso, a quantidade que é inserida na economia é cortada pela metade a cada quatro anos em um processo chamado “halving”.

Isso, segundo Osório, gera uma previsibilidade de qual vai ser a oferta do bitcoin em qualquer momento, independente de decisões de governos ou eventos adversos, como a pandemia de coronavírus. “O fato de ter um cronograma de oferta pré-determinado e imutável, garante aos detentores de bitcoin a previsibilidade sobre a oferta no curto, médio e longo prazo”.

(Mynt/Divulgação)

O bitcoin pode ser o ouro digital?

“Caso a tese de reserva de valor do bitcoin se consolide, a tendência é que vejamos o preço do bitcoin se tornando cada vez menos volátil. Juntando o amadurecimento do mercado com a oferta pré-determinada, o bitcoin vai se tornando cada vez mais um ativo digital que replica as características do ouro e, consequentemente, se torna cada vez mais uma alternativa de reserva de valor”, explicou. A inflação do bitcoin é de pouco mais de 1,7% ao ano.

“Desde o fim do lastro do dólar americano ao ouro, o Fed tem maior liberdade de expansão monetária. Porém, notamos no indicador de Warren Buffet, que mede a dívida/PIB, que os Estados Unidos têm emitido mais dívida do que produzem, especialmente após o início da pandemia em 2020. Em sequência, vemos a inflação no país batendo níveis não vistos há 40 anos. Consequentemente, a população sofre com seu poder de compra sendo deteriorado e começa um movimento de perda de confiança no dólar como reserva de valor mundial. O bitcoin então surge como uma alternativa a este sistema”, disse Osório.

“Por ter uma oferta pré-determinada, o bitcoin tem um nível inflacionário que pode ser totalmente antecipado pelo investidor, facilitando com que montem suas estratégias de alocação de capital levando em consideração a inflação presente e futura da reserva de valor mundial caso a tese do bitcoin se concretize, gerando assim maior segurança aos investidores”, acrescentou o especialista.

Fernando Pereira, gerente de conteúdo da BitGet, concorda que o bitcoin tem o potencial de se tornar o ouro digital no futuro, pois apesar de algumas limitações como a volatilidade, possui outras vantagens competitivas contra o metal precioso.

“O bitcoin possui as mesmas características da escassez do ouro, além de ser muito mais fácil de ser transportado, custodiado e transacionado. Isso me faz acreditar que ele pode sim ser o ouro digital em um futuro próximo. O principal problema hoje é a sua alta volatilidade, mas isso se dá pelo motivo de que ainda existe pouco dinheiro na moeda, comparado ao ouro, por exemplo. A tendência é que enquanto mais dinheiro seja alocado em um ativo, menos volátil ele fique”, disse, em entrevista à EXAME.

Outras criptomoedas são escassas?

Além do bitcoin, outras criptomoedas também podem ser escassas. Embora cada projeto possua suas características e funcionalidades, a maioria dos projetos mais consolidados no mercado tem uma oferta limitada ou um programa de queima para garantir a escassez e a segurança ao investidor.

“O próprio ether, criptomoeda nativa da rede Ethereum, é uma moeda escassa. Depois da atualização ‘The Merge’, ela se tornou ‘deflacionária’ e vai se tornar a cada ano mais escassa ainda por conta da redução na base monetária, o que deve impulsionar o preço para cima”, apontou Lucas Osório. Apenas no início de 2023, o preço do ether já subiu quase 30%.

Já para as stablecoins, criptomoedas de valor estável que podem acompanhar o preço de ativos escassos como o ouro, a lógica é um pouco diferente. A depender do ativo que acompanham, elas podem ou não ser escassas, mas sua escassez não será programada pelo código como no caso do bitcoin e do ether, por exemplo, e sim por conta do ativo que replicam.

Antes de investir em qualquer criptomoeda, no entanto, é necessário realizar pesquisas e entender detalhes sobre o projeto em questão para definir se a sua criptomoeda é, ou não, escassa e como isso pode impactar a performance de sua cotação.

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