Campeã e recordista no surfe feminino, Stephanie Gilmore pensou em desistir da temporada 2022
Australiana começou o ano perdendo etapa por causa de covid-19 e com maus resultados: “Me questionei se deveria continuar”, disse à EXAME
Gabriel Rubinsteinn
Publicado em 10 de setembro de 2022 às 09h07.
A australiana Stephanie Gilmore entrou para a história ao se sagrar campeã da Liga Mundial de Surfe (WSL) pela oitava vez em 2022, tornando-se a maior vencedora do esporte em todos os tempos. Mas por pouco a surfista não pôs tudo a perder: em entrevista exclusiva à EXAME, contou Steph contou que quase desistiu da disputa no início do ano.
A atleta começou a temporada de 2022 com problemas. Foi cortada da etapa de estreia, em Pipeline (HAV), após testar positivo para Covid-19. Depois, em Sunset (HAV), foi eliminada na primeira rodada. Assim, chegou à etapa de Margaret River precisando de um bom resultado para não ser cortada da competição, que a partir desta temporada elimina os atletas com piores colocações no ranking para o restante das disputas.
"Comecei muito mal, fiquei frustrada e até me perguntando se eu deveria continuar tentando neste ano, se valeria a pena o esforço. Fiquei na dúvida até se eu conseguiria sobreviver ao corte no meio da temporada, e acho que seria constrangedor se eu não conseguisse, nesta altura da minha carreira. Mas depois de passar pelo corte, consegui uma vitória em El Salvador que me deu confiança e me ajudou a chegar até aqui", contou, em conversa em Los Angeles (EUA), no dia seguinte à conquista.
Quem é Stephanie Gilmore?
Aos 34 anos, Stephanie Gilmore é uma das mais experientes atletas do circuito mundial de surfe , e não foi a primeira vez que ela pensou em abandonar o esporte: "Depois do título na temporada de 2018, eu achava que precisava de uma pausa, mas continuei no ano seguinte porque queria disputar as Olimpíadas. Em 2019, a temporada foi cancelada por causa da pandemia, e tivemos o ano inteiro de folga. De uma forma meio estranha, tive o descanso que eu estava procurando e com certeza isso aumentou a longevidade da minha carreira".
Com o título nesta temporada, conquistado ao derrotar a havaiana Carissa Moore na grande decisão do WSL Final, na praia de Trestles, em San Clemente, na Califórnia (EUA), Steph se isolou como a maior vencedora da história do surfe feminino - antes, estava empatada com a também australiana Layne Beachley.
LEIA TAMBÉM: Após garantir hexa no surfe, Filipe Toledo torce pelo 6º título no futebol e aponta rival para 2023
Novo formato da WSL ganha sobrevida
Historicamente, o campeão mundial de surfe era aquele atleta que terminasse o ano com a primeira colocação do ranking mundial, que soma todas as disputas ao longo do ano. Desde 2021, entretanto, o cenário mudou: agora, os cinco mais bem colocados do ranking disputam um evento final, e quem ganhar vence também a temporada.
O novo formato foi muito criticado pelos atletas quando foi anunciado, mas pode ter ganhado uma sobrevida com o triunfo de Stephanie Gilmore. "Depois de tudo que passei ao longo do ano, chegar à etapa decisiva, com chance de brigar pelo título... é o que faz desse novo formato algo interessante. Mas, claro, pode ser duro, pode ser bem difícil de aceitar, e com certeza foi assim para a Carissa", disse, citando a havaiana que liderou o ranking com folga ao longo da temporada, mas acabou derrotada na final.
Durante a cerimônia de premiação, Steph chegou a dizer que, para ela, Carissa era a verdadeira campeã da temporada. Por outro lado, também vê vantagens do novo formato: "Depois de um ano tão estranho, acabar com o título, isso pode motivar outras atletas também. Que não é necessário um ano perfeito para ser campeã".
A australiana também comentou que a conquista do oitavo título foi importante para sua carreira e explicou como a rivalidade com a havaiana, dona de cinco títulos mundiais, foi uma grande motivação para a conquista:
"Foi muito importante ganhar esse oitavo título. Meu lado competitivo queria muito isso. E essa vitória também impediu a Carissa de ganhar o sexto título, porque, na minha cabeça, se ela ganhasse o sexto, abriria caminho pra ela ganhar o sétimo, o oitavo e muitos mais, e ficar com o recorde. Tenho muita admiração por ela, é uma mulher muito forte, surfa muito bem, é uma atleta fenomenal. Isso foi uma motivação para mim".
LEIA TAMBÉM: Surfe para cães: conheça esse curioso torneio da Califórnia
Igualdade de gênero no surfe avança
Stephanie Gilmore sempre foi uma das principais porta-vozes no circuito mundial de surfe feminino quando o assunto é igualdade de gênero. O tema já avançou nos últimos anos, quando as premiações de homens e mulheres foram equiparadas, mas teve um novo capítulo em 2022.
Nesta temporada, as ondas de Pipeline (HAV) e Teahupo'o (Taiti), bastante tradicionais nas disputas masculinas, foram incluídas pela primeira vez no calendário também das mulheres.
"Pipeline e Teahupo'o são duas das mais intimidadoras e desafiadoras ondas do mundo. Mas pro esporte se desenvolver, para as mulheres evoluírem, precisamos performar nessas ondas nas competições. É isso que vai fazer mais mulheres surfar essas ondas, treinar nessas ondas", disse Gilmore.
Para a australiana, este é um passo importante da organizadora do campeonato mundial de surfe: "A WSL já entendeu que a igualdade de gênero vai além de equiparar premiações e afins, que é preciso equiparar também as competições. Foi incrível terem feito isso neste ano".
Em 2022, a WSL promoveu uma das temporadas mais curtas da história. Foi a primeira vez que a competição coroou seus campeões em setembro, e não em novembro ou dezembro: "Foi uma das temporadas mais curtas da história, mas pra mim foi uma das mais intensas", finalizou a campeã.