ESG

COP28: texto final do acordo sinaliza fim do petróleo e propõe triplicar energias renováveis

Negociações se estenderam além do previsto e resultado surpreende. Texto também aborda operacionalização do fundo de adaptação climática e transferência de recursos entre países ricos e pobres

A entrada da COP28, em Dubai: negociações se estenderam pela madrugada desta quarta-feira (Leandro Fonseca/Exame)

A entrada da COP28, em Dubai: negociações se estenderam pela madrugada desta quarta-feira (Leandro Fonseca/Exame)

Publicado em 13 de dezembro de 2023 às 06h18.

Dubai, Emirados Árabes Unidos

Uma linha vital para o clima, mas não uma solução definitiva. Foi assim que Simon Stiell, secretário-executivo da ONU para Mudanças Climáticas, classificou o texto final do acordo estabelecido na 28ª Conferência do Clima da ONU, encerrada nesta quarta-feira, em Dubai, Emirados Árabes. O documento cita o fim do uso dos combustíveis fósseis, uma vitória parcial dos ambientalistas, propõe triplicar a geração de energias renováveis em dois anos e aborda a necessidade de operacionalizar o fundo de adaptação climática, instrumento para transferência de recursos financeiros entre países ricos e pobres, uma promessa há quase uma década que nunca saiu do papel.

As reações ao texto foram positivas, incialmente. “Vencemos o impossível fim dos combustíveis fósseis - uma vitória retumbante sobre a diplomacia do óleo e do gás, que predominou nos últimos 30 anos”, disse Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, organização civil independente com sede no Rio de Janeiro. “O GST (Global Stocktake, balanço global de emissões que era o objetivo principal da COP28) convoca os governos a seguirem um calendário claro e alinhado de transição dos combustíveis fósseis, que terá de se integrar ao cronograma da transição das economias para zero emissões líquidas até 2050”. Para Unterstell, países que apostam na expansão da produção de petróleo terão de rever seus planos.

Em relação ao Brasil, as cobranças por uma liderança mais efetiva, visando a COP30, em 2025, que será realizada em Belém, já começaram. “Esse resultado da COP28, forte em sinais, mas fraco em substância, significa que o governo brasileiro precisa assumir a liderança até 2024 e estabelecer as bases para um acordo da COP30 em Belém que atenda às comunidades mais pobres e vulneráveis do mundo e à natureza”, afirmou Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, ONG que promove a ciência climática. “Ele (o Brasil) pode começar cancelando sua promessa de se juntar à OPEP, o grupo que tentou e não conseguiu destruir essa cúpula.”

Negociações madrugada adentro

As negociações entre as delegações dos países seguiram na noite desta terça-feira, 12, e na madrugada de quarta-feira, 13. Membros da delegação brasileira disseram à EXAME estar otimistas sobre as negociações enquanto caminhavam em direção ao pavilhão do Brasil na COP28 entre uma reunião e outra. "Está saindo", disse genericamente um integrante da comitiva em referência ao texto.

O último dia da COP28 foi marcado por espera. Diversas entrevistas coletivas de países e blocos foram desmarcadas, a exemplo da União Europeia, do Brasil e do Secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry. A conferência foi tomada por pessimismo após a divulgação de um rascunho do texto final na segunda-feira, 11, que não citava a eliminação gradual (phase out, em inglês) do uso de combustíveis fósseis. A inclusão da saída dos combustíveis fósseis, no final, foi uma vitória dos ambientalistas.

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