Feira Preta lança novo modelo de negócio e mira expansão internacional da economia preta
Adriana Barbosa apontou como rebranding do antigo Preta Hub busca reformular atuação da empresa, que precisou se adaptar ao novo cenário de reconhecimento racial no Brasil
Repórter de ESG
Publicado em 17 de dezembro de 2024 às 17h05.
Nas últimas décadas, o Brasil experimentou uma transformação significativa no reconhecimento racial. O Censo do IBGE revela essa mudança: em 2000, apenas6,2% da população se considerava preta, enquanto 38,5% se autodeclarava parda. Duas décadas depois, em 2022, essa realidade se alterou, com10,2% de pretose 45,3% de pardos, o que representa uma mudança na percepção da sua identidade racial.
É nesse contexto de renovação e empoderamento que Adriana Barbosa, diretora-executiva do Preta Hub, decide reimaginar o projeto. O ecossistema de valorização da economia negra foi criado em 2002 para resolver problemas comuns entre os empreendedores negros da economia criativa.
Ao longo dos anos, o Preta Hub se consolidou a partir da tecnologia social que uniu o trabalho nas áreas de inteligência de dados, capacitação e investimento no afroempreendedorismo.
"O que foi construído há 20 anos precisa ser compatível com hoje", afirma. Nesta semana, a empreendedora anunciou um novo modelo de negócios, que inclui até mesmo a reformulação do nome.Agora, toda a marca passa a se chamar Feira Preta. Além disso, uma nova logotipo e slogan -- Pertencer é Poder -- acompanham a fase. Os novos planos ainda incluem a internacionalização e a expansão da atuaçãopara novos países e continentes.
Barbosa explica que o objetivo éintegrar os países da diáspora africanaem um mesmo objetivo: a promoção de uma economia negra. Por isso, a Feira Preta agora dialoga com países africanos como África do Sul, Burkina Faso e negocia formas de atuar na Nigéria. “Estamos olhando a diáspora como uma sexta região do Brasil, exemplo da dimensão da influência africana no mundo”, explica.
Além dessas nações, locais na América do Sul e Latina também já estão sob a nova ótica de trabalho da empresa, como Peru, Colômbia, Panamá e Argentina. Em outubro, a Feira Preta lançou uma pesquisa sobre o perfil doafroempreendedor nesses países, unindo a área de dados para entender a realidade econômica dos locais. “O que acontece agora éresultado de duas décadas de trabalho no Brasil. Miramos para o futuro sem deixar de olhar para o que foi construído no passado”, conta.
Rebranding e expansão
Para Adriana, o próximo passo é alcançar a Europa e Estados Unidos. “Esse é o nosso norte, nossa missão e visão para os próximos anos. Há 20 anos, ajudamos a construir mercado onde negros pudessem se reconhecer”, explica. Segundo a diretora, a população negra no Brasil passou a consumir de forma mais política, como em um movimento: “se não me vejo, não compro”.
Hoje, a forma de atuação da Feira Preta é replicada em outros lugares do Brasil, unindo a economia criativa e negócios de impacto com a valorização do trabalho negro. “O que queremos é levar a experiência positiva que tivemos aqui para outros países da América Latina, onde o reconhecimento racial não andou como aqui”, explica.
Em 2024, a Feira Preta realizou 17 edições do Afrolab, programas decapacitaçãoe apoio a empreendedores negros de áreas criativas no Brasil, América Latina e Estados Unidos. Ao todo, 542 pessoas participaram dos projetos, que contaram com mais deR$ 150 milinvestidos.
O Festival Feira Preta, que celebra a cultura negra, contou com mais de 60 mil participantes presenciais e outros 5 mil no digital. As vendas de produtos e serviços arrecadaramR$ 1,5 milhõespara empreendedores negros e indígenas. “Consumo é renda, empregabilidade e economia. Acreditamos nisso”, conta Barbosa.