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Esta será a COP mais importante desde o Acordo de Paris, afirma Majid Al Suwaidi, diretor da COP28

Em entrevista exclusiva à EXAME, Majid Al Suwaidi, diretor da COP28, explica os planos para o evento, a importância do Brasil nas negociações de mudanças climáticas e comenta a polêmica de ter um executivo da petrolífera Adnoc na presidência

Majid Al Suwaidi, diretor da COP28 (Presley Ann/Getty Images)
Marina Filippe

Repórter de ESG

Publicado em 9 de agosto de 2023 às 09h22.

Última atualização em 9 de agosto de 2023 às 09h29.

Enquanto o Brasil sedia a Cúpula da Amazônia , em Belém, lideranças da Organização das Nações Unidas (ONU) focam nos preparativos para a COP28, a Conferência das Partes para as Mudanças Climáticas, que neste ano ocorre em Dubai, em novembro. Para Majid Al Suwaidi, diretor da COP28, essa será a conferência mais importante desde o Acordo de Paris, tratado adotado em 2015. "Estamos de olho no Global Stocktake, um balanço global para lidar com as mudanças climáticas de maneira mais profunda. Depois de oito anos, não podemos ainda dizer que estamos totalmente nos trilhos para o cumprimento das metas por conta de lacunas. Precisamos, nesta COP, acelerar a mudança para evitar os desastres do aquecimento global", afirmou em entrevista exclusiva à EXAME.

De acordo com Al Suwaidi, são quatro os temas que nortearão as negociações dos países: transição energética, finanças, mitigação das desigualdades sociais e adaptação. "Estes são os temas essenciais para garantimos um futuro limpo e sustentável". Além disto, há otimismo do diretor em relação à participação do Brasil. "As reuniões com o presidente Lula tem sido boas e o Brasil é um importante país nas negociações para o futuro sustentável que queremos".

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Na entrevista, Al Suwaidi também aponta a importância da inclusão de todas as pessoas, da população indgena aos CEOs de companhias, e reafirma sua visão de que não há conflito no fato de presidente da COP28, o sultão Ahmed Al Jaber, ser presidente da Adnoc, uma estatal de óleo e gás. Confira a entrevista completa:

Como o senhor está olhando para a Cúpula da Amazônia, que acontece neste momento no Brasil?

O Brasil é um parceiro importante para a COP, e pretende ser o anfitrião da 30ª edição, em 2025. Temos pessoas da nossa delegação no Brasil e há um engajamento do país com as nossas ações. Inclusive, tenho tido algumas reuniões com o presidente Lula e tem sido bom como ele nos apoia ao, por exemplo, visitar os Emirados Árabes Unidos, em abril, e pelo interesse nos temas das mudanças climáticas.

Apesar de não ter vindo à Cupúla da Amazônia, o senhor esteve no Brasil há alguns meses, certo?

Sim, estive em junho, quando tive a oportunidade de participar de, por exemplo, um evento na Universidade de Brasília para também engajar os jovens na importância da COP. Desta vez, não estou no País por conta de outras agendas, mas já o visitei algumas vezes.

O senhor afirmou recentemente que esta é a COP mais importante desde o Acordo de Paris, em 2015. Por quê?

Esta COP é muito importante por conta do Global Stocktake, o inventário para lidar com as mudanças climáticas de maneira mais profunda, com foco em melhores soluções para o futuro a partir das metas do Acordo de Paris. Então, o que estamos dizendo é que temos apenas sete anos até 2030, ano em que muitas das metas de mitigação de problemas deve ocorrer.

Estamos olhando para o que realmente precisamos fazer e, considerando que sabemos dos problemas. Por exemplo, temos urgência para passar de uma mudança incremental para uma mudança transformacional, a fim de reduzir as emissões globais de GEE em cerca de 43% abaixo dos níveis de 2019. E isto não é trivial, vemos os impactos das mudanças climáticas em todo o mundo, com muitos casos de inundações, incêncios, ondas de calor, entre outros.

Depois de oito anos, não podemos ainda dizer que estamos totalmente nos trilhos porque temos lacunas. Precisamos, nesta COP, acelerar a mudança para cumprir as metas do Acordo e evitarmos os desastres do aquecimento global. Para isto, necessitamos de clareza e determinação política e que as promessas se tornem ações.

Como a COP28 colocará em prática os acordos necessários para a mitigação das mudanças climáticas?

Temos quatro pilares principais para isto. O primeiro é a rapidez na transição enérgica, visto que precisamos construir um mapa da energia limpa e eficiente, e em seguida construir um sistema energético de baixo carbono, além de descarbonizar o que já temos o mais rápido possível.

Precisamos também ajustar os termos de finanças. Quando olhamos os problemas, há o fato de que os países ricos não cumpriram com a destinação dos 100 bilhões de dólares prometidos aos países em desenvolvimento para a mitigração dos problemas causados pelas mudanças climáticas.

Fizemos alguns avanços neste sentido, como com doações relevantes do Canadá e da Alemanha -- a Alemanha anunciou a doação de 1 bilhão de reais para as ações de preservação ambiental no Brasil, por exemplo. Mas, é preciso garantir mais mobilização e confiança nos processos de finanças.

A verdade é que não precisamos apenas dos 100 bilhões mencionados, mas sim de trilhões de  dólares para a real transformação do mundo. Para isto, pensando em como mobilizar bancos e empresas de financiamento em projetos que, por exemplo, garanta um futuro com energia limpa ou um sistema de alimentação sustentável no mundo.

Tudo isto está diretamente relacionado ao tema de adaptação. Estamos falando da vida das pessoas e de como esses financiamentos oferecem mudanças para, por exemplo, a saúde. Teremos painés sobre como ter um sistema alimentar mais eficiente, como ter indústrias com menos emissões de carbono, como proteger as florestas e outros recursos naturais. Isto é adaptação.

O último ponto, e não menos importante, é inclusão. Queremos colocar todas as pessoas na conversa e incluir a sociedade civil, ONGs, grupos de juventude, indígenas, entre outros. Eu realmente acredito na importância dessas pessoas para garatirmos que estamos fazendo a coisa certa.

Quais as expectativas do senhor em relação aos países com recursos naturais abundantes, como o Brasil?

Sabemos que o Brasil está nos suportando para a COP28 e disposto a trabalhar junto com outros países. Porém, também é preciso entender que países como o Brasil precisam superar problemas internos, como a erradicação da pobreza e o desemprego. E esses temas estão ligados às mudanças climáticas ao criar um futuro sustentável, como novos empregos e oportunidades.

Nosso foco é garantir que conseguimos proteger o meio ambiente e criar oportunidades socioeconômicas ao mesmo tempo em que não podemos ter um aquecimento do planeta maior do que 1,5ºC, como nos mostram os estudos.

O senhor afirmou anteriormente que não há conflito entre ser o chefe de uma pertolífera e o presidente da COP28, como é o caso do sultão Ahmed Al Jaber. Por quê?

Não há conflito de forma alguma. Ele tem experiência em projetos de mudanças climáticas, conhece o trabalho das COPs e foi escolhido pelas lideranças pela importância do tema da descarbonização.  Reconhecemos que uma nova realidade está vindo e que precisamos criar oportunidades para os povos.

Além disto, a Adnoc é uma empresa estatal, que está desenvolvendo o país com novas alternativas. Hoje o comércio de não-petrolíferos nos Emirados Árabes Unidos representa 17% da economia. Isto é um exemplo de transformação para o futuro que queremos, com uma transição energética competitiva, investidores interessados, e indústrias que não ficam para trás.

Sendo a primeira vez que um CEO lidera a COP, quais são os esforços para engajar mais as empresas?

Há muito tempo as negociações focam nos textos dos países e nos perguntamos como engajar o setor privado. Penso que, de algum modo, parece que as empresas não foram convidadas para a conversa de forma apropriada, mas queremos que elas estejam mais envolvidas, assim como a sociedade civil.

Precisamos de CEOs e pessoas técnicas para conhecermos outras soluções e pensarmos em caminhos para atingirmos as metas que contribuem com a descarbonização, mitigação do aquecimento global e outros desafios climáticos. Esta é uma COP para resultados e as empresas fazem parte disto.

No ano passado, problemas estruturais fizeram parte da COP no Egito, como o cancelamento dos hotéis dos participantes e a baixa oferta de alimentos e água dentro do evento. Como estão se preparando para a próxima edição?

Depois de 27 COPs sabemos onde estão os desafios. Dubai, contudo, é uma cidade preparada para grandes eventos. Realizamos a Expo com muito sucesso e na COP não será diferente. Estamos estudando como estruturar o espaço físico de forma a aproximar as pessoas. Por exemplo, a blue zone e a green zone devem ser próximas, sem que haja a necessidade de pegar ônibus para o deslocamento como ocorreu nas últimas edições.

Também teremos muitos ônibus para as pessoas se deslocarem pela cidade, teremos hotéis próximos, e disponibilizamos no site da UNFCC uma página na qual as pessoas podem encontrar por boas acomendações. Olhamos também para mais opções de comida, incluindo cardápios veganos e vegetarianos. Queremos deixar as pessoas confortáveis e confiantes com o que estamos fazendo e falando.

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