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Entre os dias 1º e 25 de março de 2020, quando foi implementada a quarentena em todo o país, houve um crescimento de 18% no número de denúncias desses casos (Carol Yepes/Getty Images)
Repórter de ESG
Publicado em 9 de dezembro de 2024 às 18h08.
Última atualização em 9 de dezembro de 2024 às 19h19.
Durante a pandemia, com o isolamento social e a restrição da circulação, a violência contra a mulher sofreu um aumento expressivo. Isso ocorreu porque, com o fechamento das empresas e estabelecimentos, muitas mulheres precisaram conviver durante todo o dia com seus agressores, sejam namorados, sejam maridos, sejam pais ou outros parentes.
Além disso, as Delegacias da Mulher, focadas no atendimento das necessidades e violências contra elas, também estavam fechadas, sem poder atuar para prevenir o ferimento dos direitos. Apenas em 2020, 17 milhões de mulheres sofreram com algum tipo de violência, seja física, seja psicológica ou sexual, de acordo com o Fórum Brasil de Segurança Pública.
As denúncias também tiveram alta, segundo a Ouvidora Nacional dos Direitos Humanos. Entre os dias 1º e 25 de março de 2020, quando foi implementada a quarentena em todo o país, houve um crescimento de 18% no número de denúncias desses casos no Disque 100 (canal de denúncia sobre violações de direitos humanos) e no Ligue 180 (sobre violência doméstica e familiar contra a mulher).
Foi nesse cenário que o Instituto Avon – agora parte do Instituto Natura, após a fusão das empresas de beleza que se iniciou em 2020 – criou a Ângela, uma assistente virtual via WhatsApp, com o objetivo de orientar mulheres sobre seus direitos de forma discreta.
Quatro anos após sua criação, a Ângela alcança seu pico em 2024, com mais de 10 mil acessos neste ano. Ao todo, 377 mulheres foram acompanhadas pelo atendimento multidisciplinar. A iniciativa também conta com a participação das Consultoras de Beleza Natura e Avon, as revendedoras responsáveis pela distribuição dos produtos pelas cidades brasileiras. No total, 142 consultoras passaram pelo atendimento com a Ângela, enquanto no último ano foram 119.
No ar desde 2020, a Ângela já ajudou mais de 700 mulheres que passavam por violências domésticas a conseguir atendimento qualificado e sigiloso. A alta deste ano, de quase 233% na comparação com 2023 – que teve quase 3 mil acessos – não significa necessariamente um aumento na violência contra a mulher, explica Daniela.
Daniela Grelin, diretora-executiva de Direitos e Saúde das Mulheres e Comunicação Institucional do Instituto Natura, conversou com exclusividade com a EXAME sobre como o sistema segue atual e presente na vida de diferentes mulheres. A diretora explica que a Ângela foi formulada com uma série de serviços que podem ajudar tanto a mulher que passa por uma situação emergencial – como depois de ser agredida e estar ferida – quanto à mulher que tem dúvidas sobre se sofreu uma violência dentro do seu relacionamento.
“Ela é um chat no WhatsApp com o nome de uma mulher, uma forma mais discreta do que um botão de emergência, por exemplo, facilitando que esta mulher que passou por uma agressão peça ajuda e acesse a sua rede de proteção”, explica.
Uma das primeiras ações elaboradas foi uma parceria com o aplicativo de transporte Uber para a distribuição de vouchers. Dessa forma, em caso de emergência, a mulher pode solicitar uma corrida até a delegacia da mulher mais próxima, onde toma as medidas necessárias para se proteger do agressor.
Garantir o transporte não era suficiente para a segurança delas, aponta Grelin. “Só 7% das cidades no Brasil contam com uma delegacia especializada no direito da mulher e só 2,4% possuem abrigos para vítimas de violência doméstica. A Ângela precisava não só oferecer a ajuda imediata, mas da informação”, explica.
O chatbot passou a contar também com atendimento humano, focado na assistente psicológica, jurídica e social, buscando conectar a mulher com as políticas públicas necessárias para que ela saia dessa situação. “Nem sempre a mulher está pronta para denunciar seu agressor: há todo um processo de entender que o que viveu é uma violência, de se priorizar e entender seus direitos, como a guarda dos filhos e ao pedir a medida protetiva”, conta.
“Um acesso não significa uma denúncia. Muitas mulheres acessam porque disponibilizamos praticamente um ‘curso’ sobre diagnóstico de violências de forma muito prática, pelo WhatsApp”, conta. Algumas mulheres utilizam o chatbot para tirar suas dúvidas sobre o que estão vivendo, outras registram o número para caso tenham a necessidade, e outras solicitam todo o acompanhamento para poderem denunciar as violências que viveram.
Grelin ainda explica que um dos benefícios do programa é conectar a mulher com toda a rede de saúde pública focada em suas necessidades, mesmo que, na maior parte das violências, muitos só se lembrem das Delegacias da Mulher.
A Ângela lidera como “embaixadora” as iniciativas dos 16 Dias de Ativismo, campanha pelo enfrentamento à violência contra mulheres e meninas. De 25 de novembro, Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, a 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos, o Instituto Natura produz conteúdos sobre o enfrentamento às violências domésticas.
Para Grelin, a ação ajuda a conscientizar sobre os efeitos negativos – que vão muito além das mulheres. “Queremos debater que a violência contra mulheres e meninas é um problema de todos. Isso rouba a liberdade, a segurança e a paz das famílias, deixa órfãos de feminicídio, prejudica a performance profissional dela e escolar dos filhos. Até mesmo empresas e serviços públicos são afetados”, explica.