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Indígenas no SDGs in Brazil, na ONU (Leandro Fonseca/Exame)
Redação Exame
Publicado em 29 de outubro de 2023 às 08h20.
Última atualização em 30 de outubro de 2023 às 16h11.
Por Maria Emília Peres*
Inúmeras transformações moldaram a trajetória da humanidade. A Revolução Industrial inaugurou uma era de progresso movida a vapor e maquinaria e, depois, acelerada pelo advento do refino do petróleo, o que impulsionou a sociedade para o uso da energia fóssil. O desenvolvimento de novas tecnologias conectou países e pessoas, transformando as formas de viver e de trabalhar. Agora, é hora de uma nova revolução - a do clima. É um momento crucial na história, em que a prioridade é sustentar e preservar o nosso planeta.
Esse foi o foco de eventos que ocorreram em Nova Iorque nas últimas semanas: em escala global, a Climate Week NYC, e, com foco no Brasil, a 2ª edição do Brazil Climate Summit e o SDGs in Brazil, da rede brasileira do Pacto Global da ONU – todos simultâneos à 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas. Nesses debates climáticos, que contaram com a presença da Deloitte – organização com o portfólio de serviços profissionais mais diversificado do mundo, – e da AYA Earth Partners - maior ecossistema de negócios de aceleração da economia de baixo carbono do país – o Brasil foi chamado a assumir um papel de liderança em mais esta transformação.
Com biodiversidade vasta e recursos naturais abundantes, nosso país está posicionado para ser líder dessa revolução. Os painéis do Brazil Climate Summit reforçaram a capacidade do Brasil de produção de energia limpa, como eólica e solar – capazes de suportar, por sua vez, o hidrogênio verde.
Além disso, segundo dados do Fórum Econômico Mundial, cerca de US$ 44 trilhões, ou 50% do PIB global, é moderado ou altamente depende de recursos naturais. É uma ótima notícia, portanto, que o Brasil possua 20% das espécies da Terra, 12% das reservas de água doce e 40% do PIB (Produto Interno Bruto) ligado ao agronegócio.
O mercado de carbono no Brasil já atrai interesse e participação. Segundo dados prévios de estudo sobre finanças sustentáveis realizado pela Deloitte para a AYA Earth Partners, e lançados em evento próprio também simultâneo à Climate Summit em Nova Iorque, 20% dos executivos ouvidos no país já utilizam mecanismos de compensação voluntária de emissão de carbono, enquanto outros 18% estudam sua utilização.
Há, obviamente, obstáculos para a ampliação dessas porcentagens: falta de regulamentação, precariedade da infraestrutura amazônica e custos elevados de projetos de reflorestamento são alguns deles. Não à toa, um dos painéis promovidos no evento destacou os processos produtivos de empresas de setores difíceis de descarbonizar, que têm incluído soluções para alcançar metas de baixo carbono.
Quanto ao hidrogênio verde, chama a atenção a necessidade de contemplá-lo em portifólios de energia. Isso também é corroborado pelo estudo “Perspectivas globais para o hidrogênio verde 2023”, da Deloitte, que aponta a expectativa de a cadeia de comercialização do hidrogênio verde superar a de gás natural líquido até 2030 e gerar um mercado global de US$ 1,4 trilhão anual até 2050.
Os desafios nesse caminho também são grandiosos. No Brasil, um país em desenvolvimento, o custo do capital se torna maior para financiar e viabilizar operações de grande porte. E aí, o questionamento é: como mitigar riscos e ampliar o conhecimento sobre a implementação desta tecnologia? Uma solução passa pela necessidade de regulamentação de políticas públicas.
Como apontaram os painelistas presentes no evento, atrair investidores e incluir startups das áreas de tecnologia, energia, logística e agronegócios nessa cadeia será essencial para ganhar escala e aproveitar o potencial atual. Para isso, além da busca pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), é preciso propor uma lógica viável de negociação, capaz de criar empregos, combater a ilegalidade da atividade de extração de recursos da floresta e formalizar um pacto nacional e global em prol da sustentabilidade.
Mesmo entre tecnologia de ponta e cruzamentos infinitos de dados e estatísticas, é o comportamento humano que está no cerne das discussões sobre o futuro do planeta. O evento SDGs in Brazil, realizado na sede da ONU, mostrou a importância de conectar pessoas à conscientização e à sensibilização sobre o tema.
Os painéis reuniram lideranças com propósito de transformar o mundo, destacando a valorização dos povos originários e um olhar para o futuro a longo prazo. Eliot Michenberg, diretor da UNESCO em Nova Iorque e presente no evento, citou a importância da preservação da cultura indígena brasileira para garantir que a história e o conhecimento de biodiversidade e clima desses grupos não sejam perdidos.
A assistente do Secretário-Geral e CEO do Pacto Global, Sanda Ojiambo, fez um chamado ao setor privado, reforçando a importância de endereçar os ODSs e cooperar com os esforços mundiais. O evento também contou com a fala de Amy Webb, futurista americana, autora e fundadora e CEO do Future Today Institute, que tratou do imediatismo que traz resultados de curto prazo, mas não gera boas decisões para o longo prazo, o que atrapalha o objetivo principal da preservação do meio ambiente como um todo.
Uma das palestras mais impactantes foi a de John Elkington, acadêmico e um dos precursores da responsabilidade social e ambiental nas grandes empresas, conhecido como o criador do termo “tripé da sustentabilidade”. Elkington trouxe um olhar positivo sobre a evolução dos conceitos de ESG, mas destacou que essas medidas ainda não estão sendo suficientes – é essencial, primeiro, compreender o impacto efetivo da falta de comprometimento com a sustentabilidade.
Ação coletiva e colaboração são essenciais para impulsionar a revolução do clima. Inovações tecnológicas, políticas governamentais progressivas e investimentos estratégicos, por sua vez, são fundamentais para alcançar uma economia de baixo carbono e promover o desenvolvimento sustentável.
É um chamado para o setor privado, o governo e a sociedade civil trabalharem juntos em prol de um futuro verde e próspero. O Brasil tem a chance de liderar essa revolução, demonstrando ao mundo que é possível alcançar um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a preservação do nosso planeta.
*Maria Emília Peres é líder de Clima, Sustentabilidade & Equidade da Deloitte