ESG

NYT: ativistas cobram transição verde mais rápida na Shell

Para alguns, apesar de dar passos rumo à redução de emissões, petroleira está atrás de alguns rivais do setor

Poppy Mills, diretora comercial da Ubitricity para a Grã-Bretanha: aquisição da Ubitricity é um exemplo dos passos da Royal Dutch Shell em direção a operações mais verdes. (Andrew Testa/The New York Times)

Poppy Mills, diretora comercial da Ubitricity para a Grã-Bretanha: aquisição da Ubitricity é um exemplo dos passos da Royal Dutch Shell em direção a operações mais verdes. (Andrew Testa/The New York Times)

NY

New York Times

Publicado em 30 de junho de 2021 às 09h00.

Última atualização em 30 de junho de 2021 às 11h09.

Em uma clareira ao lado de uma fazenda, 40 grandes caixas retangulares do tamanho de contêineres estavam protegidas por uma cerca alta. Dentro delas, havia pilhas de células de íons de lítio e outros equipamentos elétricos.

Conectadas, essas unidades formarão a maior bateria da Europa, segundo os operadores, capaz de enviar grandes quantidades de eletricidade para compensar as flutuações na rede elétrica quando ventos fracos ou o céu nublado retardam a geração de eletricidade renovável. À medida que mais energia vier do vento e da luz solar, a necessidade de baterias gigantes vai crescer.

Uma das empresas por trás desse projeto de 40 milhões de libras (cerca de US$ 56 milhões) é a Royal Dutch Shell. Como outras gigantes petrolíferas, a Shell está sob pressão para se afastar dos combustíveis fósseis que prejudicam o clima, e está se reformulando como mais uma empresa de energia renovável, procurando investimentos em seu caminho rumo a um novo futuro.

A incursão da Shell no interior da Inglaterra, em Minety, cerca de 145 quilômetros a oeste de Londres, dá uma ideia desse futuro. Mas, para uma empresa mais acostumada a plataformas de petróleo offshore e à produção de gás natural, a bateria gigante é parte do que alguns críticos veem como uma reviravolta tortuosa que, dizem, precisa ser acelerada para ter um impacto real sobre os fatores que causam as mudanças climáticas.

Uma subsidiária da Shell chamada Limejump é a responsável pela bateria – ela gerencia muitos desses dispositivos – e compartilhará as receitas com a venda da energia armazenada em um acordo com dois investidores chineses.

A Limejump é o tipo de negócio que atualmente chama a atenção dos executivos da Shell. Com 80 engenheiros de software, vendedores e analistas, a companhia compra eletricidade de 675 parques eólicos, instalações solares e outros geradores principalmente renováveis espalhados pela Grã-Bretanha, e a vende para empresas que querem que sua energia seja verde.

A empresa, que a Shell adquiriu há dois anos, é um investimento, entre dezenas, que esta fez na área de energia limpa. Outro é a Sonnen, produtora alemã de baterias que monta as próprias redes de energia para desafiar grandes fornecedoras. A Shell também está construindo um negócio de carregamento de veículos elétricos em todo o mundo e alimentando estações de abastecimento de hidrogênio na Califórnia.

Ben van Beurden, executivo-chefe da Shell, tem falado da necessidade de reduzir as emissões desde 2017. Na visão de alguns, porém, a empresa é muito lenta. Seus investimentos em energia limpa desde 2016 somam US$ 3,2 bilhões, enquanto cerca de US$ 84 bilhões foram gastos em exploração e desenvolvimento de petróleo e gás, de acordo com estimativas da empresa de pesquisa Bernstein.

"Você não pode alegar que está em transição quando investe só uma porcentagem pequena do capital em novos negócios", disse Mark van Baal, fundador do Follow This, grupo ativista de investidores holandeses.

Todas as grandes companhias petrolíferas, especialmente na Europa, compartilham um dilema semelhante. Seus líderes veem que a demanda por produtos petrolíferos provavelmente desaparecerá e que sua indústria enfrenta uma desaprovação crescente, especialmente na Europa, devido a seu papel nas mudanças climáticas. A Shell é responsável por cerca de três por cento das emissões globais, principalmente a partir da gasolina e de outros produtos usados por seus clientes.

No entanto, a Shell e outras empresas ainda lucram com combustíveis fósseis, e são naturalmente cautelosas em perder a maior parte de seus vastos ativos de petróleo, gás e petroquímicos – no valor de cerca de US$ 180 bilhões no caso da Shell, de acordo com a Bernstein –, especialmente porque se prevê que o consumo de petróleo deve continuar durante anos, fato sublinhado pelo aumento dos preços neste ano.

Em um artigo recente no LinkedIn, van Beurden escreveu que "não ajudaria nem um pouco o mundo" se a Shell parasse de vender gasolina e diesel hoje: "As pessoas encheriam o tanque do carro e do caminhão de entrega em outros postos de serviço."

A Shell também parece estar em um jogo mais longo e cauteloso do que alguns rivais, como a BP, que estão investindo muito dinheiro em projetos de energia renovável. Seus executivos dão a impressão de estar céticos quanto ao potencial de lucro da construção e da operação de ativos de geração renovável, como parques eólicos.

Outra petroleira a acreditar no futuro verde é a BP. No podcast ESG de A a Z, o presidente da companhia no Brasil explicou por que a empresa aposta no futuro das renováveis. Ouça:

"É uma estratégia muito mais multifacetada do que acho que as pessoas necessariamente anteciparam", afirmou Adam Matthews, diretor de engajamento e ética do Conselho de Pensões da Igreja da Inglaterra, que trabalhou em estreita colaboração com a Shell nas metas para reduzir suas emissões.

Os executivos da Shell declaram que querem apostar em tecnologias e empresas que possam evoluir e se tornar peças-chave no sistema de energia limpa que está surgindo. Querem não apenas produzir esse tipo de energia, mas ganhar dinheiro fornecendo-a para empresas como a Amazon e clientes de varejo mediante grandes contratos personalizados, ou pontos de carregamento de veículos elétricos próprios. Os números dos investimentos aumentarão, segundo eles, para até US$ 3 bilhões por ano, de um total de cerca de US$ 20 bilhões de despesas anuais. "Estamos pensando no futuro; para onde vai o futuro?", disse Elisabeth Brinton, vice-presidente executiva de soluções de energia e energias renováveis da Shell.

A pressão pela mudança sobre a Shell pode aumentar. Em 26 de maio, um tribunal holandês abalou a empresa ao ordenar que ela acelerasse seus planos de redução de emissões. Van Beurden respondeu declarando que a Shell provavelmente aceleraria seus esforços para reduzir o carbono, mas também comentou que esperava fornecer produtos de petróleo e gás "por muito tempo". Uma razão: garantir recursos financeiros para investir em energia de baixo carbono.

Seus executivos, no entanto, parecem à vontade para investir em novas áreas quando acham o caso convincente. Este ano, a Shell comprou a Ubitricity, que instala pontos de carregamento de veículos elétricos em postes de luz e outras estruturas em Londres e outras cidades.

Poppy Mills, que trabalhou na Shell e agora atua como diretora comercial da Ubitricity para a Grã-Bretanha, disse que, embora a economia de tais negócios fosse "desafiadora", a Shell havia comprado a empresa para alcançar a grande porcentagem de moradores da cidade que deixa o carro na rua e não tem acesso a um carregador. "Era uma lacuna em nosso portfólio, não ter uma rede nas ruas."

Essa parece ser a abordagem provável para impulsionar o crescimento da energia limpa na Shell e em outras companhias petrolíferas. "São empresas minúsculas no esquema geral das coisas, mas são também um segmento que cresce muito depressa", observou Stuart Joyner, da firma de pesquisa Redburn.

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