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Amazon cria IA para gerenciar uso de água em plantações ao redor do rio Tietê

Projeto faz parte da iniciativa de gerenciamento de recursos hídricos da Amazon Web Services, braço da varejista ligado a fornecimento de tecnologias de nuvem

Com o desenvolvimento de uma inteligência artificial, as empresas buscam prover recomendações para a irrigação de cada cultura (Rovena Rosa/Agência Brasil)

Com o desenvolvimento de uma inteligência artificial, as empresas buscam prover recomendações para a irrigação de cada cultura (Rovena Rosa/Agência Brasil)

Letícia Ozório
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 28 de agosto de 2024 às 07h00.

Última atualização em 30 de agosto de 2024 às 10h38.

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O Rio Tietê, principal corpo d’água de São Paulo, é uma importante rota comercial do litoral ao interior do Estado, percorrendo 1.100 quilômetros. Ainda hoje, é muito utilizado por agricultores para garantir a irrigação de suas culturas. A escassez hídrica que as cidades paulistas vivem – agravada pela seca e os incêndios florestais --, no entanto, preocupa os fazendeiros.

Por isso, a Amazon Web Services, serviço de nuvem da gigante varejista, firmou uma parceria com a startup argentina de gestão hídrica Kilimo para evitar a escassez no rio Tietê. Com o desenvolvimento de uma inteligência artificial, as empresas buscam calcular o consumo de água em cada fazenda, monitorar a qualidade do solo e prover recomendações para a irrigação de acordo com os dados obtidos e o que é cultivado. A expectativa é que 200 milhões de litros de água sejam economizados por ano.

De acordo com Will Hewes, líder de sustentabilidade hídrica na AWS, a empresa atua para melhorar a gestão da água nas comunidades próximas aos seus data centers ao redor do mundo. Em entrevista exclusiva à EXAME, Hewes relatou que o motivo é o próprio uso de água pela Amazon e outras grandes empresas de tecnologia. “Usamos água para resfriamento dos computadores e máquinas em muitos dos nossos data centers. Isso nos ajuda a reduzir o uso de energia e a cumprir outras metas de sustentabilidade, como os objetivos de atingir 100% de uso de energia renovável e de sermos carbono zero”, explica.

A razão pela qual a empresa criou seu programa de gestão hídrica é para garantir o equilíbrio e otimização no uso de energia elétrica e de água. “Podemos usar muita água para economizar energia ou usar mais energia para economizar água. Queremos garantir que estamos gerenciando ambos para minimizar o impacto nas duas frentes”, explica Hewes. O anúncio sobre a iniciativa será feito hoje, 28, na World Water Week, em Estocolmo.

Estratégia internacional

A ação faz parte do plano global da companhia para a gestão hídrica. Até 2030, a Amazon Web Services quer ser “water positive”, ou seja, quer devolver uma quantidade maior de água à comunidade do que a quantidade consumida. Dentro do programa estão iniciativas sobre o uso consciente do recurso para resfriamento dos sistemas, como não utilizar a água para resfriamento em locais e épocas do ano com menor temperatura. “Ao norte da Europa, nós só usamos água para resfriar em 5% do ano. Quando está frio o suficiente, simplesmente trazemos ar externo para resfriar o data center”, conta o líder.

Outros locais utilizam efluentes tratados para refrigerar os centros de dados, utilizando água de reuso e que não estaria mais apta para consumo. Em data centers no Brasil, o líder explica que a técnica utilizada foi a captação e uso da água da chuva. “Dessa forma, não precisamos retirar do sistema de abastecimento da comunidade. Além disso, estamos reutilizando o máximo possível a que usamos no resfriamento”, afirma.

Uma métrica própria, chamada Efetividade no Consumo de Água, mede o consumo de água de acordo com os tamanhos do data center. Atualmente, a taxa é de 0,18 litros de água por kilowatt/hora, melhoria de 5% na comparação com 2022 e de 28% com 2021.

Leia: Planta invasora gera renda extra para agricultores familiares na Bahia

Projetos de reabastecimento

Como o programa implementado no Brasil, outros projetos de reabastecimento estão sendo implementados nas comunidades próximas aos data centers da China, Chile e Estados Unidos. São, ao todo, 21 projetos em 14 países, que devem devolver mais de 7 bilhões de litros de água ao meio ambiente por ano. Só em 2023, as ações da AWS atingiram 3,5 bilhões de litros de água devolvidos às comunidades originais. De acordo com Hewes, a escolha dos lugares a serem trabalhados também segue o grau de desafio ambiental que esses países enfrentam.

No Chile, a parceria com a startup Kilimo também foi implementada para reduzir o uso da água das bacias hídricas na região metropolitana de Santiago e em Valparaiso. Cerca de 67 hectares de terras de plantio passarão a contar com a irrigação por gotejamento, que leva o líquido diretamente até as raízes das plantas, ao invés da irrigação por inundação. A economia anual deve ser de 200 milhões de litros por ano.

A empresa também anunciou seus dois primeiros projetos de reabastecimento na China, em Pequim e Hong Kong. Na capital chinesa, uma parceria com a Beijng LongTech Environmental Technology busca restaurar partes degradadas das margens da reserva de Miyun e instalar áreas úmidas, o que pode tratar naturalmente a água que escoa com resquícios das fazendas. A obra deve terminar ainda em 2024 e devolverá 39 milhões de litros de água limpa todos os anos.

Já em Hong Kong, o projeto busca instalar áreas úmidas que impeçam que o esgoto não-tratado polua dois rios de importância econômica para a região: Dongjiang e Xijiang. A parceria, estruturada entre a Amazon Web Services e a NGO GreenCity Guangzhou, deve ser finalizada até 2026 e retornará 40 milhões de litros de água a cada ano.

As ações nos Estados Unidos foram ampliadas: em Ohio, a AWS firmou parceria com a ONG The Nature Conservancy para restaurar 11 acres de áreas úmidas, que devem ajudar a filtrar quase 300 milhões de litros de água por ano enquanto fornecem habitats para espécies selvagens.

Na Califórnia, a companhia busca apoiar as ações já realizadas por ONGs e outras organizações ambientais para garantir a existência das espécies de salmão ali presentes, que podem não sobreviver até a próxima década sem a restauração de seus habitats. O projeto inclui um conjunto de 12 iniciativas, como melhorias na irrigação na agricultura local, aprimorar o sistema que gere inundações e reabastecer ecossistemas de água doce, melhorando o habitat de espécies ameaçadas de extinção.

Para Will Hewes, a AWS trabalha com parceiros de cada local para entender as necessidades específicas da região, como ONGs e o próprio governo. A entrada de projetos no Brasil pode incentivar ainda mais ações da companhia no país, que vive um desafio muito peculiar: diminuir o consumo de recursos naturais na agricultura e pecuária. “A tecnologia e as necessidades da comunidade são uma parte importante para os projetos. E, com certeza, ficando atentos a quais são essas necessidades, acredito que certamente haverá mais investimentos no trabalho de reabastecimento de água no Brasil”, explica.

Entre os próximos passos, o líder compartilha que a ampliação das ações já tomadas e a criação de novas iniciativas seguem nos planos. Além disso, a empresa busca incentivar que outras empresas trilhem seus caminhos na busca pela melhoria da gestão hídrica. “Podemos ajudar a dar escala às soluções que ajudam a resolver os problemas ligados à água no mundo. Essa é a missão que enfrentamos”, afirma.

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