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A economia de Biden tem um grande problema: Objetivos demais

Os esforços do governo para garantir que os trilhões de dólares em gastos do governo que atuem de maneira mais efetiva podem sair pela culatra

Joe Biden em Chicago  (Scott Olson/Getty Images)

Joe Biden em Chicago (Scott Olson/Getty Images)

Bloomberg Businessweek
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Publicado em 22 de julho de 2023 às 08h40.

Por Courtney Rozen

Durante sua campanha presidencial de 2020, Joe Biden apresentou o governo como a solução para uma miríade de crises históricas das quais a pandemia era apenas a mais urgente. Agora, de olho em um segundo mandato, ele está atravessando o país para promover um esforço multibilionário para atualizar a infraestrutura em ruínas dos Estados Unidos, turbinar a transição energética do país e desenvolver suas indústrias de ponta.

Ele quer fazer tudo isso ao mesmo tempo em que reverte o offshoring de empregos industriais que dura décadas, reforçando as fortunas decadentes da classe média e combatendo a desigualdade racial e de gênero. A Economia de Biden está tentando fazer muita coisa ao mesmo tempo?

Vejamos o plano de US$ 369 bilhões do governo para reduzir os gases de efeito estufa que aquecem o planeta, parte da histórica lei climática que o Congresso aprovou no verão passado. É só pesquisar os detalhes e veremos segurança nacional e objetivos econômicos ao lado dos ambientais.

O presidente, um autoproclamado “cara do carro”, estabeleceu uma meta em 2021 de que metade de todos os veículos novos vendidos nos EUA terão emissão zero até o final da década. Para ajudar a atingir essa meta, a lei oferece créditos fiscais de até US$ 7.500 na compra de carros que atendam a determinados critérios. Entre as exigências: 40% dos minerais da bateria de um veículo devem ser processados ​​ou extraídos nos EUA ou em países com os quais os EUA tenham acordos de livre comércio, com a proporção subindo para 80% em 2027.

As regras de conteúdo visam estimular a criação de uma cadeia doméstica de suprimentos para uma série de metais e terras raras que as agências governamentais dos EUA, incluindo o Departamento de Defesa, consideraram estratégicos, afrouxando o domínio da China sobre os componentes das baterias. Os requisitos também são projetados para apoiar a criação de empregos americanos bem remunerados, o que é parte do motivo pelo qual o United Mine Workers of America fez pressão publicamente pela aprovação da lei.

As tensões entre esses vários objetivos já estão se tornando evidentes – não no Capitólio, onde os republicanos tentaram e falharam no início deste verão para comprometer o clima, impostos e leis de saúde, mas dentro do próprio governo de Biden.

Deb Haaland, secretária do Interior dos EUA, bloqueou em janeiro a mineração em mais de 225.000 acres de terras federais em Minnesota pelos próximos 20 anos para proteger uma área selvagem, desferindo um golpe em um projeto planejado de cobre e níquel. O administrador da Agência de Proteção Ambiental, Michael Regan, proibiu em janeiro o despejo de resíduos de mineração perto da Baía de Bristol, no Alasca, porque prejudicaria a indústria de salmão vermelho da região, inviabilizando uma planejada mina de cobre.

Os sindicatos estão irritados com o fato de a Casa Branca em março, ter fechado um acordo com o Japão para permitir que empresas do país aproveitem os subsídios climáticos dos EUA para coletar minerais e processá-los. Acordos semelhantes estão sendo negociados com a Comissão Europeia e o Reino Unido.

Heather Boushey, economista-chefe da equipe do gabinete de Biden que trabalha com política industrial, diz que a variedade de mandatos e padrões federais é projetada para “trabalhar em conjunto para criar o tipo de economia que beneficiará os americanos em todo o país”.

Esse é um tema que Biden vai abordar insistentemente em uma série de discursos neste verão. Em Chicago, em 28 de junho, o presidente falou de uma “economia que cresce do meio para fora e de baixo para cima, em vez de apenas de cima para baixo”. Nesse tipo de economia, disse ele, “os pobres sobem a escada e os ricos ainda se saem bem”.

Na prática, os esforços do governo para garantir que os trilhões de dólares em gastos do governo que atuem de maneira mais efetiva podem sair pela culatra. As pequenas empresas costumam ser as mais prejudicadas quando as autoridades federais impõem requisitos fora da intenção original de uma lei, diz Ufuk Akcigit, professor de economia da Universidade de Chicago especialista em pequenas empresas.

Akcigit aponta para o esforço de US$ 42.5 bilhões para expandir o acesso à banda larga. O objetivo principal: uma conexão de internet de alta velocidade em todos os lares dos EUA. (De acordo com um relatório do Pew Research Center de 2021, 1 em cada 4 americanos ainda não tem internet).

Biden acrescentou um segundo objetivo: impulsionar a indústria americana. Para obter o financiamento de banda larga, os destinatários terão que se comprometer a usar principalmente materiais e equipamentos fabricados nos Estados Unidos ou garantir a renúncia da secretária de Comércio, Gina Raimondo. Grande parte do equipamento de rede necessário é produzido no exterior, no entanto, e levaria anos para replicar essas cadeias de suprimentos internamente. “Quando se olha para isso em termos do que criará mais empregos, não há dúvida. Basta priorizar a implantação da banda larga”, diz Blair Levin, que supervisionou o plano nacional de banda larga durante a presidência de Barack Obama.

Depois que o Congresso rejeitou a proposta de Biden para oferecer bilhões em financiamento para creches no verão passado, o governo decidiu alavancar a Lei de Chips e Ciência de 2022. O Departamento de Comércio, responsável pela implementação da lei, disse no início deste ano que certas empresas que recebem incentivos precisam construir creches perto das fábricas ou subsidiar seus trabalhadores para pagar pelas creches locais. Os requerentes também estão sendo instados a oferecer serviços “completos”, como assistência a adultos, transporte ou assistência habitacional.

O financiamento da Lei Chips vem com outras restrições, incluindo a proibição de recompra de ações e proibições de aumentar – por uma década a produção em “países em atenção” incluindo a China.

Onze meses depois da aprovação da lei, a Secretaria de Comércio ainda não distribuiu nenhuma parte dos US$ 50 bilhões para encorajar a construção de fábricas de chips. “Se o governo Biden estivesse realmente decidido a implementar a Lei Chips e construir fábricas de chips, estaria se inclinando na direção de reduzir todos os outros encargos regulatórios, em vez de deixá-los como estão e adicionar outros”, diz Adam White, conservador e estudioso jurídico da George Mason University.

Outras agências também estão se envolvendo no esforço de Biden para remodelar a economia em torno de seus objetivos políticos. Funcionários do Departamento de Justiça estão usando veículos elétricos para viagens de trabalho. Os reguladores trabalhistas estão ensinando empregadores como o aumento das temperaturas afetará a saúde do trabalhador. Militares estão tentando recrutar e reter mais cuidadoras de crianças.

O governo está ficando sem tempo para institucionalizar sua grande e ousada visão de uma economia americana verde que atenda a todos. Faltam 16 meses para as eleições e, caso Biden perca a presidência ou os democratas vejam seus números no Congresso diminuírem ainda mais, os republicanos podem rapidamente começar a trabalhar para desmantelar muitas das principais iniciativas de Biden.

Ezra Klein, em uma coluna de abril no New York Times, cunhou o termo “liberalismo cheese-tudo” para descrever o impulso do governo “de realizar tanto com um único projeto ou política que acaba falhando em realizar qualquer coisa”. Ele estava discutindo um projeto em São Francisco que foi apresentado como solução para o problema dos sem-teto da cidade, mas também viu vestígios disso em algumas das pautas de Biden.

Alguns apoiadores de Biden optaram por abraçar o rótulo de “cheese-tudo” em vez de combatê-lo. Boushey tuitou uma foto de um sanduiche pela metade logo após o lançamento da coluna, embora ela diga que a postagem não tinha nada a ver com Klein.

Não é incomum um presidente pedir a agências de todo o governo que lidem com o mesmo problema, embora tenha sido mais “intencional” no governo Biden, diz K. Sabeel Rahman, professor da Faculdade de Direito da Universidade de Cornell e ex-assessor de regulamentação de Biden. “Mesmo que esses investimentos sejam pontuais, o Congresso autorizou uma grande quantia”, diz Rahman. “A obrigação é aproveitar ao máximo esse investimento.”

Tradução de Anna Maria Dalle Luche.

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