O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro (REUTERS/Palácio de Miraflores)
João Pedro Caleiro
Publicado em 26 de maio de 2015 às 16h29.
São Paulo - O governo de Nicolas Maduro está fazendo de tudo para esconder a crise cambial na Venezuela.
O país tem três taxas de câmbio oficiais: a mais baixa delas, usada nas importações de produtos alimentícios e sanitários, está em 6,3 bolívares por dólar. A mais alta, do Sistema Marginal de Divisas (Simadi), está beirando os 200 dólares.
Enquanto isso, a taxa no mercado negro é o dobro: foi de 277 para 422 bolívares por dólar só no último mês, alta de mais de 30%.
As informações são do site Dolar Today, que monitora as operações de câmbio na cidade colombiana de Cúcuta, na fronteira com a Venezuela, assim como as divisas e reservas líquidas do país.
Publicar esse tipo de cotação é ilegal na Venezuela. De acordo com a BBC, o site é mantido por 12 jovens venezuelanos que o definem como "uma forma de protesto ante um regime ditatorial empenhado cada vez mais em silenciar e intimidar os meios de comunicação na Venezuela".
O presidente já disse que o site faz "guerra econômica" contra o país, e tentativas anteriores de bloqueio afetaram outros serviços como o bit.ly.
Além disso, os venezuelanos são um dos mais povos mais ativos nas mídias sociais e recorrem a sites que replicam conteúdo, como o Twitter.
Nesta segunda-feira, o deputado governista Juan Carlos Alemán participou do programa Primeira Pagina, da rede de televisão Globovision. Perguntado sobre o que o governo vai fazer contra o Dolar Today, ele disse que a ideia era conseguir independência tecnológica:
"Há um projeto para estabelecer nossos próprios servidores e buscadores. O problema é que dependemos de mecanismos como Google e Firefox que são plataformas que não estão sob controle nacional. Para isso, lançamos dois satélites ao espaço para materializar nossa própria plataforma tecnológica e termos independência para poder controlar esse tipo de situação."
Veja no vídeo:
Cenário
A qualidade de vida dos venezuelanos caiu no período Maduro. Quando ele assumiu o cargo em abril de 2013, a inflação anual era de 20,1% e a pobreza estava em 25,1%.
Dois anos depois, a inflação disparou para 68,5% e a pobreza atinge 32,1% dos venezuelanos. O índice de escassez parou de ser publicado há um ano, quando chegou a 1 em cada 3 produtos básicos.
Até a mania nacional do implante do seio foi afetada, e um pacote de camisinhas chega a sair por mais de 2 mil reais. Há relatos de hotéis que pedem para hóspedes trazerem papel higiênico.
O crescimento e as receitas do governo já estavam em situação difícil quando sofreram o baque da queda do preço do petróleo. A projeção do FMI é que a economia venezuela encolha 7% este ano, após recessão de 4% em 2014.