Economia

Vendas no varejo do Brasil recuam 16,8% em abril, diz IBGE

Maior queda em 20 anos reflete os efeitos das políticas de isolamento social adotadas para controlar a pandemia de covid-19

Belo Horizonte (Adão de Souza/PBH/Flickr)

Belo Horizonte (Adão de Souza/PBH/Flickr)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 16 de junho de 2020 às 09h17.

Última atualização em 17 de junho de 2020 às 10h11.

As vendas no varejo brasileiro recuaram 16,8% em abril na comparação com o mês anterior e caíram 16,8% sobre um ano antes, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira. A maior queda em 20 anos e a mais acentuada da série histórica iniciada em janeiro de 2001 reflete os efeitos das políticas de isolamento social adotadas para controlar a pandemia de covid-19

É a primeira vez que a pesquisa traz os resultados de um mês inteiro em que o país está no quadro de isolamento social, destaca o instituto. As políticas de distanciamento começaram a ser adotadas na segunda quinzena de março.

O número veio acima da expectativa do mercado, que apontava para uma baixa de 12% na comparação mensal, e do recuo projetado pela Exame Research, de 15%.

O setor que mais sofreu foi Tecidos, vestuário e calçados, que amargou queda de -60,6% de um mês para o outro, seguido de Livros, jornais, revistas e papelaria (-43,4%) e Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-29,5%).

(IBGE/Divulgação)

Até mesmo setores com atividades consideradas essenciais e que mostraram avanço no mês passado, caíram em abril. É o caso de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-11,8%) e Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-17%).

Os outros setores são: Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-29,5%), Móveis e eletrodomésticos (-20,1%) e Combustíveis e lubrificantes (-15,1%).

“Em março, podemos imaginar o cenário em que essas atividades essenciais absorveram um pouco das vendas das outras atividades que tinham caído muito, mas nesse mês isso não foi possível", explica o gerente da pesquisa sobre o comércio, Cristiano Santos, no material de divulgação.

O especialista cita também a redução da massa salarial que, entre o trimestre encerrado em março para o encerrado em abril, caiu 3,3%, algo em torno de 7 bilhões de reais: "Isso também refletiu nessas atividades consideradas essenciais”, diz.

Apesar de não estar claro até onde vão os impactos da pandemia do coronavírus, o mercado espera que a crise econômica se concentre nos dados do segundo trimestre deste ano, mas entre abril e junho, mês que inicia o período teria levado a pior:

"Somado à queda de 18% na produção industrial, (os dados do comércio em abril), sugerem uma retração forte para a atividade econômica no mês. Para maio, temos uma leitura melhor para o comércio, que deve ser sustentado pelo aumento na confiança", diz relatório de hoje da Exame Research.

O Goldman Sachs também espera que o varejo comece a mostrar recuperação daqui para frente: "Esperamos que a atividade de vendas tenha chegado ao fundo do poço em abril e que se recupere gradualmente nos próximos meses, juntamente com o relaxamento dos protocolos de distanciamento social e outras medidas para restringir movimentos e atividades", diz Alberto Ramos, analista de América Latina da instituição, por meio de nota.

A retomada só voltará a ser vista nos dados de junho, aposta a Guide Investimentos. O dado de hoje é mais uma confirmação, segundo nota da corretora, da direção certa do Banco Central ao manter postura agressiva na política monetária: "Por isso, reafirmamos expectativa de que a instituição anuncie corte de 0,75 ponto percentual na Selic na quarta-feira", diz.

Os dados divulgados hoje pelo IBGE também confirmam as expectativas de contração de 9% da economia no segundo trimestre em relação ao primeiro, diz André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton e dono do cálculo:

"Muito provavelmente maio deve manter o baixo nível do varejo para vermos apenas uma melhora em junho uma vez que só agora a quarentena foi afrouxada", diz em nota.

Do total de empresas coletadas pela pesquisa, 28,1% relataram impacto em suas receitas em abril por conta das medidas de isolamento social, contra 14,5% no mês de março, destaca o IBGE.

Comércio ampliado

No comércio varejista ampliado, do qual fazem parte também as atividades de veículos, motos, partes e peças (-36,2%) e material de construção (-1,9%), as vendas registraram queda de 17,5% em abril ante março, quando segmento ampliado já vinha numa queda intensa (-13,7%) por conta, sobretudo, do recuo em veículos, motos partes e peças, destaca o IBGE.

O instituto destacou ainda que, tanto no comércio varejista quanto no varejosta ampliado o patamar de vendas chegou ao seu ponto mais baixo. No caso desse primeiro, o patamar atual está 22,7% abaixo do nível recorde, em outubro de 2014. Já no ampliado, o distanciamento chega a 34,1%. O auge para o setor foi registrado em em agosto de 2012.

Avanço recorde nos EUA

A divulgação dos dados sobre as vendas do varejo nos Estados Unidos está um mês afrente da brasileira. Lá, os dados de maio foram anunciados nesta terça-feira e indicam alta recorde para o mês, quando 2,5 milhões de norte-americanos voltaram ao trabalho, deixando o isolamento.

Segundo o Departamento do Comércio americano, as vendas no varejo subiram 17,7% no mês passado, após queda recorde de 14,7% em abril. O resultado recupere apenas uma fração da histórica queda em março e abril devido ao coronavírus.

O resultado superou o recorde anterior de aumento de 6,7% em outubro de 2001, quando os norte-americanos retomaram as compras após os ataques de 11 de setembro de 2001 aos EUA.

A expectativa era de salto de 8% das vendas no varejo no mês passado, de acordo com pesquisa da Reuters.

(Com informações da Reuters)

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