Consumidores escolhem eletrodomésticos em loja das Casas Bahia (José Cruz/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 22 de junho de 2014 às 15h18.
São Paulo - Varejistas com atuação em financiamento a consumidores e instituições financeiras mantêm perspectiva cautelosa sobre oferta de crédito em meio a expectativas de uma leve alta na inadimplência do segmento este ano.
Como as vendas cresceram pouco neste primeiro semestre, era de se esperar que os lojistas elevassem a concessão de crédito, para estimular o consumo. Porém, já há sinais de maior seletividade na oferta de crédito.
As grandes companhias varejistas que têm braço financeiro reportaram no primeiro trimestre queda da inadimplência, mas especialistas apontam tendência de deterioração pela frente.
O presidente da administradora de cartões para o varejo Credz, José Renato Borges, admite que a seletividade no setor aumentou. "Acredito que a oferta atual está adequada ao momento de incertezas da economia", ponderou.
"A taxa de aprovação do crédito vem caindo desde o Natal, que já foi um período mais fraco de vendas do que o esperado", comenta André Feltrin, sócio da consultoria FFC Serviços Financeiros e professor do Centro de Excelência do Varejo da Fundação Getúlio Vargas.
Entre varejistas de porte regional para os quais sua empresa presta serviço, ele afirma que a aprovação de crédito caiu de 45% no final de 2013 para 35% em meados de 2014.
Na administradora de cartões DMCard, a taxa de aprovação de crédito também caiu desde o começo do ano porque a empresa já observava uma tendência de alta da inadimplência.
A aprovação de crédito nos cartões próprios de varejistas atendidos, a maioria supermercados, saiu de 68% para 64%, segundo o gerente da DMCard Marcelo Jacinto.
A Copa deve ser determinante para o comportamento não só das vendas do varejo, mas também do crédito.
Um resultado muito negativo de vendas durante o Mundial de futebol poderia fazer com que varejistas sentissem a necessidade de aumentar a oferta de crédito ainda que isso culminasse em deterioração na provisão para devedores duvidosos (PDD), avalia o diretor de segmentos da Serasa Experian, Danilo Nascimento.
A expectativa dele é que este ano termine, de toda forma, com uma elevação suave na PDD nos produtos financeiros do varejo como um todo.
Mas a queda da confiança do consumidor está afetando os produtos financeiros no setor varejista.
"Apesar das taxas de inadimplência baixas, dados sugerem que a disposição dos indivíduos de continuar tomando mais crédito parece ter se estabilizado", disseram os analistas da Brasil Plural, Guilherme Assis, Victor Falzoni e Ruben Couto, em relatório sobre Magazine Luiza e Via Varejo.
A Guararapes, controladora da Riachuelo, deixou bem claro na última teleconferência de resultados o desafio de conciliar financiamento ao consumidor e desempenho de vendas.
O diretor Financeiro, Tulio Queiroz, afirmou que o crédito "não tem sido limitador para se comprar mais".
"A pergunta é, se aumentássemos ou afrouxássemos um pouco mais a política, se isso iria aparecer em vendas.. e a resposta é não", declarou. "Nossos clientes têm crédito aprovado, então eles poderiam ter comprado; nossa ideia não é afrouxar a política de crédito", completou.
A ideia de que o endividamento do consumidor chegou a um limite, porém, é contestada.
Boanerges Ramos Freire, consultor especializado em varejo financeiro, destaca que o nível de comprometimento da renda vem se mantendo relativamente estável ao longo dos meses.
"Não há um apocalipse", diz. O comprometimento da renda das famílias com serviço da dívida divulgado pelo Banco Central foi de 21,37% em março, ante 21,59% no mesmo mês de 2013.
A visão é compartilhada por Fernando Cosenza, diretor de sustentabilidade da Boa Vista: "o cenário de endividamento das famílias é saudável", afirma.
O que o setor tem como certo é que 2014 deve seguir sem grandes avanços. Para Borges, da Credz, este é um ano em que o crédito "anda de lado".
A preocupação maior é com o fato de que 2015 não deve ser muito diferente, já que o cenário macroeconômico aponta para ajustes fiscais e possível elevação das taxas de juros.
Para Feltrin, da FFC, as companhias terão de se manter conservadoras, o que preocupa, porque reforça as expectativas de que as vendas de mercadorias também vão seguir sem grande crescimento.