Valor dos alimentos abaixa e consumo nos supermercados cresce; expectativa do setor é positiva
O preço da Abrasmercado (cesta de 35 produtos de consumo maciço monitorados pela Abras) teve queda de 5,33% em agosto ante o mesmo mês de 2022
Agência de notícias
Publicado em 30 de setembro de 2023 às 14h59.
O consumo nos lares brasileiro teve alta de 4,12% em volume de vendas em agosto em relação ao mesmo período de 2022. Os dados da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) indicam meses positivos de consumo pela frente. Esse crescimento será puxado pelas quedas consecutivas nos preços dos alimentos, bem como em virtude de programas de transferência de renda. Apesar da perspectiva positiva, os números não merecem grande comemoração tampouco euforia, na visão de quem lida com dados do segmento.
O preço da Abrasmercado (cesta de 35 produtos de consumo maciço monitorados pela Abras) teve queda de 5,33% em agosto ante o mesmo mês de 2022. A cesta ainda registrou uma desvalorização de 1,71% na comparação com julho e, no ano, a queda acumulada é de 4,89%. Os preços, em média, recuaram de R$ 730,06 para R$ 717 55. A cesta é composta pelas categorias de alimentos, bebidas, carnes, produtos de limpeza, itens de higiene e beleza.
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Queda forte no preço de carnes
O consumo de proteínas foi favorecido pela maior oferta no mercado interno e pela melhora da renda dos consumidores, segundo a instituição. Em agosto, os recuos nos preços foram detectados em cortes dianteiros (-1,10%) e cortes traseiros (-1 78%). No ano, as quedas acumuladas são de -9,21% e -12,03%, respectivamente para esses itens.
Outras proteínas seguiram a tendência de queda registrada nos meses anteriores: frango congelado (-2,04%) e pernil (-0,85%). Além disso, pela primeira vez no ano, os ovos registraram queda (-3,15%). Dentre os itens básicos, a queda mais expressiva foi registrada no preço do feijão (-8,27%). No acumulado do ano, a baixa é de 12,77%.
Volumes futuros
Na avaliação da Abras, as quedas consecutivas nos preços dos alimentos contribuíram para o aumento no volume de itens adicionados à cesta de consumo. "A estabilidade de renda combinada com a queda nos preços dos alimentos permitiu ao consumidor acrescentar mais itens na cesta de abastecimento dos lares e buscar itens de valor agregado, a exemplo da carne bovina", analisa o vice-presidente da associação, Marcio Milan.
Já na visão do diretor da Nielsen IQ, Domenico Filho, daqui para frente pode-se esperar um cenário positivo, mas sem euforias. "Podemos esperar um cenário positivo para o volume brasileiro de vendas, do varejo moderno principalmente, mas eu não esperaria um crescimento muito acelerado", disse ao Broadcast.
Ele avalia que o brasileiro ainda está com o poder de compra reduzido por conta da inflação. "Só o aumento de preço dos alimentos acumulados nos últimos três anos foi de 50%. Ou seja, o brasileiro está com o poder de compra corroído, está com um índice de endividamento muito alto e está inadimplente, principalmente com o cartão de crédito. Então, vai um tempo ainda, mesmo com essa redução nos preços, para esse estoque de dívidas se equilibrar no bolso do brasileiro e ele poder voltar ao consumo", afirma. Nesse contexto, ele entende que o crescimento do setor deve ser suave.
A Abras mantém projeção de crescimento de 2,5% do setor para o ano de 2023. Para Milan, essa é uma decisão conservadora e há viés de alta para os próximos meses. Assim, é possível haver ajuste de expectativa no próximo mês.
Expansão
De janeiro a setembro deste ano, já foram inauguradas 482 lojas no setor supermercadista. Destas, 228 são novas e 254 se tratam de reinaugurações. Das lojas novas, 137 são supermercados e 91 atacarejos.
Segundo levantamento recente da Nielsen, desde 2020, os atacarejos já dominam o consumo nos lares brasileiros, mas essa preferência dos consumidores tem se acentuado. Naquele ano, as bandeiras dessa categoria eram frequentadas por 65% dos lares, enquanto os supermercados atingiam 62% deles. A diferença tem aumentado: passou a 71% para os atacarejos e 64% nos supermercados no ano passado e, agora, no segundo trimestre de 2023, atingiu 73% versus 62%, com os atacarejos mais uma vez à frente.
Para Domenico Filho, porém, há ressalvas quanto à continuidade dessa dominância e crescimento. "Hoje o atacarejo cresce muito em função de abertura de lojas e não por uma 'performance' loja a loja. Agora, quando se observa o cenário de vendas no comparativo das mesmas lojas (expurgando o desempenho de novas lojas) já se nota um cenário de mais estabilidade no canal."