Economia

Usinas gastam mais água para produzir energia

Descasamento dos números oficiais, segundo gerente de Projetos da PSR, Bernardo Bezerra, viria de problemas de fricção, considerados estruturais do sistema


	Torneira: gerente de consultoria afirmou que risco de haver racionamento em 2015 está hoje em 19%
 (Pedro França/Agência Senado)

Torneira: gerente de consultoria afirmou que risco de haver racionamento em 2015 está hoje em 19% (Pedro França/Agência Senado)

DR

Da Redação

Publicado em 4 de dezembro de 2014 às 19h09.

São Paulo - A consultoria PSR, especializada no setor energético, acredita que os modelos oficiais adotados por órgãos ligados ao governo federal podem estar considerando uma eficiência inexistente no sistema elétrico brasileiro e que as usinas estariam utilizando 4% mais água para gerar o mesmo volume de carga.

A diferença poderia levar o governo federal a adotar decisões incorretas, por exemplo, em relação à necessidade ou não de realização de um racionamento de energia, assim como a data de seu início.

Além disso, exigiria a contratação adicional de 1.500 MW médios de energia.

O estudo interno considerou, de forma retroativa, as projeções adotadas pelo governo federal para o nível dos reservatórios.

E, considerando os números oficiais de geração das usinas, vazão e nível dos reservatórios, detectou um descasamento de informações.

O estudo mostrou que o nível dos reservatórios no início de 2012 deveria estar em 65%, e não em 43% conforme efetivamente realizado, caso fosse analisado de forma retroativa o modelo considerado para projeções futuras.

Essa diferença de 22 pontos porcentuais representaria uma carga de 5.000 MW médios acima do verificado.

A descasamento dos números, de acordo com o gerente de Projetos da PSR, Bernardo Bezerra, viria de problemas de fricção, considerados estruturais do sistema.

Eles possuem diferentes naturezas, incluindo restrições elétricas existentes no sistema e não mapeados, assoreamento de reservatórios e eficiência das hidrelétricas, entre outros aspectos.

"Os modelos oficiais não captam isso porque se acredita que a eficiência do sistema é maior do que aquela que ocorre na realidade", afirmou Bezerra, que participou nesta quinta-feira 4, de evento organizado pelo Grupo CanalEnergia.

"Quando pegamos os dados realizados e a vazão que chegou ao sistema, chegaríamos, dois anos depois, com um nível de reservatório maior do que efetivamente chegamos", complementou.

A análise explicaria o baixo nível de armazenamento dos reservatórios brasileiros, a despeito de o volume de chuvas no último período úmido não ser tão inferior a marcas atingidas em períodos anteriores.

"O nível dos reservatórios chegou a 20% no final de novembro, o pior dos últimos 18 anos (os dados consultados vão até 1997). Mas, se olharmos 2012 e 2013, tivemos um 2013 apenas 3% abaixo da média e, em 2012, apenas 13% quando olhamos o sistema interligado nacional", afirmou Bezerra.

"Se olharmos o triênio 2012 a 2014, tivemos 88% da média histórica. Os números mostram que não passamos pela pior seca da história", salientou.

Tais números levaram a PSR a utilizar os modelos atuais para uma análise aprofundada em relação ao que ocorreu entre 2012 e 2013. Identificou-se, então, uma incongruência entre os dados.

"O governo fala em um excedente de 6.000 MW médios, quando na verdade haveria um déficit de 1.500 MW médios", ressaltou Bezerra, em referência à declaração dada constantemente por Maurício Tolmasquim.

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) destaca que haveria uma sobra estrutural de energia na casa de 6.000 MW médios.

Durante o evento, um representante da Aneel, não identificado, informou que os geradores terão de 12 a 24 meses para verificar in loco a situação efetiva dos reservatórios.

O levantamento ajudaria a entender qual tem sido a real utilização dos reservatórios pelas usinas, assim como identificar se a eficiência dessas unidades é de fato tão elevada quanto acredita o governo federal.

Racionamento

Bezerra também afirmou hoje que o risco de haver racionamento em 2015 está hoje em 19%.

O número considera uma previsão de afluência equivalente a 85% da média de longo termo (MLT) durante o período úmido.

Se esse número fosse reduzido para 74% da MLT, o risco cresceria 53%. Por outro lado, se a chuva chegasse a 109% da média histórica, o risco de racionamento seria zero.

Acompanhe tudo sobre:ÁguaConsultoriasEnergiaEnergia elétricaServiços

Mais de Economia

FMI espera que economia argentina 'comece a crescer' no segundo semestre

Será que é certo o Estado taxar as remessas postais internacionais?

Ações da Caixa no RS já somam impacto de R$ 66,8 bi na carteira, diz presidente do banco

Fazenda eleva projeção de PIB de 2024 para 2,5%; expectativa para inflação também sobe, para 3,7%

Mais na Exame