Economia

União Europeia dividida quanto a acordo entre Trump e Juncker

Enquanto a França se opõe a um acordo entre a EUA e a União Europeia, a Alemanha considera a reunião entre Trump e Juncker construtiva

O ministro alemão das Relações Exteriores celebrou que a Europa tenha provado que "não se deixa dividir" (Joshua Roberts/Reuters)

O ministro alemão das Relações Exteriores celebrou que a Europa tenha provado que "não se deixa dividir" (Joshua Roberts/Reuters)

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AFP

Publicado em 26 de julho de 2018 às 09h57.

O acordo entre União Europeia (UE) e Estados Unidos anunciado por Donald Trump e Jean-Claude Juncker cria esperanças de uma trégua no atual conflito comercial, mas também questionamentos em um bloco dividido.

O ministro francês das Finanças, Bruno Le Maire, ressaltou, nesta quinta-feira (16), a oposição da França a que se negocie um acordo comercial global entre a UE e os EUA, exigindo que a agricultura fique "fora do alcance", caso isto venha a acontecer.

Le Maire pediu "esclarecimentos" sobre as medidas anunciadas depois do encontro ontem, em Washington, entre o presidente americano, Donald Trump, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.

Na reunião, foi anunciado um pacto para desativar o conflito comercial com decisões sobre agricultura, indústria e energia.

"É bom voltar ao diálogo com os americanos sobre os temas comerciais", disse Le Maire à AFP em uma breve reação, manifestando, ao mesmo tempo, que "uma boa discussão comercial pode ser feita apenas sobre bases claras e não se pode avançar sob pressão".

O ministro rejeitou a possibilidade de um acordo comercial global entre Estados Unidos e UE, como evocou o secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, no domingo, ao fim de uma reunião do G20 das Finanças em Buenos Aires.

Le Maire disse que a França não quer "entrar em uma negociação de um grande acordo, cujos limites já vimos com o TTIP (Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento)", a tentativa de acordo comercial entre as duas partes que naufragou com a chegada de Trump à Casa Branca.

O ministro exigiu ainda que a agricultura "fique fora" das discussões e garantiu que "a Europa não cederá com essas normas".

"Temos normas sanitárias, alimentares e ambientais elevadas e regras de produção (...) que garantem a proteção e a segurança dos nossos consumidores", lembrou.

Ele pediu também "que o acesso às licitações públicas americanas façam parte das discussões", considerando que os mercados públicos se encontram "amplamente fechados" às empresas europeias.

Alemães aprovam

Já a Alemanha considerou "construtivo" o resultado do encontro entre Trump e Juncker, afirmou nesta quinta uma porta-voz da chanceler alemã, Angela Merkel, no Twitter.

"O governo saúda o acordo para uma ação construtiva no comércio", tuitou a porta-voz Ulrike Demmer.

"A Comissão pode continuar a contar com nosso apoio", completou.

Segundo uma fonte europeia, nenhuma nova tarifa será imposta sobre as importações de carros europeus aos Estados Unidos, um caso particularmente sensível para a Alemanha.

O ministro alemão das Relações Exteriores, Heiko Maas, celebrou que a Europa tenha provado que "não se deixa dividir".

"E vimos isso: quando a Europa se mostra unida, nossa voz tem peso", completou, em uma curta declaração de Seul.

"Eu disse isso: a resposta ao 'America First' só pode ser 'Europe United' (Europa Unida)", afirmou o ministro alemão.

"Jean-Claude Juncker mostrou que não se trata, afinal de contas, de saber quem grita mais no Twitter, mas de quem propõe soluções realistas, ou (se nos contentamos com) pequenas frases de impacto", acrescentou.

O primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, também saudou "o resultado positivo da conversa entre Juncker e Trump".

"É muito importante que a UE e os Estados Unidos cooperem em matéria comercial", afirmou.

Este sentimento de alívio é compartilhado pelos setores econômicos.

"A razão prevaleceu (...) Eliminar as tarifas alfandegáriase outras barreiras ao comércio e aos investimentos é benéfico para as empresas e para os cidadãos dos dois lados do Atlântico", comentou o presidente da organização patronal europeia BusinessEurope, o francês Pierre Gattaz.

Muitas questões continuam em aberto: Juncker prometeu importar mais soja e gás liquefeito dos Estados Unidos para a UE.

"Mas isso não pode ser ordenado burocraticamente, tem que haver uma demanda de mercado", observa o instituto econômico alemão Ifo, com sede em Munique (sul da Alemanha).

Questionado a este respeito, o porta-voz da Comissão Europeia Alexander Winterstein disse que "um grupo de trabalho de alto nível" examinaria as questões da soja e do GNL, reconhecendo que não era capaz de dizer no momento "como isso funcionaria na prática".

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