Economia

Trump e Xi declaram trégua na guerra comercial no encerramento do G20

Agência chinesa informou que negociações, interrompidas em maio, devem ser retomadas e que Washington desistiu da ameaça de impor novas tarifas

Trump-Xi: líderes dos EUA e China deram trégua na guerra comercial (Kevin Lamarque/Reuters)

Trump-Xi: líderes dos EUA e China deram trégua na guerra comercial (Kevin Lamarque/Reuters)

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AFP

Publicado em 29 de junho de 2019 às 09h32.

Última atualização em 29 de junho de 2019 às 09h35.

Os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da China, Xi Jinping, concordaram neste sábado (29) em retomar as negociações comerciais após uma reunião bilateral no último dia do encontro de cúpula do G20 em Osaka (Japão), evento marcado pelo confronto entre as duas grandes potências econômicas. "Tivemos uma reunião muito boa com o presidente chinês Xi. Eu diria que excelente", afirmou Trump.

A agência oficial chinesa Xinhua informou que as negociações, interrompidas em maio, devem ser retomadas e que Washington desistiu da ameaça de impor novas tarifas de importação que teriam afetado 500 bilhões de dólares em produtos chineses importados a cada ano pelos Estados Unidos. "Ao menos neste momento", disse Trump em uma entrevista coletiva.

Trump também falou, sem entrar em detalhes, sobre a possibilidade de suavizar o veto ao grupo tecnológico chinês Huawei, um ponto sensível na complexa relação comercial entre as potências econômicas, mas sem explicar se isto significa que uma mudança de postura de Washington a respeito da Huawei.

A trégua é similar a que foi declarada pelos dois presidentes no G20 do ano passado em Buenos Aires, embora meses depois a guerra comercial tenha recomeçado. "É a questão dominante, o restante é secundário", opinou Thomas Bernes, do 'Centre for International Governance Innovation', um grupo de pesquisas canadense.

Neste sentido, o comunicado final do fórum criado em 2008 e que reúne 20 países, que representam 85% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, adverte que "as tensões comerciais e geopolíticas se intensificaram" e podem afetar um crescimento mundial que já está enfraquecido.

UE-Mercosul, antídoto ao protecionismo

Quase no mesmo momento em que Xi e Trump estavam reunidos, os líderes da União Europeia (UE) e do Mercosul fizeram uma declaração solene após o acordo anunciado na sexta-feira em Bruxelas para um ambicioso tratado comercial entre os blocos, após 20 anos de negociações.

"É uma das poucas boas notícias que tivemos em meses, no que todos acreditamos que é interconectar mais estas economias", afirmou o presidente argentino Mauricio Macri, ao lado do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.

Também estavam presentes o presidente da França, Emmanuel Macron, a chanceler alemã Angela Merkel, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez, entre outros, em uma demonstração de unidade e da aposta no multilateralismo ante o protecionismo defendido por Trump.

A ratificação do acordo será complexa, no entanto, porque exige a aprovação dos países membros da UE, cujos agricultores, em particular os franceses, são reticentes à entrada de produtos sul-americanos.

A diretora do principal sindicato agrícola francês (FNSEA), Christiane Lambert, chamou o acordo de "inaceitável.

Difícil acordo sobre o clima

A questão comercial não foi a única a esbarrar em visões divergentes. Como havia acontecido em 2018 na reunião de Buenos Aires, 19 dos 20 países membros do G20, sem a assinatura dos Estados Unidos, reafirmaram neste sábado, no comunicado final, o compromisso para aplicar o Acordo de Paris e lutar contra a mudança climática.

Os signatários recordam a "irreversibilidade" do acordo, em uma declaração final similar a do G20 do ano passado, mas que enfrentou a oposição de Washington.

Se há alguns anos o tradicional comunicado final era uma questão meramente protocolar, com textos que sempre defendiam o multilateralismo e a luta contra a mudança climática, com a chegada de Trump ao poder se tornou um campo de batalha.

Neste sentido, os analistas apontam que o fórum, criado em 2008 para dar uma resposta à crise mundial, foi desvirtuado pelos interesses de cada país, uma situação simbolizada por Donald Trump com sua série ininterrupta de encontros bilaterais com líderes de todo o mundo.

O presidente americano voltou a ser o protagonista absoluto do G20, com reuniões com o presidente russo Vladimir Putin, o brasileiro Jair Bolsonaro ou o príncipe herdeiro saudita Mohamed bin Salman.

Trump também anunciou de modo surpreendente neste sábado uma proposta ao líder norte-coreano Kim Jong Un para uma reunião com ele na Zona Desmilitarizada (DMZ) que divide as duas Coreias, aproveitando sua visita a Seul.

A respeito do príncipe saudita, declarou que ele faz "um trabalho espetacular". Trump disse que o assassinato do jornalista opositor Jamal Khasoggi o deixou "extremamente irritado", mas completou que "ninguém" considera Mohamed bin Salman responsável.

A declaração contrasta com um relatório recente da ONU, que que afirma ser "inconcebível" que o príncipe herdeiro não estivesse a par da operação que terminou com o assassinato do jornalista no consulado saudita em Istambul (Turquia).

Além do Mercosul, a agenda latino-americana em Osaka também foi marcada por uma reunião do Grupo de Lima, que voltou a criticar o "regime ilegítimo" de Nicolás Maduro na Venezuela e pediu uma mobilização internacional para ajudar os venezuelanos.

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