Economia

Transição já tem mapa de "vontades e angústias" de aliados

Apesar das informações de que o PMDB gostaria de ampliar sua presença, o discurso oficial peemedebista é o de "manter as coisas como estão"

PMDB, partido do vice Temer, dá sinais de que não pretende dificultar o trabalho da equipe de Dilma (Antonio Cruz/AGÊNCIA BRASIL)

PMDB, partido do vice Temer, dá sinais de que não pretende dificultar o trabalho da equipe de Dilma (Antonio Cruz/AGÊNCIA BRASIL)

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Da Redação

Publicado em 10 de novembro de 2010 às 21h18.

Brasília - Se ainda falta muita negociação para definir nomes da equipe ministerial do governo Dilma Rousseff, pelo menos o comando da equipe de transição já tem um mapa mais ou menos definido das vontades e angústias dos partidos que apoiaram a candidatura da petista.

O malabarismo agora será achar espaço para todos em um contexto em que quem já tem cargos quer mais e quem não tem quer passar a ter.

Após terminar, nesta quarta-feira, uma rodada de conversas com todas as legendas aliadas do governo, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, avisou, porém, que o crescimento dos partidos da base nas eleições não se refletirá em maior participação no governo Dilma.

"Como todos os partidos da base aliada cresceram, quem diluiu foi a oposição, você não pode a princípio estabelecer que isso seja um critério para ampliar também a participação no governo", disse Dutra a jornalistas na sede do PT, após concluir conversas com representantes do PR, PRB e PTN.

O PMDB, partido do vice de Dilma, deputado Michel Temer (SP), e que acumula, depois do PT, a maior quantidade de ministérios no atual governo, tem dado sinais externos que não pretende dificultar o trabalho da equipe de Dilma, ao menos por ora.

Apesar das informações de bastidor dando conta de que o PMDB gostaria de ampliar sua presença --hoje tem seis ministérios, além do Banco Central (BC)--, o discurso oficial peemedebista é o de "manter as coisas como estão", ou seja, cada partido da base aliada continuaria com a mesma quantidade de ministérios que tem hoje.

Um dos caciques do PMDB, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR), disse nesta quarta-feira que "quanto mais mexer, mais briga tem". "É aquela história, quem está dentro não sai, quem está fora não entra", disse.

Questionado se, pela lógica da manutenção dos cargos, o PMDB também gostaria de continuar com o Banco Central, Jucá brincou com os jornalistas: "Vocês acham que eu posso ir para o Banco Central?" O atual presidente do BC, Henrique Meirelles, é filiado à legenda, mas o cargo faz parte da chamada cota pessoal da presidente da República.

Nessa cota se incluem também o Ministério da Fazenda, que poderia seguir com Guido Mantega, segundo notícias publicadas nos últimos, e a Casa Civil, último cargo ocupado pela própria presidente eleita.

Ocupando espaço

Mesmo a tese do "como está fica" defendida pelo PMDB pode provocar dor de cabeça para a equipe da transição. O PRB, por exemplo, partido do vice-presidente José Alencar, não possui hoje nenhum ministério.

Com a mudança de governo, a Vice-Presidência passará para o PMDB e o partido teme perder espaço, apesar de ter aumentado sua bancada na Câmara de um deputado eleito em 2006 para 8 agora.


Além disso, o partido reelegeu o senador Marcelo Crivella (RJ), que, na campanha, teve um importante papel de interlocução com as igrejas evangélicas a favor de Dilma, no momento em que a discussão em torno do aborto ganhou destaque.

"Política você faz ocupando espaço. Seria uma inverdade eu dizer que o PRB não quer ocupar espaço", disse o presidente do PRB, Vitor Paulo. "Mas quem decide esse espaço é a presidente eleita."

Após conversar com Dutra, Paulo admitiu a dificuldade em conseguir espaço no futuro governo, mas lançou o nome de Crivella para ser considerado no xadrez do futuro governo.

Já o PR faz questão de manter sob seu controle o Ministério dos Transportes, pasta responsável por grandes investimentos nas áreas de rodovias, ferrovias e portos fluviais. E trabalha, segundo o senador João Ribeiro (PR-TO), para que o presidente do partido, Alfredo Nascimento, volte a ocupar a pasta.

Senador pelo Amazonas, Nascimento atuou como ministro dos Transportes nos dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem tem boa relação.

Um importante parlamentar do PR, porém, disse que o PMDB tem interesse em retomar o controle da pasta --que era comandada pelos peemedebistas no governo Fernando Henrique Cardoso. Se eventualmente for bem-sucedido, o PMDB passaria a ter praticamente todo o controle da área de infraestrutura, uma vez que já tem e deve manter os Ministérios de Minas e Energia e Comunicações.

Ainda na área de infraestrutura, é possível que outro ex-ministro volte a ocupar o Ministério de Minas e Energia: o senador Edison Lobão (PMDB-MA). O nome de Lobão é citado frequentemente por dirigentes de estatais do setor elétrico e também por parlamentares.

Jucá acredita ainda que o próximo governo deverá também prestigiar nomes que foram derrotados ou que não participaram das últimas eleições, mas que são importantes em seus partidos, como Aloízio Mercadante (PT), e Ciro Gomes (PSB).

Uma fonte do PT confirmou à Reuters que o nome da diretora de Gás e Energia da Petrobras, Maria das Graças Foster, é aposta praticamente certa para posição de destaque no governo. Mulher de confiança da presidente eleita, Foster é cotada para assumir a presidência da Petrobras --estatal onde é funcionária de carreira e, atualmente, diretora de Gás e Energia-- ou mesmo a Casa Civil.

Dutra deve entregar a Dilma nos próximos dias, depois que ela retornar da reunião do G20, um relatório elaborado a partir da conversa com os partidos aliados.

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