Trabalhador busca bico de fim de ano para saldar dívidas
O resultado reflete o elevado nível de comprometimento da renda das famílias com pagamento de dívidas, além da manutenção da inadimplência em níveis elevados
Da Redação
Publicado em 5 de novembro de 2012 às 11h48.
São Paulo - Quase um quarto dos trabalhadores que procuram emprego temporário neste fim de ano têm como objetivo obter uma renda extra para pagar dívidas. Destes, mais da metade (59%) já está empregada e nunca prestou serviços temporários anteriormente (54%), aponta uma pesquisa inédita feita pela Vagas Tecnologia, com base em currículos cadastrados no site da empresa.
O resultado reflete o elevado nível de comprometimento da renda das famílias com pagamento de dívidas, além da manutenção da inadimplência em níveis elevados.
Dados do Banco Central mostram que 22,44% da renda das famílias está comprometida com dívidas. E, por três meses seguidos - julho, agosto e setembro -, a inadimplência média do brasileiro estacionou em 7,9% dos contratos.
"Antes, quem buscava um trabalho temporário de fim de ano era o desempregado para obter alguma renda. Agora, são os endividados que estão à procura de uma segunda jornada para quitar prestações", diz Fernanda Diez, gerente de Relacionamento com Candidatos da empresa e responsável pela pesquisa.
De acordo com ela, a enquete foi feita na segunda quinzena do mês passado. Foram consultadas cerca de 700 pessoas online. Como é a primeira vez que a pesquisa é feita, não há dados comparativos. Mas os resultados são compatíveis com o cenário atual de endividamento e inadimplência, observa.
Quem está empregado e quer obter renda extra com trabalho temporário normalmente busca uma vaga no setor de comércio e serviços, onde geralmente as jornadas são mais flexíveis. Além disso, é nesse setor que a oferta de vagas deve apresentar modesto crescimento este ano, enquanto a indústria dá marcha à ré. Na Zona Franca de Manaus, polo de produção de eletroeletrônicos, bicicletas e motocicletas, as contratações de temporários neste ano devem oscilar entre 3 mil e 4 mil vagas, informa o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas, Valdemir Santana. Esse número de vagas é a metade da de 2011.
Estudo da Confederação Nacional do Comércio (CNC) projeta crescimento pequeno nas contratações de temporários este ano. Nas contas de Marianne Hanson, economista da CNC, as empresas do varejo devem abrir 134 mil vagas temporárias em todo o País, uma quantidade 1,3% maior em relação a 2011. No ano passado, houve crescimento de 2,6% nas contratações de temporários no varejo.
"O menor ritmo de crescimento deste ano reflete a maior cautela dos empresários em relação aos seus investimentos, por conta das incertezas relacionadas à economia internacional e à capacidade de crescimento do mercado doméstico, cujo ritmo tem sido abaixo do esperado", explica Marianne.
O coordenador da Fundação Seade, Alexandre Loloian, tem uma explicação diferente para o pequeno aumento nas contratações temporárias. "Há sinais de mudança no comportamento dos empregadores no trato com seus empregados. Com a baixa atividade, não se verificou redução do emprego. O que pode acontecer agora com a retomada do crescimento é as empresas não contratarem muita gente."