Economia

Soja barata dos EUA atrai compradores chineses apesar da tensão comercial

O comércio de soja americana para a China diminui muito desde que os dois países começaram a aplicar tarifas sobre as importações

Soja: Quem tem a coragem de importar soja norte-americana? O risco político é alto demais, disse um importador chinês (Roberto Samora/Reuters)

Soja: Quem tem a coragem de importar soja norte-americana? O risco político é alto demais, disse um importador chinês (Roberto Samora/Reuters)

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Reuters

Publicado em 21 de setembro de 2018 às 11h23.

Xian/Pequim - Ao menos duas cargas de soja dos Estados Unidos estão a caminho da China, com alguns compradores dispostos a tomar o risco diante de preços baixos da oleaginosa no país, mesmo em meio a preocupações de que Pequim possa tomar novas medidas para conter importações dos EUA devido às crescentes tensões comerciais com Washington.

O transporte da soja dos EUA para a China praticamente parou desde que Pequim impôs pesadas tarifas sobre 50 bilhões de dólares em importações dos EUA, incluindo soja, em retaliação a um movimento similar de Washington.

Ainda assim, o navio graneleiro Ultra Panther deve chegar ao sul da China nesta sexta-feira, enquanto a Elsa S atracará no porto de Qingdao, na província de Shandong, em 26 de setembro, segundo dados de navegação do Thomson Reuters Eikon.

Os compradores da soja, que é utilizada para fabricação de ração animal e óleo de cozinha, não são conhecidos, e as cargas podem ter sido encomendadas antes da introdução das tarifas.

Mas os embarques chamaram a atenção de operadores que dizem que estão ficando longe do mercado norte-americano devido ao risco de maiores bloqueios à soja dos EUA.

"Quem quer que esteja comprando essas cargas é realmente grande. Nós não ousaríamos comprar dos EUA agora", disse um operador de uma empresa estatal.

Alguns operadores temem que as alfândegas chinesas possam ser mais lentas na liberação de compras dos EUA, ao intensificar inspeções, como aconteceu com carne de porco e frutas mais cedo neste ano.

A soja ganhou um lugar central na prolongada disputa comercial entre as duas maiores economias globais, com Pequim mirando produzidos em Estados como o Iowa, que votou por Donald Trump na eleição para a presidência dos EUA de 2016.

A oleaginosa, muito cultivada no Iowa e no Nebraska, foi o maior produto agrícola de exportação dos EUA para a China no ano passado, com 12,8 bilhões de dólares em valor.

"Quem tem a coragem de importar soja norte-americana? O risco político é alto demais", disse um importador. "Nunca nos atreveríamos a ser os primeiros", adicionou.

O incentivo, no entanto, é grande, uma vez que os preços de exportação FOB do Golfo dos EUA caiu 30 por cento desde abril, para mínimas na década de cerca de 316 dólares por tonelada, enquanto os preços de exportações do Brasil subiram com a busca dos chineses por outras fontes de suprimento.

Mesmo com a tarifa adicional de 25 por cento, a soja dos EUA ainda está mais barata que a oferta do Brasil, e a diferença entre os dois produtores em outubro cresceu para um recorde nesta semana.

Ainda assim, a maior parte dos compradores chineses aumentou os negócios com soja do Brasil nos últimos meses, com medo de uma oferta mais apertada no quarto trimestre, quando a soja dos EUA geralmente domina o mercado com a chegada da colheita de outono.

"O preço de importação da soja brasileira saltou para cerca de 3.500 iuanes por tonelada depois dos impostos, o que está em torno dos mesmos níveis que a soja dos EUA", disse Tian Hao, analista sênior da First Futures. "Mas os processadores não estão trazendo soja dos EUA, pois não ousam fazê-lo, a menos que o governo dê uma aprovação explícita. É uma questão política", disse Tian.

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