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Sindicatos resistem a privatizações em energia

Sinais do governo interino sobre privatizações na área de energia têm gerado otimismo no mercado, mas acenderam sinal de alerta entre os sindicatos

Energia: sindicalistas já estudam realizar paralisações na Eletrobras na próxima semana (Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
DR

Da Redação

Publicado em 29 de junho de 2016 às 16h47.

São Paulo - Os primeiros movimentos do governo interino sobre a política a ser adotada para o setor de energia do Brasil, com foco em venda de ativos de gigantes estatais como a Eletrobras , têm gerado otimismo no mercado, mas acenderam sinal de alerta entre os sindicatos de trabalhadores.

Enquanto os investidores se animam com a possibilidade de uma série de privatizações em energia que poderiam atingir proporções não vistas desde um amplo programa de venda de estatais brasileiras nos anos 90, as federações sindicais prometem resistir como puderem, realizando grandes greves.

Atualmente, os sindicalistas já estudam realizar paralisações na Eletrobras na próxima semana, em meio a uma negociação salarial junto à estatal que inclui também críticas aos planos de desinvestimentos da empresa.

"A gente é contrário, veementemente contrário... se mexer com as empresas, falar que vai privatizar, fatalmente vamos fazer greve por tempo indeterminado", afirmou à Reuters o presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Energia (Fenatema), Eduardo de Vasconcellos, o "Chicão".

Ele disse que a Fenatema já demonstrou essa posição em uma reunião com o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, mesmo tendo entre seus filiados a Força Sindical, que apoia o governo.

As ameaças dos sindicatos de trabalhadoras, no entanto, não estão por ora no foco do mercado, que observa com otimismo o discurso pró-privatização e a nomeação de técnicos de renome para cargos importantes no setor de energia.

Tais fatores ajudaram a impulsionar uma disparada de mais de 50 por cento nas ações ordinárias da Eletrobras desde que Michel Temer assumiu interinamente. A elétrica federal, vista por especialistas como vítima de longa data da interferência política no setor elétrico, acumula mais de 34 bilhões de reais em prejuízos desde 2012, quando aceitou uma queda de receitas no âmbito de um plano do governo federal para reduzir as tarifas de energia e incentivar a indústria.

"Há uma perspectiva positiva de que as coisas vão melhorar... não estão resolvidos os problemas do setor ainda, mas é expectativa e o mercado precifica", afirmou à Reuters a sócia líder em energia da Deloitte, Iara Pasian.

Segundo ela, o governo dá sinais de que levará a sério a agenda econômica, o que é um sinal positivo, embora ainda exista alguma incerteza quanto à própria continuidade da gestão Temer e à possibilidade de cumprir os planos já esboçados.

Entre as indicações elogiadas estão a de Wilson Ferreira Jr., atual CEO da CPFL, para novo presidente de Eletrobras, além do consultor Luiz Barroso para o comando da estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e do ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) Paulo Pedrosa para a secretaria-executiva do Ministério de Minas e Energia.

"Esse time é um timaço, uma seleção, quase um Barcelona dos bons tempos", brincou o professor de Engenharia da Energia da Universidade de São Paulo (USP) Dorel Ramos. Ele lembrou, no entanto, que o governo terá um difícil caminho à frente, uma vez que as privatizações são um tema controverso e que deve gerar resistência.

SINDICATOS REAGEM

O governo sinalizou que a Eletrobras deverá tentar vender todas suas sete distribuidoras de energia, a começar pela goiana Celg-D, que já tem leilão de privatização agendado para agosto. Também está em estudo a venda de fatias minoritárias em ativos que podem somar 20 bilhões de reais.

Mas os sindicatos já iniciaram movimento contrário aos planos. Além da Fenatema, o assunto mobiliza a Federação Nacional dos Urbanitários (FNU), entidade ligada à Central Única dos Trabalhadores (CUT), que é próxima ao PT da presidente afastada Dilma Rousseff e subiu o tom das críticas.

"Esse governo interino quer se desfazer de tudo que é estatal no país e o setor elétrico infelizmente é a bola da vez. Estamos nos preparando para fazer um grande movimento para mostrar que quem vai ser penalizado com isso é a população", afirmou o secretário de Energia da FNE, Fernando Pereira.

Ambas as federações admitem que as estatais sofrem com resultados negativos e excesso de indicações políticas, mas defendem que é possível melhorar a gestão e os lucros das empresas sem vendê-las.

Na terça-feira, a Reuters publicou que o excesso de pessoal e a ineficiência de distribuidoras de energia estatais são alvo de uma apuração do Tribunal de Contas da União.

"Tem que fazer uma experiência de gestão profissional dentro das empresas, profissionalizar... e não ficar com esse discurso único e exclusivo de se livrar do ativo para se livrar do problema", afirmou Chicão.

No momento, tanto FNU quanto Fenatema tentam obter junto à Eletrobras um reajuste salarial para os trabalhadores que ao menos evite perdas inflacionárias e ameaçam iniciar greves na próxima semana caso não as negociações não avancem.

Procurada, a Eletrobras não comentou as tratativas com os sindicatos e nem a possibilidade de greve.

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São Paulo - Os primeiros movimentos do governo interino sobre a política a ser adotada para o setor de energia do Brasil, com foco em venda de ativos de gigantes estatais como a Eletrobras , têm gerado otimismo no mercado, mas acenderam sinal de alerta entre os sindicatos de trabalhadores.

Enquanto os investidores se animam com a possibilidade de uma série de privatizações em energia que poderiam atingir proporções não vistas desde um amplo programa de venda de estatais brasileiras nos anos 90, as federações sindicais prometem resistir como puderem, realizando grandes greves.

Atualmente, os sindicalistas já estudam realizar paralisações na Eletrobras na próxima semana, em meio a uma negociação salarial junto à estatal que inclui também críticas aos planos de desinvestimentos da empresa.

"A gente é contrário, veementemente contrário... se mexer com as empresas, falar que vai privatizar, fatalmente vamos fazer greve por tempo indeterminado", afirmou à Reuters o presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Energia (Fenatema), Eduardo de Vasconcellos, o "Chicão".

Ele disse que a Fenatema já demonstrou essa posição em uma reunião com o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, mesmo tendo entre seus filiados a Força Sindical, que apoia o governo.

As ameaças dos sindicatos de trabalhadoras, no entanto, não estão por ora no foco do mercado, que observa com otimismo o discurso pró-privatização e a nomeação de técnicos de renome para cargos importantes no setor de energia.

Tais fatores ajudaram a impulsionar uma disparada de mais de 50 por cento nas ações ordinárias da Eletrobras desde que Michel Temer assumiu interinamente. A elétrica federal, vista por especialistas como vítima de longa data da interferência política no setor elétrico, acumula mais de 34 bilhões de reais em prejuízos desde 2012, quando aceitou uma queda de receitas no âmbito de um plano do governo federal para reduzir as tarifas de energia e incentivar a indústria.

"Há uma perspectiva positiva de que as coisas vão melhorar... não estão resolvidos os problemas do setor ainda, mas é expectativa e o mercado precifica", afirmou à Reuters a sócia líder em energia da Deloitte, Iara Pasian.

Segundo ela, o governo dá sinais de que levará a sério a agenda econômica, o que é um sinal positivo, embora ainda exista alguma incerteza quanto à própria continuidade da gestão Temer e à possibilidade de cumprir os planos já esboçados.

Entre as indicações elogiadas estão a de Wilson Ferreira Jr., atual CEO da CPFL, para novo presidente de Eletrobras, além do consultor Luiz Barroso para o comando da estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e do ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) Paulo Pedrosa para a secretaria-executiva do Ministério de Minas e Energia.

"Esse time é um timaço, uma seleção, quase um Barcelona dos bons tempos", brincou o professor de Engenharia da Energia da Universidade de São Paulo (USP) Dorel Ramos. Ele lembrou, no entanto, que o governo terá um difícil caminho à frente, uma vez que as privatizações são um tema controverso e que deve gerar resistência.

SINDICATOS REAGEM

O governo sinalizou que a Eletrobras deverá tentar vender todas suas sete distribuidoras de energia, a começar pela goiana Celg-D, que já tem leilão de privatização agendado para agosto. Também está em estudo a venda de fatias minoritárias em ativos que podem somar 20 bilhões de reais.

Mas os sindicatos já iniciaram movimento contrário aos planos. Além da Fenatema, o assunto mobiliza a Federação Nacional dos Urbanitários (FNU), entidade ligada à Central Única dos Trabalhadores (CUT), que é próxima ao PT da presidente afastada Dilma Rousseff e subiu o tom das críticas.

"Esse governo interino quer se desfazer de tudo que é estatal no país e o setor elétrico infelizmente é a bola da vez. Estamos nos preparando para fazer um grande movimento para mostrar que quem vai ser penalizado com isso é a população", afirmou o secretário de Energia da FNE, Fernando Pereira.

Ambas as federações admitem que as estatais sofrem com resultados negativos e excesso de indicações políticas, mas defendem que é possível melhorar a gestão e os lucros das empresas sem vendê-las.

Na terça-feira, a Reuters publicou que o excesso de pessoal e a ineficiência de distribuidoras de energia estatais são alvo de uma apuração do Tribunal de Contas da União.

"Tem que fazer uma experiência de gestão profissional dentro das empresas, profissionalizar... e não ficar com esse discurso único e exclusivo de se livrar do ativo para se livrar do problema", afirmou Chicão.

No momento, tanto FNU quanto Fenatema tentam obter junto à Eletrobras um reajuste salarial para os trabalhadores que ao menos evite perdas inflacionárias e ameaçam iniciar greves na próxima semana caso não as negociações não avancem.

Procurada, a Eletrobras não comentou as tratativas com os sindicatos e nem a possibilidade de greve.

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