Siderúrgicas pedem que Temer defenda exclusão do país de tarifas
Presidente já cogita rever a decisão de suspender a aplicação de medidas antidumping aprovadas pela Camex em janeiro deste ano
Reuters
Publicado em 20 de março de 2018 às 19h06.
Última atualização em 20 de março de 2018 às 19h44.
Brasília - O presidente Michel Temer deve telefonar pessoalmente ao presidente dos Estados Unidos , Donald Trump , para pedir a exclusão das empresas brasileiras da tarifa de importação de aço do país e já cogita rever a decisão de suspender a aplicação de medidas antidumping aprovadas pela Camex em janeiro deste ano, informou o presidente do conselho diretor do Instituto Aço Brasil (IABr), Alexandre Lyra.
"Esse foi nosso principal pleito, que o presidente explique ao presidente Trump porque o Brasil deve ser excluído da 232", disse Lyra ao sair de uma audiência com Temer e se referindo à regra aplicada pelos EUA para adotar tarifa de 25 por cento sobre importações de aço.
Segundo Lyra, foram apresentadas ao presidente uma série de justificativas do porquê o Brasil deveria ser excluído das medidas.
"Apesar do Brasil ser o segundo maior exportador de aço para os Estados Unidos, 80 por cento disso é reprocessado lá. Não roubamos emprego, somos parte da cadeia", disse Lyra. "Ao mesmo tempo, o Brasil é o maior importador de carvão mineral dos EUA, então existe esta complementariedade."
Outras medidas
Os representantes do IABr pediram, ainda, que o governo tome outras medidas para facilitar a situação da indústria siderúrgica frente ao risco de que o Brasil passe a ser atingido por aumento de importações de aço, já que poderá haver sobra no mercado com as dificuldades de venda aos Estados Unidos.
Temer admitiu avaliar a possibilidade de rever a suspensão de medida antidumping aprovada pela Camex em janeiro deste ano contra Rússia e China. Apesar da aprovação, a medida foi suspensa por um ano, por temor de retaliações na área agrícola.
"Foi o famoso 'ganhou, mas não levou'", disse Lyra. "O presidente se comprometeu a avaliar junto à Camex o levantamento dessa suspensão."
"O Brasil tem que estar atento porque o aço que não conseguir entrar nos EUA por causa da 232 vai vir para cá. O Brasil é alvo fácil, é uma grande economia que está em processo de recuperação. Se os mecanismos de defesa não forem efetivos esse aço vai vir para cá", explicou.
Mais cedo, o presidente da entidade que representa os distribuidores de aços planos no Brasil, Inda, Carlos Loureiro, afirmou que vê chance do Brasil conseguir se isentar das tarifas de importação dos EUA pois o país precisa do aço semiacabado brasileiro para movimentar suas usinas de laminação.
O IABr pediu ainda que o governo reveja o percentual do Reintegra - programa que devolve às empresas 2 por cento do faturamento com exportações de manufaturados como compensação por impostos indiretos.
No ano passado, Temer já havia prometido elevar o índice para 3 por cento, o que nunca foi feito. O IABr quer que esse percentual chegue a 5 por cento, valor que a indústria considera mais competitivo.
OMC
Temer disse ainda aos representantes da indústria que conversou com chefes de Estado, como o primeiro-ministro da Coreia do Sul, Lee Nak-yeon, sobre a possibilidade de adotar ações conjuntas na Organização Mundial do Comércio (OMC), se as negociações individuais com os EUA não derem resultado.
As tarifas de importação de 25 por cento sobre o aço importado e de 10 por cento sobre o alumínio entram em vigor na sexta-feira. Trump admitiu abrir negociações individuais para excluir determinados países das tarifas, e o Brasil tenta ser enquadrado nessa possibilidade.
Outra alternativa é que empresas com base nos EUA peçam a exclusão das suas importações. Segundo Lyra, as empresas com unidades nos Estados Unidos, como Gerdau e CSN, e Vallourec - do qual ele próprio é diretor - já fizeram esse pedido ao Departamento de Comércio norte-americano.