Economia

Santanna promete baratear banda larga para quem já usa serviço

Segundo presidente da Telebrás, as velocidades menores são um pacote de entrada e o estímulo à concorrência deve diminuir os custos de quem é usuário de internet rápida

Rogério Santanna aposta na queda dos preços dos serviços de banda larga (.)

Rogério Santanna aposta na queda dos preços dos serviços de banda larga (.)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

Brasília - Resgatada para instaurar o Plano Nacional da Banda Larga (PNBL), a Telebrás deve voltar à ativa nos próximos dois meses, prevê o presidente da estatal, Rogério Santanna. Ex-secretário de Logística e TI do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Santanna diz, em entrevista ao site EXAME, que apostaria nos papeis da Telebrás e rebate as críticas de que a banda larga do governo seria lenta.

Exame - Quais as oportunidades que o senhor enxerga na nova fase da Telebrás?

Rogério Santanna - Nós temos a oportunidade de resgatar um atraso da penetração da banda larga. Hoje a banda larga no Brasil é essencialmente concentrada nas regiões urbanas, nos bairros mais ricos das cidades. O pacote médio de entrada na banda larga é de R$ 96 e nós queremos que esse valor caia para R$ 35. E ainda oferecer uma velocidade pelo menos aceitável para utilizar as aplicações de hoje. À medida que as aplicações demandem mais velocidade, nós também temos que elevar a velocidade e acompanhar a exigência de uma boa utilização para os principais serviços oferecidos hoje pela internet.

Exame - Já existe uma projeção de quanto será a velocidade média da internet oferecida pelo Plano Nacional da Banda Larga?

Rogério Santanna - Nós modelamos um acesso com a velocidade entre 512 e 794 Kbps com a pretensão de que, dado esse preço, a velocidade a cada ano cresça mais 10%. O que quer dizer que a cada ano fica mais barato comprar a mesma velocidade. Nós vamos oferecer mais velocidade pelo mesmo preço, de forma que em 2014 o plano possa estar oferecendo 2 Mb por esses mesmo R$ 35.

Exame - Alguns especialistas têm apontado que a banda larga do governo não é, de fato, banda larga já estará na faixa de um terço da velocidade considerada banda larga pelos padrões internacionais (1,5 Mb). Como o governo se posiciona nessa questão?

Rogério Santanna - O complicado é lançar a infraestrutura da conexão da linha principal até a cidade e esta é uma estrutura que falta no mundo inteiro. É caro fazer essa montagem. Depois, aumentar a velocidade é questão de demanda, se há mais demanda, não há problema. E o que o Governo Federal propôs é oferecer um pacote de entrada mais barato, não um limitador de velocidade. O pacote de entrada hoje, de 256 Kbps, custa R$ 65. E se os que estão reclamando disso estão falando a verdade, o Brasil não tem banda larga porque só 1% das conexões são acima de 8 Mb e 34% das conexões são até 256 Kbps. Portanto, a população brasileira que contrata internet hoje não conhece banda larga, porque de fato não temos. O plano evita definir o que é uma conexão rápida porque ela muda com o tempo em função dos aumentos das aplicações. E esse é um pacote de entrada, não é um pacote máximo ou um pacote médio a ser oferecido. Isso significa que o brasileiro que tiver menos dinheiro vai poder contratar essa velocidade por R$ 35, mas quem tiver mais dinheiro vai poder contratar velocidades muito mais altas, por um preço muito mais baixo do que o praticado hoje. 

    <hr>                                  <p class="pagina"><strong>Exame - Então quem já tem serviço de banda larga vai sentir no bolso uma diminuição deste valor?<br><br>Rogério Santanna -</strong> O diagnóstico do governo é de que é preciso interferir no processo usando uma rede neutra, mais barata, para fazer com que os provedores possam oferecer ao usuário final um preço menor. O papel da Telebrás é oferecer essa linha a um preço reduzido e permitir que o operador de uma região possa concorrer com os outros. Isso fará com que aumente a concorrência entre os provedores de acesso, e o preço baixe. E possa trazer também para o cenário da disputa pequenos empreendedores que hoje não participam.<br><br><strong>Exame - Quais os prazos? Quando o consumidor verá o plano em ação?<br><br>Rogério Santanna -</strong> Nos próximos dois meses, vamos estruturar a empresa e, em seguida, preparar os editais para contratar a iluminação das fibras ópticas. É nossa meta construir o anel Sudeste e o anel Nordeste ainda este ano e iluminar cerca de 100 cidades. Aí estarão envolvidas 15 capitais que estão nesses anéis e mais 85 cidades que ainda vamos decidir. As outras 85 serão escolhidas pelo Conselho Gestor de Inclusão Digital depois de discutir com estados, municípios e movimentos sociais e levando em consideração as dificuldades técnicas.<br><br><strong>Exame - Qual vai ser o papel das empresas privadas no PNBL?<br><br>Rogério Santanna -</strong> A pretensão do plano é não atuar na última milha, na ligação da chegada na cidade até o ponto do usuário final. Nós esperamos que os provedores privados façam esse papel e a Telebrás só entrará em lugares onde as atuais operadoras e mesmo pequenos provedores não vêem negócio e não consideram viáveis. Ela se encarregará de desenvolver modelos de negócios que sejam rentáveis. A pretensão da Telebrás é abordar métodos diferentes de como fazer isso, tanto na parte de engenharia eletrônica como no ponto de vista de gestão de marketing, de empreendimentos sociais, a inclusão de lan houses, pequenas empresas, pequenos nichos de mercado. Fazer uma abordagem criativa para encontrar novas soluções.<br><br><strong>Exame - Há um grupo de empresas protestando contra a forma escolhida pelo Governo para a gestão do PNBL. Como está o diálogo do Governo com os grupos privados?<br><br>Rogério Santanna -</strong> Nós vemos uma situação em que as grandes operadoras aqui tem mercado de voz. O mercado de voz está indo mundialmente para se tornar uma commodity gratuita. Vamos estabelecer uma comparação com o Japão, que hoje é 4,5 vezes mais barato e tem uma densidade de penetração cinco vezes maior que a nossa. No Japão, 30% do mercado é voz, e 70% do mercado são dados. No Brasil, 80% do mercado é voz, e 20% são dados. O que acontece com o país se a banda larga se institui em grande escala? O mercado de voz diminui de tamanho. E estamos falando de um mercado de R$ 173 bilhões, dos quais mais ou menos R$ 144 bilhões são voz - metade fixa, metade móvel - e tirando os impostos sobram R$ 100 bilhões. Essa situação vai mudar, se a banda larga se tornar barata e acessível, porque o preço da voz vai ter que baixar e eles vão perder participação de mercado. Na verdade, a indústria luta para que a regulação proteja seu mercado de voz. No cenário da convergência digital, a tendência é que um entre no mercado do outro, e a luta de todos eles é fazer com que haja barreiras de regulação que impeçam que seus concorrentes entrem no mercado deles. Porém, ninguém quer barreiras de entrada no mercado dos outros.</p>        <hr>                                                               <p class="pagina"><br><strong>Exame - Como a mudança de governo pode interferir na execução do PNBL<br><br>Rogério Santanna - </strong>O Brasil, felizmente, conseguiu atingir uma maturidade e acho muito difícil que qualquer candidato que vença as eleições possa considerar que não ter um plano de banda larga é uma estratégia adequada para os tempos modernos. Há mais de 16 países fazendo esses planos. Não acredito que o Brasil vá retroceder a ponto de desprezar isso. Se um governo tomar uma decisão como essa vai ter um prejuízo social muito grande.<br><br><strong>Exame - Como o senhor avalia a situação da Telebrás no mercado de ações?<br><br>Rogério Santanna -</strong> Ouvi algumas pessoas dizerem que houve especulação por causa de vazamento de informação privilegiada. Mas é preciso lembrar que em dezembro de 2007, o Governo decidiu que existia a possibilidade de utilizar a Telebrás para fazer inclusão digital e banda larga e publicou um fato relevante dizendo isso. Em dezembro de 2008, o Governo internalizou R$ 200 milhões, também dizendo que estava fazendo isso em função daqueles objetivos e os investidores compraram mais R$ 3 milhões. Então o investidor que vem acompanhando atentamente, olhando os balanços da empresa, fez sua decisão. É da natureza do mercado essa oscilação.<br><br><strong>Exame - Se o senhor fosse um investidor, teria segurança em apostar na Telebrás?<br><br>Rogério Santanna -</strong> Certamente apostaria, senão não seria presidente da empresa. Tenho a obrigação de acreditar que ela só vai melhorar.<br><br><strong>Exame - O Governo pretende utilizar o mercado de capitais para capitalizar a empresa?<br><br>Rogério Santanna -</strong> O Governo não conta com isso, pelo menos por enquanto, para implementar o plano. Mas naturalmente por ter acionistas minoritários, ele tem direito de fazer isso para ampliação do capital.<br><br><strong>Exame - Existe alguma intenção de recompra das ações da Telebrás?<br><br>Rogério Santanna -</strong> O Governo tem cerca de 90% das ações ordinárias da empresa e não pretende eliminar os investidores nem fechar o capital da empresa. Por enquanto essa discussão não foi feita.<br><br>Vídeo: <a href="http://portalexame.com/exametv/economia/banda-larga-governo-lenta-2017aab3c16157ec84f5c45d70b98830.shtml">assista a trechos da entrevista com o presidente da Telebrás</a><br><br>Leia mais: <a href="http://portalexame.com/revista/exame/edicoes/0963/economia/estado-grande-ou-estado-forte-537394.html">Estado grande ou estado forte?</a><br><br>Leia mais: <a href="http://portalexame.com/revista/exame/edicoes/0963/tecnologia/gigabits-frente-537092.html?page=3">Gigabits à frente</a></p>        
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