Economia

Saída de Temer não é o melhor para a economia, avalia consultoria

Declaração foi dada em conferência online da GO Associados para analisar as perspectivas econômicas e políticas após a delação de Joesley Batista

Michel Temer: consultoria avalia que, com os fatos conhecidos até o momento, a saída do presidente do cargo não se justificaria (Ueslei Marcelino/Reuters)

Michel Temer: consultoria avalia que, com os fatos conhecidos até o momento, a saída do presidente do cargo não se justificaria (Ueslei Marcelino/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 19 de maio de 2017 às 12h16.

São Paulo - O economista e sócio da GO Associados Gesner Oliveira afirmou que, na visão da consultoria, o melhor cenário para a economia brasileira não é a saída do presidente Michel Temer do poder.

A declaração foi dada em conferência online da GO para analisar as perspectivas econômicas e políticas após a delação do dono da JBS, Joesley Batista, atingir o presidente.

"O melhor cenário é um processo estável, obviamente com a continuidade das investigações necessárias", completou Gesner.

Na opinião do economista, o áudio da conversa entre Joesley e Temer foi inconclusivo e mostrou "distorção brutal" entre a notícia antes da divulgação da gravação e seu conteúdo em si.

A informação inicial divulgada pelo jornal "O Globo" era de que o presidente teria dado aval para a compra de silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha.

"Foi uma situação similar a da Operação Carne Fraca, em que havia verdades, mas a divulgação foi desproporcional aos acontecimentos."

A consultoria agora trabalha com dois cenários para os indicadores econômicos: o primeiro considera que a instabilidade política vai se dissolver de maneira razoavelmente rápida, dando continuidade à política econômica e às reformas em curso; o outro, mais pessimista, espera que a indefinição vai se prolongar até o final deste ano, com piora da confiança e dos ativos brasileiros em decorrência disso.

O economista Luiz Castelli, também da GO, explicou que fez um exercício do "pior cenário" com o Risco País alcançando o mesmo patamar do auge da crise do governo Dilma. Assim, o dólar poderia chegar a R$ 3,66 no final do ano. A Bolsa poderia cair a 48 mil pontos.

No cenário extremo, a queda do juro terminaria no nível de 10% no fim de 2017, ante 8,5%, e, neste mês, o Copom optaria por um corte de 0,50 ponto porcentual.

A atividade também seria prejudicada pela piora na confiança e o recuo menor da Selic.

Em 2017, há possibilidade de continuidade da recessão, com nova retração do PIB, que pode ficar entre 1% e 1,5%. A GO também vê reflexos para 2018, com o PIB ficando estável ante previsão de crescimento de 2,5%.

Futuro de Temer

Do ponto de vista jurídico, a GO avalia que, com os fatos conhecidos até o momento, a saída de Temer do cargo não se justificaria, segundo o sócio executivo da área jurídica da consultoria, Fernando Marcato.

Em sua análise, Temer poderia ser investigado por crime comum, de prevaricação e obstrução de Justiça pelo STF. Há também a possibilidade de inclusão da delação da JBS no processo de cassação da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral. "Mas nós acreditamos que nem TSE nem o STF vão interferir no processo de retirada do presidente."

Marcato diz que a delação da JBS, em princípio, não está relacionada com o objeto da ação no TSE, que investiga o abuso de poder econômico nas eleições de 2014. Já, no STF, o áudio da conversa entre Temer e Joesley é insuficiente para provar crimes e, então, precisariam de muitas outras provas.

Outra possibilidade seria o enquadramento de Temer em crime de responsabilidade, dentro da lei do impeachment. "O que seria um processo mais político, que dependeria mais do Congresso, e não precisaria de tantas provas."

Sobre a JBS, a operação no mercado de câmbio com informação privilegiada deve ser alvo de processo na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), disse Marcato. "De fato, pode configurar crime."

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