Economia

Retomada “frágil, lenta e gradual” será atingida em cheio pela greve

Previsões para o PIB do ano caem abaixo dos 2%; greve derruba produção e confiança de consumidores e investidores

Vendedores com vegetais na Ceagesp no último dia 24 de maio (Rodrigo Capote/Bloomberg)

Vendedores com vegetais na Ceagesp no último dia 24 de maio (Rodrigo Capote/Bloomberg)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 30 de maio de 2018 às 12h14.

Última atualização em 30 de maio de 2018 às 13h43.

São Paulo - A economia brasileira já não estava brilhando e sofreu um novo baque.

Este é o diagnóstico feito por economistas a partir do Produto Interno Bruto (PIB) divulgado nesta quarta-feira (30) pelo IBGE e dos impactos da greve dos caminhoneiros.

Consultorias e instituições estão revisando para baixo as suas projeções de crescimento em 2018:

AntesDepois
Goldman Sachs2,30%2,00%
Ibre/FGV2,30%1,90%
MB Associados2,50%1,90%
Austin Ratings2,80%2,30%

1º trimestre

O PIB do 1º trimestre cresceu 0,4% em relação ao anterior e 1,2% em relação ao mesmo período de 2017. Dentro das expectativas, mas que já haviam esfriado nas últimas semanas.

"O crescimento pós-recessão, em geral mais rápido, está lento e gradual. Tanto consumo quanto investimento, os dois principais motores, estão fracos. Estamos muito longe de recuperar tudo que perdemos", diz Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV).

O consumo das famílias, responsável por 70% do PIB, cresceu pela quarta vez seguida na base anual.

É um reflexo de inflação baixa, queda dos juros e melhora do crédito, limitada pelo spread (diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa efetivamente cobrada ao consumidor final).

Mas houve desaceleração no trimestre, a recuperação do mercado de trabalho é muito tênue e segmentos importantes como a Construção seguem em queda.

"A demanda final vem desacelerando há três trimestres. Tirando a supersafra do começo de 2017, o resto continua bem devagar. Indústria e Serviços foram medíocres, com alta trimestral de apenas 0,1%", diz Alberto Ramos, chefe de pesquisa macroeconômica para América Latina do Goldman Sachs.

O cenário internacional também ficou mais complicado recentemente com maior expectativa de altas de juros nos Estados Unidos, o que torna outros ativos menos atrativos em comparação. A MB verificou desaceleração do crescimento econômico em vários países no começo do ano.

Greve

O dado do 1º trimestre já nasceu velho, e a dúvida agora é sobre o impacto que a greve dos caminhoneiros terá do 2º trimestre em diante.

"A paralisação não gera apenas impactos de curto prazo – ao reduzir, na prática, o número de dias úteis no 2º tri –, mas também efeitos mais persistentes e deletérios no estado de ânimo dos agentes", escreve Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, em relatório.

Há efeitos direitos de perda de produção, calculados em R$ 50 bilhões até agora, de atividades não realizadas por causa da falta de transporte e de alta da inflação momentânea com o desabastecimento.

Mas também há efeitos indiretos de desvalorização do real e de empresas como a Petrobras, curva de juros mais acentuada e uma posição defensiva tanto de consumidores quanto de investidores.

"A greve ampliou muito a insegurança. O que aconteceu paralisa qualquer decisão e para o investimento é mortal, além de termos uma eleição ainda mais incerta", diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.

Ninguém considera uma volta da recessão, e sim uma intensificação de um cenário de crise política que começou a se desenhar em maio do ano passado, com as evidências de corrupção do presidente Michel Temer.

Um governo fraco perde a capacidade de passar reformas e tem pouca legitimidade para gerir o conflito distributivo. Isso estimula grupos corporativos a buscar vantagens fatais diante do rombo fiscal.

"Quando se pega de um lado, se tira de outro. É complicado dar mais benefícios pois não há espaço no Orçamento mas a sociedade, pelo descrédito com a classe política, tem dificuldade de ver isso. A preocupação é com a sensação de soluções fáceis e saídas populistas", diz Silvia.

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