Estoque de cerveja vencida: lidar com o desperdício de cerveja é apenas um dos muitos efeitos imprevisíveis das quarentenas que fecharam parte da economia global (Foto/Bloomberg)
Beatriz Correia
Publicado em 16 de junho de 2020 às 18h02.
Última atualização em 16 de junho de 2020 às 21h26.
Nas salas de concertos, estádios e bares dos Estados Unidos que ficaram em silêncio durante a pandemia de coronavírus, surgiu um problema atípico: o que fazer com a grande quantidade de cerveja que já passou do prazo de validade para venda.
Em março, mesmo antes das quarentenas, cerca de 38 milhões de litros de cerveja mantidos pelos varejistas já haviam vencido, segundo estimativas da Associação Nacional de Atacadistas de Cerveja.
Com milhares de barris agora devolvidos aos distribuidores diariamente, a Vanguard Renewables em Wellesley, Massachusetts, está entre as empresas que buscam transformar a bebida em gás natural para geração de eletricidade. Outras usarão a cerveja para fabricar álcool gel, mas boa parte da cerveja será simplesmente decantada e descartada.
“Este é um tsunami de barris”, disse John Hanselman, diretor-presidente da Vanguard, que receberá cerca de 227 mil litros por semana para alimentar microrganismos com cerveja vencida em biodigestores que liberam metano, o principal componente do gás natural.
Lidar com o desperdício de cerveja é apenas um dos muitos efeitos imprevisíveis das quarentenas que fecharam parte da economia global.
A dor de cabeça do setor de cervejas vai além da perda de receita, com desafios como encontrar maneiras ambientalmente seguras de descartar a bebida e tentar impedir o roubo dos barris, administrando uma cadeia de suprimentos que não estava preparada para um recall sem precedentes. A Molson Coors Beverage oferece “programas de alívio de barris" para reembolsar bares pela cerveja vencida.
“Temos uma cadeia de suprimentos inteira, de fabricantes de cerveja a distribuidores e varejistas, todos com cerveja em risco em vários estágios da cadeia de suprimentos”, disse Lester Jones, economista-chefe da NBWA em Alexandria, Virgínia.
As perdas podem somar entre US$ 800 milhões a US$ 1 bilhão incluindo todos os segmentos do setor nos EUA, disse Jones.
Para o setor agrícola, a demanda global por malte deve cair 2 milhões de toneladas nos próximos 12 a 24 meses, disse Andries de Groen, diretor da Evergrain, a unidade de cevada da alemã BayWa. O volume representa pouco menos de 10% da demanda global.
“Isso terá um grande impacto”, disse Groen por telefone. “Agricultores já colheram ou plantaram para esta temporada, então parte dessa cevada para malte terá que ser utilizada para alimentar animais. Isso reduzirá o prêmio da cevada para malte em relação à ração daqui para a frente em lugares como Europa, Argentina e Austrália.”