Reintroduzir CPMF seria um retrocesso, diz Persio Arida
Para um dos formuladores do Plano Real, a volta de um imposto sobre movimentações financeiras oneraria, proporcionalmente mais, os mais pobres
Estadão Conteúdo
Publicado em 19 de agosto de 2020 às 14h55.
Última atualização em 19 de agosto de 2020 às 15h16.
Ex-presidente do Banco Central e um dos formuladores do Plano Real, Persio Arida criticou nesta quarta-feira, 19, a ideia defendida pelo ministro Paulo Guedes (Economia), de criação de um imposto sobre transações eletrônicas, considerada uma repaginação da antiga CPMF.
Ao participar de um debate com o economista Arminio Fraga, que presidiu o Banco Central no governo de Fernando Henrique Cardoso, Arida disse que a volta de um imposto sobre movimentações financeiras teria efeito regressivo — ou seja, oneraria, proporcionalmente mais, os mais pobres —, produzindo uma "distorção importante" na dinâmica econômica.
"Seria um retrocesso reintroduzir a CPMF. É algo regressivo e que gera uma distorção importante no funcionamento da economia", disse Arida durante o evento virtual promovido pelo Santander Brasil.
O economista lamentou que a proposta de reforma tributária do governo não elimine nenhuma isenção tributária. "Surpreendentemente, a proposta do governo foi mais tímida do que a do Congresso. Geralmente é o contrário", afirmou Arida.
Ele, por outro lado, considerou um "avanço enorme" o propósito, contido na matéria encaminhada pela equipe econômica, de simplificar o sistema tributário.
Convicção do presidente
Persio Arida afirmou ainda que reformas são parte de uma agenda permanente de um governo, mas que, se o presidente não estiver convicto disso, não adianta. "Reformas são sempre necessárias, mas se não faz a agenda do Congresso, ele faz sua própria agenda", disse. "Precisamos de um presidente que esteja convicto da necessidade da reforma. Ele é quem tem a caneta e que manda em última análise", acrescentou.
Para Arida, os desafios hoje do governo de Jair Bolsonaro são enormes, com a necessidade de retomar a credibilidade em meio a uma onda de desesperança. Nesse contexto, ele sinalizou que nas próximas eleições o país terá a oportunidade de fazer mais e de forma rápida. Para isso, contudo, depende de um presidente com perfil reformista, capacidade de articulação política e que tenha uma boa equipe.
"Nas próximas eleições, se o presidente eleito tiver uma visão clara de país, articulação política e boa equipe conseguirá fazer muito mais", disse ele, citando, por exemplo, as mudanças com o Plano Real. "Problemas não nos faltam. Distorções também não. Dá para fazer muito mais do que se imagina", acrescentou.