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Recessão deve ofuscar benefícios da Olimpíada

A limitação do evento ao Rio, a recessão e o impasse político impedem que a onda de otimismo típica do evento e o legado de infraestrutura atenuem a crise

Olimpíadas 2016: a limitação do evento ao Rio, a recessão e o impasse político impedem que a onda de otimismo típica do evento e o legado de infraestrutura atenuem a crise (Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 4 de janeiro de 2016 às 11h10.

São Paulo - Ainda que seja o maior evento esportivo do planeta, a Olimpíada não será capaz de dar impulso à economia brasileira em 2016, na opinião de especialistas ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.

A limitação do evento à cidade do Rio de Janeiro , a recessão e o impasse político em Brasília impedem que a onda de otimismo típica do evento e o legado de infraestrutura sejam catalisados pelos agentes econômicos para atenuar a crise.

O tom mais pessimista é muito diferente daquele dos anos anteriores à realização da Copa do Mundo, evento que foi apontado como uma grande oportunidade de o País se apresentar para o turismo e os investimentos internacionais.

"As pessoas depositaram uma expectativa exagerada sobre a Copa, talvez para legitimar o evento. Quando chegou ao final, a Copa foi boa para a imagem, deixou um legado. Mas há coisas mais importantes em que o País precisa avançar, como as reformas para a economia deslanchar", afirma o economista do Itaú Unibanco Caio Megale.

Em relatório publicado no início de dezembro, o banco Credit Suisse lembra que os efeitos da Olimpíada no Produto Interno Bruto (PIB) sobre o país-sede são limitados. Ainda assim, com base nos dados das 14 cidades que receberam o evento desde 1960, a média de crescimento é de 6,1% dos países-sede nos anos dos jogos, comparada a uma média de 5,5% nos três anos anteriores e de 5,1% nos três anos após a Olimpíada.

"O crescimento maior para o ano dos Jogos Olímpicos é parcialmente atribuído à aceleração dos investimentos das cidades-sede", diz o relatório, no qual o banco estima que a economia brasileira vai ter retração de 3,5% em 2016.

No caso da capital fluminense, o professor João Saboia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ressalta que os investimentos foram feitos em anos anteriores ao evento. "As construções, as ampliações de vias, as obras de infraestrutura... Nisso tudo houve muito investimento, mas ele foi diluído nos anos anteriores", diz.

Até agora, de acordo com dados da Autoridade Pública Olímpica, o custo oficial do evento é de R$ 38,2 bilhões. Além disso, a Prefeitura do Rio estima que os investimentos no setor de turismo somem o equivalente a US$ 2 bilhões, com geração de 13 mil empregos diretos e 40 mil indiretos.

Apenas no setor hoteleiro são empregadas diretamente mais de 18 mil pessoas e a previsão é de um aumento de 10 mil empregos diretos até este ano.

A estimativa do governo federal é de que 85% das obras no Rio foram concluídas. Um cenário diferente da Copa do Mundo realizada no País em 2014, que, apesar de ter sido realizada no ano passado, ainda tem construções inacabadas.

Legado

Na opinião de Saboia, da UFRJ, a simples realização da Olimpíada representa "muito pouco" para reverter a falta de confiança na economia brasileira. "Não vejo a Olimpíada como uma causa que possa tirar o País do buraco. Nossas dificuldades são muito mais políticas que econômicas. O Congresso emperrou as medidas de ajuste. O que existe hoje é uma desesperança, ninguém está vendo a luz no fim do túnel."

Além do período curto de realização - apenas duas semanas, Saboia destaca que o fato da Olimpíada ser realizada apenas na cidade do Rio de Janeiro faz com que o sentimento em relação a um grande evento esportivo não seja compartilhado com todo o País.

"Certamente vai ter um volume de pessoas e renda circulando na cidade que não é desprezível, mas dentro do que representa na economia brasileira é uma gota d'água. Além disso, os seus efeitos multiplicadores no restante do País são limitados", afirma.

O professor Lúcio Macedo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), é mais otimista e ressalta que a Olimpíada deve atrair 400 mil turistas e que o evento ajuda na profissionalização dos serviços na cidade.

"Há toda uma cadeia envolvida no turismo e no esporte que vem se preparando para os jogos. Isso é o que chamo de legado intangível. O legado tangível são as obras de mobilidade e de infraestrutura urbana", afirma o professor da FGV.

Macedo ressalta que a Olimpíada pode ajudar a melhorar a imagem do Brasil no exterior e funcionar como um impulso em um ano que se desenha complicado no clima político. "A Olimpíada é uma grande oportunidade para que o Brasil se una novamente em torno de uma causa", afirma.

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São Paulo - Ainda que seja o maior evento esportivo do planeta, a Olimpíada não será capaz de dar impulso à economia brasileira em 2016, na opinião de especialistas ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.

A limitação do evento à cidade do Rio de Janeiro , a recessão e o impasse político em Brasília impedem que a onda de otimismo típica do evento e o legado de infraestrutura sejam catalisados pelos agentes econômicos para atenuar a crise.

O tom mais pessimista é muito diferente daquele dos anos anteriores à realização da Copa do Mundo, evento que foi apontado como uma grande oportunidade de o País se apresentar para o turismo e os investimentos internacionais.

"As pessoas depositaram uma expectativa exagerada sobre a Copa, talvez para legitimar o evento. Quando chegou ao final, a Copa foi boa para a imagem, deixou um legado. Mas há coisas mais importantes em que o País precisa avançar, como as reformas para a economia deslanchar", afirma o economista do Itaú Unibanco Caio Megale.

Em relatório publicado no início de dezembro, o banco Credit Suisse lembra que os efeitos da Olimpíada no Produto Interno Bruto (PIB) sobre o país-sede são limitados. Ainda assim, com base nos dados das 14 cidades que receberam o evento desde 1960, a média de crescimento é de 6,1% dos países-sede nos anos dos jogos, comparada a uma média de 5,5% nos três anos anteriores e de 5,1% nos três anos após a Olimpíada.

"O crescimento maior para o ano dos Jogos Olímpicos é parcialmente atribuído à aceleração dos investimentos das cidades-sede", diz o relatório, no qual o banco estima que a economia brasileira vai ter retração de 3,5% em 2016.

No caso da capital fluminense, o professor João Saboia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ressalta que os investimentos foram feitos em anos anteriores ao evento. "As construções, as ampliações de vias, as obras de infraestrutura... Nisso tudo houve muito investimento, mas ele foi diluído nos anos anteriores", diz.

Até agora, de acordo com dados da Autoridade Pública Olímpica, o custo oficial do evento é de R$ 38,2 bilhões. Além disso, a Prefeitura do Rio estima que os investimentos no setor de turismo somem o equivalente a US$ 2 bilhões, com geração de 13 mil empregos diretos e 40 mil indiretos.

Apenas no setor hoteleiro são empregadas diretamente mais de 18 mil pessoas e a previsão é de um aumento de 10 mil empregos diretos até este ano.

A estimativa do governo federal é de que 85% das obras no Rio foram concluídas. Um cenário diferente da Copa do Mundo realizada no País em 2014, que, apesar de ter sido realizada no ano passado, ainda tem construções inacabadas.

Legado

Na opinião de Saboia, da UFRJ, a simples realização da Olimpíada representa "muito pouco" para reverter a falta de confiança na economia brasileira. "Não vejo a Olimpíada como uma causa que possa tirar o País do buraco. Nossas dificuldades são muito mais políticas que econômicas. O Congresso emperrou as medidas de ajuste. O que existe hoje é uma desesperança, ninguém está vendo a luz no fim do túnel."

Além do período curto de realização - apenas duas semanas, Saboia destaca que o fato da Olimpíada ser realizada apenas na cidade do Rio de Janeiro faz com que o sentimento em relação a um grande evento esportivo não seja compartilhado com todo o País.

"Certamente vai ter um volume de pessoas e renda circulando na cidade que não é desprezível, mas dentro do que representa na economia brasileira é uma gota d'água. Além disso, os seus efeitos multiplicadores no restante do País são limitados", afirma.

O professor Lúcio Macedo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), é mais otimista e ressalta que a Olimpíada deve atrair 400 mil turistas e que o evento ajuda na profissionalização dos serviços na cidade.

"Há toda uma cadeia envolvida no turismo e no esporte que vem se preparando para os jogos. Isso é o que chamo de legado intangível. O legado tangível são as obras de mobilidade e de infraestrutura urbana", afirma o professor da FGV.

Macedo ressalta que a Olimpíada pode ajudar a melhorar a imagem do Brasil no exterior e funcionar como um impulso em um ano que se desenha complicado no clima político. "A Olimpíada é uma grande oportunidade para que o Brasil se una novamente em torno de uma causa", afirma.

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