Paulo Rabello de Castro: o presidente do BNDES ainda defendeu que o País ultrapasse a fase de estabilização econômica (Pilar Olivares/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 20 de junho de 2017 às 14h21.
Rio - O presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Paulo Rabello de Castro, chamou nesta terça-feira, 20, de cacoete a ideia de que o banco financie apenas empresas escolhidas como campeãs nacionais.
Segundo ele, milhares de companhias foram financiadas ao longo dos 65 anos do BNDES e, daqui para frente, a intenção é "capilarizar" ainda mais o apoio financeiro.
"O BNDES tornou campeãs inúmeras empresas. A ideia de campeões nacionais é um cacoete com o qual temos que lidar. Funding tem que ser cada vez mais conjugado à disponibilidade nacional e internacional. Tem que ser capilarizado para milhares de empreendedores anônimos", afirmou Rabello, ao abrir o evento de comemoração de 65 anos da instituição, na sede do BNDES, no Rio de Janeiro.
Ele citou como exemplo de medida de capilarização e aproximação do investidor a iniciativa de lançar no próximo dia 26 um canal de disseminação de informações "para estabelecer contato íntimo com milhares de empreendedores anônimos".
Em seu discurso, o presidente do BNDES ainda defendeu que o País ultrapasse a fase de estabilização econômica, iniciada com o plano Real, durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e passe para o estágio de desenvolvimento.
"Estamos há 23 anos estabilizando. Precisamos trocar esse disco e passar para a etapa que realmente interessa, que é o desenvolvimento. Vamos procurar disseminar cada vez mais a palavra desenvolvimento para que esteja encruada nas cabeças dos empreendedores e de todos aqueles que querem que esse País vá para frente", disse Rabello.
Pacote de bondades
O presidente do BNDES afirmou também que o governo federal não trabalha com "pacote de bondades", ao se referir à reunião, na semana passada, entre o presidente Michel Temer e governadores de diversos Estados, em Brasília.
"Este governo e o Brasil estão para além da era de pacotes. Não estamos empacotando nada, porque isso não é mercearia", afirmou Rabello de Castro. "Estamos contribuindo para destravar o que está travado", comentou.
Auditoria interna
A auditoria interna do BNDES tem que melhorar, afirmou o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Augusto Nardes, ao fazer um comentário sobre governança e eficiência do Estado, durante o debate na sede da instituição de fomento, no Rio.
Nardes disse que, desde 2012, tem direcionado as auditorias do TCU para analisar não apenas a legalidade da aplicação de recursos públicos, mas também a eficiência dos gastos.
Nesse contexto, passou a analisar a eficiência do BNDES, num contexto em que 50% do funding do banco passou a estar em aportes do Tesouro Nacional.
Segundo Nardes, 12 mil instituições públicas foram questionadas pelo TCU. O BNDES tem "bons os números", se comparado com outras instituições.
"Saliento que a auditoria interna do banco tem que melhorar", disse Nardes, após avisar que entregará auditorias sobre o BNDES ao presidente Paulo Rabello de Castro.
Nardes afirmou ainda que o TCU resolveu avançar além das auditorias e, após ter assessorado o governo na elaboração da lei das estatais, tem mantido reuniões com o Ministério do Planejamento para propor uma lei de governança do Estado.
Segundo Nardes, as conversas estão avançadas também com o Ministério da Fazenda. "Queremos um Estado mais facilitador do que complicador", disse Nardes.
Certidões negativas
Também no evento, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, pediu que o governo adote medidas de exceção na exigência de certidões negativas de débitos (CNDs) para incentivar a concessão de crédito por parte dos bancos públicos. Em debate na sede do BNDES, Skaf disse que é necessário que se dê uma trégua, sugerindo, de seis meses ou até o fim do ano.
Segundo ele, esse tipo de medida já foi adotada antes e poderia ser feita por meio de medida provisória (MP). "Não adianta perguntar para a Receita", afirmou Skaf, destacando que a Receita Federal sempre será contra esse tipo de medida.
O presidente da Fiesp disse que, quando uma empresa está em dificuldade financeira -e quem já trabalhou num balcão ou chão de fábrica sabe como é, ressaltou -, a primeira obrigação que é deixada de lado é aquela cujo cobrador não está na porta, ou seja, os tributos.
Quando há a retomada da economia, a empresa precisa colocar a vida em dia, disse Skaf, mas aí enfrenta exigências como a apresentação de CNDs. O presidente da Fiesp comparou a situação a afundar uma pessoa que está se afogando.
O dirigente cobrou ainda mais crédito do BNDES. Segundo Skaf, na gestão da ex-presidente Maria Silvia Bastos Marques, que renunciou mês passado, houve restrição ao crédito.
O presidente da Fiesp citou o Progeren, linha para capital de giro, e o Cartão BNDES, voltado para empresas de menor porte, como prioridades. "Nos últimos meses, o BNDES estava mais entesourando e gerando caixa", afirmou Skaf, que criticou o que chamou a demora do Banco Central (BC) em baixar a taxa básica de juros.
Somar esforços
O presidente do Banco do Brasil, Paulo Rogério Caffarelli, sinalizou a intenção de contribuir com a retomada da economia com a liberação de crédito a investidores.
"Na retomada, o crédito tem que existir. O que vamos ter que fazer é somar esforços para retomar a capacidade de ceder o crédito", afirmou, ao participar de evento comemorativo pelos 65 anos do BNDES.
Na opinião de Caffarelli, o alto patamar de inadimplência, durante a crise, assustou os financiadores. "Agora, é hora de separar o joio do trigo. Temos que saber quantas grandes empresas precisam do crédito", disse Caffarelli. Ele destacou ainda a necessidade de financiamento à exportação e também aos projetos de infraestrutura, segmento ao qual o BNDES está diretamente atrelado.
Caffarelli acredita que a economia caminha "para um patamar de estabilidade". Em sua opinião, "a inflação abaixo do centro (da meta) mostra que estamos preparados para a retomada".