Economia

Queda de juros nos EUA pode ser sinal positivo para o Brasil

Fluxo de investimentos deve tomar o rumo de países emergentes, que ainda têm taxas altas

Brasil: decisão do Copom coincidiu com a decisão do FED; por aqui, juros foram para 6% (Marcello Casal Jr/ Agência Brasil/Agência Brasil)

Brasil: decisão do Copom coincidiu com a decisão do FED; por aqui, juros foram para 6% (Marcello Casal Jr/ Agência Brasil/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 1 de agosto de 2019 às 09h22.

Apesar de o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), Jerome Powell, não ter deixado claro se haverá ou não uma continuidade na redução da taxa de juros dos Estados Unidos, o corte anunciado na última quarta-feira, 31, consolida uma onda de afrouxamento monetário global que beneficia países emergentes como o Brasil.

A redução do juro americano em 0,25 ponto porcentual, para a faixa entre 2% e 2,25%, foi a primeira feita pelo Fed desde a crise de 2008. Também já anunciaram recentemente cortes nos juros União Europeia, Austrália, Nova Zelândia, Chile, Rússia, Índia e Turquia, entre outros países - todos respondendo à desaceleração da economia global e tentando aumentar a liquidez.

Ainda que a atividade esteja esfriando em todo o mundo, esse cenário é visto por economistas como mais positivo para o Brasil do que para uma economia global a pleno vapor, com o Fed aumentando os juros.

Nesse caso, grande parte dos investidores deixaria os emergentes, recorrendo à segurança do retorno do investimento americano - o que era esperado por muitos economistas no início do ano.

“O quadro de desaceleração (econômica) é melhor para emergentes” diz o economista Silvio Campos. Para ele, porém, também há riscos relevantes, como uma eventual deterioração mais acentuada da atividade global ou a possibilidade de as Bolsas - hoje em patamares elevados - começarem uma correção. “O ideal seria a China fazendo um pouso suave e os Estados Unidos mantendo uma taxa de crescimento de 2%, permitindo a manutenção de liquidez elevada”, acrescenta.

Campos destaca que, apesar de a tendência ser de uma desaceleração econômica, ainda não é possível descartar a possibilidade de uma recessão global. Isso porque há incertezas importantes no radar, como o Brexit e a guerra comercial entre Estados Unidos e China.

O estrategista-chefe do Modalmais, Felipe Sichel, também vê como mais vantajoso para o Brasil o cenário de acomodação monetária dos Estados Unidos, mas pondera que a estabilidade econômica global é necessária para um crescimento mais forte dos emergentes. “O fato de o (presidente do) Fed ter se mostrado menos predisposto a novos cortes do juros já torna o ambiente menos benevolente para os emergentes”, disse.

Na terça, logo após divulgação da decisão da autoridade monetária americana, Powell afirmou que a redução havia sido um “ajuste no meio de um ciclo da política monetária” e que “a perspectiva agora não é que este seja o início de um ciclo de corte de juros”. Pouco depois, acrescentou que também não era possível afirmar que não haverá outras reduções à frente.

Mercado

A mensagem dúbia surpreendeu o mercado, que esperava indicativo mais claro. No Brasil, o dólar fechou em alta de 0 75%, a R$ 3,81 - maior valor desde 3 de julho. O Ibovespa (principal índice da Bolsa) caiu 1,09%, aos 101,8 mil pontos.

Em Nova York, as Bolsas também recuaram mais de 1%. O índice Dow Jones fechou em baixa de 1,23%, aos 26,8 mil pontos, enquanto o Nasdaq caiu 1,19%, para 8,1 mil pontos. O S&P 500 recuou 1,09% para 2,9 mil pontos, fechando abaixo da marca “psicológica” de 3 mil pontos

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