Prolongamento das turbulências pode adiar investimento e consumo, diz Goldfajn
Ex-diretor do Banco Central afirma que, em caso de piora do cenário econômico, governo brasileiro deveria priorizar a política monetária
Da Redação
Publicado em 10 de agosto de 2011 às 09h34.
São Paulo – As turbulências nas bolsas nos últimos dias são reflexos de inúmeras incertezas que envolvem vários países europeus. Quanto mais tempo se leva para encontrar uma solução, maior o risco de agravamento da crise.
Na avaliação do ex-diretor do Banco Central Ilan Goldfajn, “se demorar um pouco mais, digamos um mês ou dois meses, isso pode tirar decisões de consumo e de investimento”.
Trocando em miúdos: um cenário nebuloso paralisa a economia. Os empresários não se arriscam a tocar adiante nenhum projeto novo e os consumidores, na dúvida, guardam dinheiro.
Nas projeções de Ilan Goldfajn, que atualmente é economista-chefe do Itaú Unibanco, um quadro recessivo no mundo ainda tem pouca probabilidade de acontecer. “Estamos caminhando para um cenário de crescimento mais baixo.”
O Brasil, é claro, não está totalmente imune. Se o governo tiver que agir, que o faça por meio da política monetária. “Menos juros e mais aperto fiscal”, defende o economista. Veja os principais trechos da entrevista.
EXAME.com – Olhando para o mundo, onde está o maior problema?
Ilan Goldfajn – Acredito que o risco maior é na Europa. Há uma questão de dívida elevada nos países periféricos da região. Grécia, Portugal e Irlanda já estavam no olho do furacão, mas agora tem uma dúvida sobre a Itália e a Espanha. Essas dúvidas ficaram maiores depois do rebaixamento da classificação de risco dos Estados Unidos, pois gerou uma percepção de que outros países também podem ser rebaixados.
EXAME.com – O Brasil pode ser atingido?
Goldfajn – Pode. Há uma percepção de que estamos caminhando para um cenário de crescimento mundial mais baixo. Quanto mais baixo? Vai depender de quão longa é essa crise e quanto tempo demora a turbulência no mercado. Se demorar um pouco mais, digamos um mês ou dois meses, isso pode tirar decisões de consumo e de investimento, e reduzir ainda mais o crescimento global, diminuindo os preços das commodities.
Crescimento global menor e commodities em queda significam um cenário diferente para o Brasil. Em vez de nos preocuparmos com a inflação, nós teremos uma economia que vai esfriar mais. Portanto, as preocupações anteriores em torno do tamanho da elevação dos juros e da inflação se transformam em dúvidas sobre se haverá estímulos fiscais ou monetários.
EXAME.com – Qual estímulo deveria ser adotado pelo governo brasileiro em caso de agravamento da crise?
Goldfajn – Acho melhor o estímulo monetário do que o fiscal. Nós temos bastante espaço monetário e o Brasil precisa mudar a sua composição de políticas. Menos juros e mais aperto fiscal.
EXAME.com – O que pode dar errado e piorar ainda mais o cenário mundial?
Goldfajn – Um cenário na Europa que tenha problemas mais graves envolvendo as dívidas da Espanha e da Itália e que cause a saída de alguns países da zona do euro pode levar a um quadro pior do que o atual. As bolsas caem mais, os ativos perdem valor, a percepção de queda da riqueza é muito maior, o consumo diminui, a queda das commodities é maior e, aí, o Brasil cresce bem menos.
EXAME.com – É possível dizer que as nossas reservas internacionais dão tranquilidade ao nosso câmbio ou haverá muita volatilidade?
Goldfajn – Alguma volatilidade você tem na bolsa, nos juros, no câmbio, mas se houver muita saída de capital, o Brasil tem reservas para que essas saídas não tenham grande impacto na economia. É um cenário sem grandes depreciações, rupturas ou recessões.
EXAME.com – A China pode garantir a tranquilidade do Brasil?
Goldfajn – A China é um termômetro importante para o Brasil. Se a China estiver bem, ela importa bastante commodity e mantém a economia mundial crescendo – crescendo menos, mas crescendo . Aliás, a dinâmica de crescimento está indo para os emergentes.
São Paulo – As turbulências nas bolsas nos últimos dias são reflexos de inúmeras incertezas que envolvem vários países europeus. Quanto mais tempo se leva para encontrar uma solução, maior o risco de agravamento da crise.
Na avaliação do ex-diretor do Banco Central Ilan Goldfajn, “se demorar um pouco mais, digamos um mês ou dois meses, isso pode tirar decisões de consumo e de investimento”.
Trocando em miúdos: um cenário nebuloso paralisa a economia. Os empresários não se arriscam a tocar adiante nenhum projeto novo e os consumidores, na dúvida, guardam dinheiro.
Nas projeções de Ilan Goldfajn, que atualmente é economista-chefe do Itaú Unibanco, um quadro recessivo no mundo ainda tem pouca probabilidade de acontecer. “Estamos caminhando para um cenário de crescimento mais baixo.”
O Brasil, é claro, não está totalmente imune. Se o governo tiver que agir, que o faça por meio da política monetária. “Menos juros e mais aperto fiscal”, defende o economista. Veja os principais trechos da entrevista.
EXAME.com – Olhando para o mundo, onde está o maior problema?
Ilan Goldfajn – Acredito que o risco maior é na Europa. Há uma questão de dívida elevada nos países periféricos da região. Grécia, Portugal e Irlanda já estavam no olho do furacão, mas agora tem uma dúvida sobre a Itália e a Espanha. Essas dúvidas ficaram maiores depois do rebaixamento da classificação de risco dos Estados Unidos, pois gerou uma percepção de que outros países também podem ser rebaixados.
EXAME.com – O Brasil pode ser atingido?
Goldfajn – Pode. Há uma percepção de que estamos caminhando para um cenário de crescimento mundial mais baixo. Quanto mais baixo? Vai depender de quão longa é essa crise e quanto tempo demora a turbulência no mercado. Se demorar um pouco mais, digamos um mês ou dois meses, isso pode tirar decisões de consumo e de investimento, e reduzir ainda mais o crescimento global, diminuindo os preços das commodities.
Crescimento global menor e commodities em queda significam um cenário diferente para o Brasil. Em vez de nos preocuparmos com a inflação, nós teremos uma economia que vai esfriar mais. Portanto, as preocupações anteriores em torno do tamanho da elevação dos juros e da inflação se transformam em dúvidas sobre se haverá estímulos fiscais ou monetários.
EXAME.com – Qual estímulo deveria ser adotado pelo governo brasileiro em caso de agravamento da crise?
Goldfajn – Acho melhor o estímulo monetário do que o fiscal. Nós temos bastante espaço monetário e o Brasil precisa mudar a sua composição de políticas. Menos juros e mais aperto fiscal.
EXAME.com – O que pode dar errado e piorar ainda mais o cenário mundial?
Goldfajn – Um cenário na Europa que tenha problemas mais graves envolvendo as dívidas da Espanha e da Itália e que cause a saída de alguns países da zona do euro pode levar a um quadro pior do que o atual. As bolsas caem mais, os ativos perdem valor, a percepção de queda da riqueza é muito maior, o consumo diminui, a queda das commodities é maior e, aí, o Brasil cresce bem menos.
EXAME.com – É possível dizer que as nossas reservas internacionais dão tranquilidade ao nosso câmbio ou haverá muita volatilidade?
Goldfajn – Alguma volatilidade você tem na bolsa, nos juros, no câmbio, mas se houver muita saída de capital, o Brasil tem reservas para que essas saídas não tenham grande impacto na economia. É um cenário sem grandes depreciações, rupturas ou recessões.
EXAME.com – A China pode garantir a tranquilidade do Brasil?
Goldfajn – A China é um termômetro importante para o Brasil. Se a China estiver bem, ela importa bastante commodity e mantém a economia mundial crescendo – crescendo menos, mas crescendo . Aliás, a dinâmica de crescimento está indo para os emergentes.