Exame Logo

Preço do etanol tem 1º tri de safra mais firme em nove anos

A última vez em que os valores do etanol se mantiveram firmes nas usinas no primeiro trimestre de uma safra foi em 2009/10, quando chegou quase a 8%

Operários trabalham na colheita de cana-de-açucar em fazenda de Maringá, no Paraná (Rodolfo Buhrer/La Imagem/Reuters) (Rodolfo Buhrer/Reuters)
R

Reuters

Publicado em 21 de junho de 2018 às 12h52.

São Paulo - Os preços do etanol hidratado praticados pelas usinas brasileiras têm até agora o primeiro trimestre mais firme de uma safra de cana no centro-sul em nove anos, embora a perspectiva para o curto prazo seja de retração nas cotações e nenhuma mudança na estratégia das empresas, de acordo com especialistas ouvidos pela Reuters.

Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, mostram que os valores do biocombustível nas usinas de São Paulo, referência para o país, registraram uma média de 1,6491 real por litro na semana passada, estável ante o início do atual ciclo 2018/19, em abril.

Veja também

Os primeiros três meses de safra no centro-sul são, geralmente, sinônimo de recuo nos preços do etanol, dada a maior produção. Neste ano, os valores até chegaram a cair em maio, para 1,4468 real por litro, mas se recuperaram na esteira da alta da gasolina, seu concorrente direto, nas bombas.

A última vez em que os valores do etanol se mantiveram firmes nas usinas no primeiro trimestre de uma safra foi em 2009/10, quando chegaram a subir quase 8 por cento, segundo a série histórica do Cepea.

"A demanda e os reajustes da Petrobras dão sustentação neste ano, embora tenhamos uma produção maior se comparada à de outras safras... O etanol é uma moeda de troca muito fácil para as usinas", disse a pesquisadora de etanol do Cepea, Ivelise Bragato, referindo-se à geração de caixa mais rápida com a venda de álcool do que com açúcar.

No acumulado da atual safra até 1º de junho, a produção de etanol pelas unidades do centro-sul cresceu mais de 50 por cento na comparação anual, conforme os dados mais recentes da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica). A preferência das usinas pelo biocombustível deve-se a um consumo firme desde o ano passado e à própria remuneração mais atrativa, uma vez que o mercado global do açúcar viverá um período prolongado de excedente, até 2018/19, pelo menos.

Na virada de maio para junho, o valor da gasolina nas bombas atingiu níveis recordes, ajudando a puxar para cima os preços do etanol nos postos e, por tabela, nas usinas.

Firmeza continua?

Embora sigam fortalecidos, a tendência para o curto prazo é de algum enfraquecimento nos preços do etanol, uma vez que julho e agosto são os meses de pico de safra no centro-sul do Brasil.

Mas esse não seria o único fator. O analista João Paulo Botelho, da INTL FCStone, explicou que a demanda está agora mais vacilante após os protestos de caminhoneiros, ao passo que os estoques nos produtores cresceu consideravelmente devido a não retirada do álcool durante as manifestações.

"Há impacto do lado do consumidor, que ainda não se recuperou após a greve, e também do lado do produtor, que está com estoques altos", resumiu o analista.

Conforme ele, as usinas detinham reservas de 1,93 bilhão de litros de etanol ao fim da primeira quinzena de maio, volume que subiu a 2,49 bilhões no término do mês em virtude dos protestos, uma quantidade quase duas vezes maior na comparação anual.

Fora isso, há a própria tendência de redução no preço da gasolina, uma vez que a referência internacional do petróleo vem caindo. Nas refinarias da Petrobras, o combustível fóssil já caiu cerca de 5 por cento neste mês.

Mesmo assim, não se espera que as usinas alterem o mix alcooleiro desta safra --recentemente, a Biosev, a segunda maior processadora de cana do mundo, disse estar "desafiando limites" na produção de etanol.

Lucas Brunetti, analista de commodities da Tropical Research, destaca que o etanol ainda está rendendo 10 por cento a mais que o açúcar para as usinas, uma vez que as cotações do adoçante no mercado internacional beiram mínimas em anos por causa da ampla oferta.

Além disso, a tendência é de que a safra deste ano termine mais cedo, já que há menos cana disponível para moagem. Isso levaria a uma entressafra maior, com preços do álcool em elevação, comentou ele.

"Devemos ter preços nominais mais altos para o etanol na entressafra", disse Brunetti, sem fazer previsões. A entressafra de cana geralmente compreende os meses de janeiro a março.

Dessa forma, ainda que os preços do etanol possam perder força em julho e agosto, é possível que voltem a ficar sustentados, como no primeiro trimestre da safra.

Acompanhe tudo sobre:Cana de açúcarEtanolSafras agrícolas

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Economia

Mais na Exame