Ovos de Páscoa em fábrica de chocolate: quanto mais custoso produzir e entregar um bem, maior deve ser seu preço (Sean Gallup/ Getty Images)
Da Redação
Publicado em 24 de março de 2016 às 11h47.
Os ovos de páscoa estão muito caros – você já deve ter visto alguma piada na internet sobre isso. E eles parecem ainda mais caros se compararmos com barras de chocolate.
Na imagem abaixo, alguns casos emblemáticos. Por exemplo, há diferença de mais de três vezes no preço do ovo de páscoa Garoto Ao Leite, de 750 gramas, em relação ao equivalente em barras de chocolate.
Por que tanta diferença entre um produto e outro?
Não entregaremos para você neste post uma resposta definitiva para a questão, nada fácil de ser resolvida.
Mas é possível encontrar algumas pistas para a charada ao usarmos um pouco de teoria econômica. Vamos nesta?
Há dois fatores que determinam o preço de um bem: seu custo (incluindo produção e entrega ao consumidor final) e o retorno, a chamada margem, que o produtor consegue colocar sobre o custo.
Comecemos pelo custo
Quanto mais custoso produzir e entregar um bem, maior deve ser seu preço. E o custo dos ovos? É mais elevado? Tão elevado assim? A ponto de justificar a diferença de preços entre ovos e barras de chocolate?
Bem, faz sentido, sim, que o custo de fazer ovos de páscoa seja mais alto que o de fazer barras.
Afinal, não é apenas de chocolate de que estamos falando: os ovos vendidos nas redes de varejo contam com embalagem diferenciada e surpresinhas dentro, como bombons ou brinquedos.
Além disso, ovos têm uma maior chance de quebrar durante o transporte, logo, requerem maiores cuidados, e ocupam mais espaço que as barras de peso equivalente.
Sim, esse raciocínio parece ir na direção certa para explicar a diferença de preço entre um produto e outro. Mas nosso chute para explicar o fenômeno mira em outro aspecto, que pode explicar melhor o fenômeno.
A diferença observada de preços é muito grande para ser explicada apenas pelo custo mais elevado de fabricar ovos de chocolate.
Chegamos agora na margem que o produtor consegue colocar sobre o custo para formar o preço dos ovos.
Essa margem depende, fundamentalmente, da reação do consumidor às mudanças nos preços.
Se o consumidor substitui facilmente um produto mais caro por outro mais barato, então o produtor terá dificuldade em aumentar seus preços.
Ora, se ele aumentar os preços, sofrerá diminuição grande das vendas e do lucro. Nessas situações, o preço final, exposto nas prateleiras ao consumidor, que já inclui essa margem, fica muito próximo do custo do produto.
Agora, e nos casos em que o consumidor não encontra substitutos com facilidade? O que acontece? Acontece que o produtor consegue colocar um preço mais alto sem perder tanto lucro assim.
Portanto, o fato de preço de o ovo ser tão mais caro que o chocolate em barra é um indicativo de que ovos e barras não são exatamente substitutos.
Apesar de o chocolate ser muitas vezes o mesmo, há muitas outras coisas envolvidas. Trata-se de uma situação especial.
Não é difícil perceber isso na prática. Imagine, por exemplo, a cara de seu namorado ou namorada chegando com um ovo de presente para você e recebendo, em troca, um sacão cheio de barras de chocolate.
Provavelmente a reação dele ou dela não será das melhores quando você disser:
– Oi, amor, feliz Páscoa! Economizei uma baita grana e ainda consegui mais chocolate para você!
Imagine também seus filhos, sobrinhos, afilhados, enfim… Digamos que eles ganhem um saco cheio de barras de chocolate ao leite, enquanto os amiguinhos na escola ganharam aqueles ovos que viram na televisão. A criança vai ficar feliz?
Talvez os exemplos não se apliquem a todos, mas, certamente, para muita gente, ovos e barras estão longe, bem longe de serem a mesma coisa.
Ok, mas isso ainda não encerra a questão. Por que, então, a competição entre produtores de ovos não faz com que o preço diminua?
Você pode argumentar: há poucas empresas de chocolate no mercado e, dessa maneira, não temos muita competição.
Mas, convenhamos, a tecnologia de produzir chocolates não é tão complicada assim.
Outros produtores poderiam invadir o mercado em busca de lucros, o que acirraria a competição e reduziria os preços.
E não é isso o que observamos
Possível explicação: as pessoas não querem arriscar, preferem comprar uma marca na qual confiam.
Como mostramos antes, é uma circunstância especial em que se presenteia uma pessoa querida.
Você poderia até optar por uma nova marca que acabou de entrar no mercado.
Mas e se o chocolate for ruim? As marcas tradicionais, quem povoam os anúncios comerciais, todo mundo mais ou menos já sabe o sabor.
Lembre-se: o presente não é para você, mas, sim, para outra pessoa. E isso faz toda a diferença na hora de fazer a compra.
Há outro ponto a ser analisado, mais relacionado aos ovos de páscoa para crianças. Pequenos e pequenas estão mais interessados no personagem tema do ovo e nos brinquedos que vêm junto.
Para muitos deles, o chocolate em si pouco importa. Meu filho, por exemplo, quer o ovo do Relâmpago McQueen.
Vá lá, para fazer um ovo, “basta” derreter o chocolate, colocar numa forma, esperar esfriar e embrulhar num papel bonito.
Mas é possível produzir outro Relâmpago McQueen? E outra Barbie? Outro Mickey Mouse?
Respostas: não, não, não e também não.
A Disney, por exemplo, é monopolista do Mickey Mouse – só ela pode autorizar a produção e venda de produtos oficiais com o rato mais famoso do mundo.
A empresa consegue colocar uma margem mais alta em todos os produtos relacionados ao personagem. E, além de cadernos, mochilas, camisetas e afins, isso inclui ovos de páscoa.
Pronto! Caso encerrado? Obviamente não.
Mas a discussão é divertida. Feliz Páscoa para todo mundo!
Ps.: Aproveito para recomendar o post de Joel Pinheiro, do Spotniks.com, sobre o assunto. Este trecho tem muito a ver com a nossa discussão:
“Você, leitora, quando chegar o domingo, ficará desapontada se receber barras normais ao invés de um ovo; mesmo que sejam muitas. Não vai tirar foto pro Instagram. Os olhos do seu filhinho, pai, não irão brilhar, mesmo que você explique a esperteza do negócio. Ou melhor, me corrijo: talvez a criança, o homem e a mulher todos entendessem e até preferissem essa compra mais econômica e duradoura, mas o medo que você tem de fugir à regra, fazer menos que o socialmente esperado e ser julgado por isso falará mais alto.”