Economia

Poluição por carvão "asfixia" ganhos econômicos na Índia e China

Geralmente, o crescimento econômico vem acompanhado de políticas energéticas mais limpas. Mas nem sempre é assim, indica relatório do Greenpeace

Poluição em Nova Déli, Índia, em 07 de novembro de 2016. (Allison Joyce/Getty Images)

Poluição em Nova Déli, Índia, em 07 de novembro de 2016. (Allison Joyce/Getty Images)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 12 de dezembro de 2016 às 18h26.

Última atualização em 30 de dezembro de 2016 às 16h54.

São Paulo - Por seu baixo custo e alta disponibilidade, o carvão foi e continua a ser o principal combustível do crescimento econômico na China e na Índia. Mas essa fonte suja e poluente acaba por "asfixiar" os benefícios desse crescimento, segundo relatório recentemente divulgado pelo grupo ambientalista Greenpeace 

De acordo com o estudo, a poluição do ar causada pelo uso contínuo de combustíveis fósseis, em especial o carvão, causou 1,6 milhão de mortes a mais do que o número projetado com base na taxa de crescimento do PIB nesses países para o ano 2015.

Conforme Lauri Myllyvirta, do Greenpeace Índia, o relatório coloca um grande ponto de interrogação sobre a qualidade do desenvolvimento econômico que esses dois países estão oferecendo à suas populações. Ele observa que à medida que os países se tornam mais ricos, eles geralmente desenvolvem indústrias menos poluentes.

"Mas no caso da Índia e da China, a tendência tem sido oposta. Apesar de seu crescimento econômico, esses dois países têm uma qualidade do ar particularmente sofrível. É claro que uma economia fortemente dependente do carvão só pode significar a fatalidade para o seu povo", afirma em comunicado da entidade.

Segundo o relatório, para o ano de 2015, o PIB per capita da Índia e da China foi calculado em US$ 1.582 e US$ 7.925, respectivamente. De acordo com a tendência global, isto deveria se traduzir em menos mortes devido à poluição em comparação com países com um menor PIB per capita.

Mas as taxas de mortalidade por poluição atmosférica nos dois países continuaram a crescer: em 2015, a poluição deveria ter causado 94 mortes por 100.000 pessoas na Índia e 41 mortes por 100.000 pessoas na China, mas os registros da Organização Mundial de Saúde (OMS) falam de 138 e 115 mortes por 100.000 habitantes na Índia e China, respectivamente.

Segundo a Global Burden of Diseases (GBD), plataforma científica que a OMS utiliza para avaliar progressos e retrocessos em saúde no mundo, o número real de mortes na Índia foi de cerca de 1,8 milhão e 1,5 milhão na China.

O número esperado de mortes com base no PIB da Índia e da China, porém, havia sido calculado em 1,2 milhão e 558 mil, respectivamente.

Isto sugere que há mais de um milhão de mortes por ano na China e quase 600.000 mortes por ano na Índia a mais do que se a taxa de mortalidade por poluição do ar em ambos os países seguisse a média de outros grandes países com renda média com seu nível de PIB per capita.

Consumo de carvão

O relatório considera que o uso contínuo de combustíveis fósseis é o principal culpado pela deterioração da qualidade do ar nos dois países. Contudo, a China adotou padrões de emissão para as usinas térmicas em 2011 e um plano de ação coordenado em 2013, o que de certa forma levou à redução dos níveis de poluição.

Na Índia a situação é diferente. Mesmo diante de pressões ambientais crescentes, o país não dá sinais de que seu apetite por energia “suja” esteja mudando. Pelo contrário. Em 2015, quando a demanda global por carvão sofria uma retração recorde, o consumo na Índia crescia e, segundo a Associação Mundial de Carvão (WCA), o país deve tornar-se o maior propulsor dessa fonte nos próximos 25 anos, com um crescimento esperado de 4% ao ano.

O relatório do Greenpeace recomenda que o governo aborde a questão da poluição do ar como uma emergência nacional e reconheça as usinas a carvão como uma das causas.

Acompanhe tudo sobre:CarvãoÍndiaMeio ambiente

Mais de Economia

‘Problema dos gastos no Brasil não é ter os pobres no Orçamento’, diz Simone Tebet

Plano Real, 30 anos: Gustavo Loyola e as reformas necessárias para o Brasil crescer

Governo sobe previsão de déficit de 2024 para R$ 28,8 bi, com gastos de INSS e BPC acima do previsto

Mais na Exame