Economia

Política monetária deve focar em inflação, diz ex-diretor do BC

Para Luiz Fernando Figueiredo, regime deve apenas focar na expectativa de inflação; se está abaixo da meta, a Selic deve cair

Luiz Fernando Figueiredo: "A economia no mundo todo está se desacelerando e há uma tendência global de queda de juros" (foto/Divulgação)

Luiz Fernando Figueiredo: "A economia no mundo todo está se desacelerando e há uma tendência global de queda de juros" (foto/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 20 de junho de 2019 às 10h04.

São Paulo - O Comitê de Política Monetária (Copom) erra ao atrelar a sua política monetária à tramitação da reforma da Previdência no Congresso, segundo o ex-diretor do Banco Central Luiz Fernando Figueiredo e sócio-fundador da Mauá Capital.

Para ele, o regime deve apenas focar na expectativa de inflação. Se ela está abaixo da meta, a taxa básica de juros, a Selic, deve cair. "Caso a reforma não aconteça, aí se deve reagir a isso", diz Figueiredo, que prevê duas quedas na Selic de 0,5 ponto porcentual cada uma até o fim do ano. A seguir, trechos da entrevista.

O mercado esperava a manutenção da Selic, mas também uma indicação de que os juros deverão cair na próxima reunião. O teor do comunicado ficou aquém do esperado?

Ele (o Copom) reconhece que a inflação está melhor, mas mira no risco da reforma da Previdência, que diz ser predominante neste momento. Caso o Congresso aprove a reforma em julho, é muito provável que se reduza o juro. As projeções do Copom colocam a inflação em 3,6% para 2019 e 3,9% para 2020. Ambas abaixo de 4%, a meta. Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2019 em 5,75%.

O Copom acertou, então, na manutenção da taxa e no comunicado?

Conceitualmente, não acho correto atrelar a política monetária a uma decisão do Congresso. A política monetária tem o objetivo de alcançar um nível de taxa de inflação. Quando se está com a perspectiva de inflação abaixo da meta, deveria se reduzir o juro, a não ser que tenha um grau de incerteza tão grande que impeça de fazê-lo. No caso da reforma, caso ela não aconteça, aí se deve reagir a isso, posteriormente, porque é um evento suficientemente relevante para mudar o cenário inflacionário. Com as informações que se tem hoje, estamos rodando com expectativa de inflação abaixo da meta, então tem de cortar os juros. O próprio mercado já considera a queda de juros nas projeções e a aprovação da reforma.

O Federal Reserve, o banco central americano, indicou que poderá cortar a taxa de juros no País. A pressão para o BC fazer o mesmo aumentou, não?

Sem dúvida. A economia no mundo todo está se desacelerando e há uma tendência global de queda de juros. O Chile, inesperadamente, reduziu a taxa de juros. O Banco Central europeu também. Com a taxa de juros no mundo mais baixa, o Brasil tem espaço também para cortar sem que se gere uma depreciação cambial.

Qual a projeção da Mauá Capital para a Selic?

Esperamos duas quedas de 0,5 (ponto porcentual) cada uma a partir da próxima reunião do Copom. Pelo menos isso, podendo ser mais.

Essa redução esperada poderá impulsionar a atividade econômica? Houve muitos questionamentos do efeito real na economia do último ciclo de expansão monetária.

Foram grandes os efeitos da redução da Selic. A questão é que o nível de incerteza também estava muito alto. Houve dois choques, a greve de caminhoneiros e a crise argentina, que prejudicaram a recuperação.

Com a aprovação da Previdência e a queda do juros, o País pode entrar num ciclo de crescimento então?

Nossa visão é de recuperação gradual. Não vai ter um pulo de crescimento, mas, sim, tem de reduzir o juro de um lado e, de outro, o nível de incerteza.

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