Economia

PIB e sistema de preços são cegos ambientais, diz economista

No EXAME Fórum Sustentabilidade, o economista e filósofo Eduardo Giannetti defendeu novas formas de contabilidade que incluam os impactos ambientai


	EXAME Fórum Sustentabilidade: Giannetti defende a necessidade de novas medidas para calcular a riqueza dos países
 (Raphael Martins/EXAME.com)

EXAME Fórum Sustentabilidade: Giannetti defende a necessidade de novas medidas para calcular a riqueza dos países (Raphael Martins/EXAME.com)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 17 de novembro de 2015 às 09h39.

São Paulo - Em um mundo assombrado pelas mudanças climáticas e uma série de outros problemas ambientais, muitos especialistas consideram o PIB (Produto Interno Bruto) uma métrica insuficiente para dar conta da complexidade dos desafios do desenvolvimento sustentável.

O economista Eduardo Giannetti é um dos que defendem a necessidade de uma nova medida para calcular a riqueza e o desenvolvimento dos países. “O PIB é cego para os impactos ambientais das nossas atividades”, afirmou durante debate no EXAME Fórum Sustentabilidade realizado nesta terça-feira em São Paulo.

"Se uma comunidade tem acesso a água potável de graça com a mesma facilidade que temos ar, essa água disponível não entra nas contas do país. Mas se esse recurso é poluído e você precisa tratá-lo e revender água engarrafada, o que acontece com o PIB? Ele aumenta. Tem alguma coisa profundamente errada nessa contabilidade", apontou o economista.

Outro exemplo vem dos transportes. Conforme Giannetti, se uma pessoa mora perto do seu local de trabalho e vai andando para o escritório, isso não entra nas contas nacionais. Mas se ela precisa pegar transporte, carro, gastar gasolina e poluir, isso entra no PIB.

"A contabilidade do PIB é muito distorcida no que diz respeito ao que interessa à vida humana", destacou.

Para o economista, a mudança do PIB deve vir acompanhada também de uma reforma no sistema de preços, para que as mercadorias passem a incluir em seu preço final os custos ambientais de sua produção.

Isso vale, inclusive, para as decisões sobre a matriz energética. Se tivermos de escolher entre duas fontes, por exemplo - termelétrica a carvão ou eólica - em geral optamos pela mais "barata" em kWh. Mas se computarmos o CO2 emitido, é um custo absolutamente maior. O impacto ambiental acumulativo das nossas ecolhas tanto para produzir quanto para consumir não estão internalizados no preço dessa energia.

"Quando eu pego um avião para a Europa eu provavelmente estou emitindo mais CO2 do que um indiano do meio rural emite ao longo de um ano. No fundo, a contabilização está errada. Esse impacto tem que ser contabilizada", comparou Giannetti.

O economista reconhece, no entanto, que a precificação do carbono é um exercício complexo. Ele citou a investida da companhia British Airways que, diante da preocupação global com as emissões da aviação, resolveu oferecer aos passageiros a possibilidade de pagar um adicional para compensar as emissões do trajeto. A adesão dos passageiros foi de 3%. 

"Seria adorável pensar que as pessoas voluntariamente ajudariam. Mas duvido que isso aconteça", lamentou. 

No final, segundo Giannetti, a nova precificação não só demanda mudanças nos hábitos de consumo da sociedade como também gera novos comportamentos. 

Se um novo sistema de preços entra em cena, produtos como carne e carro veriam seus preços escalar, uma vez que são originados de atividades com intensas emissões de gases efeito estufa.

Acompanhe tudo sobre:eventos-exameEXAME FórumMeio ambienteSustentabilidade

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor