Economia

PIB do Brasil pode cair pela primeira vez desde 2016; número sai amanhã

Só um terço dos analistas consultados pela Bloomberg prevê dado positivo e previsão de retomada para o resto do ano está atrelada à reforma da Previdência

Homem na praia de Ipanema, Rio de Janeiro, Brasil. agosto de 2018. Foto: Galdieri/Bloomberg (Galdieri/Bloomberg)

Homem na praia de Ipanema, Rio de Janeiro, Brasil. agosto de 2018. Foto: Galdieri/Bloomberg (Galdieri/Bloomberg)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 29 de maio de 2019 às 06h00.

Última atualização em 29 de maio de 2019 às 06h00.

O PIB do primeiro trimestre deve mostrar leve recuo na comparação trimestral, interrompendo a série de 8 trimestres consecutivos de avanço, impactado pelo choque de produção da Vale, crise argentina e incertezas sobre a agenda de reformas.

Ainda assim, o mercado mantém aposta em uma recuperação moderada da economia brasileira à frente, em boa medida condicionada à aprovação da Previdência.

A última vez em que o PIB recuou na base trimestral foi no quarto final de 2016. Para os primeiros três meses de 2019, a mediana das projeções para a contração da atividade é -0,2%, na comparação trimestral, segundo pesquisa Bloomberg com 22 analistas. As estimativas variam de +0,5% a -1,0%, sendo que apenas sete casas apostam em resultado positivo.

O arrefecimento da recuperação gradual na margem, já sinalizado pelo Banco Central no último Copom, forçou a revisão de estimativas mais otimistas dos maiores bancos para o crescimento no acumulado do ano.

Há duas semanas, o Itaú cortou a previsão para o PIB de 1,3% para 1% em 2019, enquanto o Bradesco rebaixou de 1,9% para 1,1%.

O Goldman Sachs foi outro que entrou na onde de cortes de projeção, diminuindo a sua previsão de 1,7% para 1,2%. "No geral, dado do primeiro trimestre será decepcionante", diz Alberto Ramos, economista-sênior para América Latina do banco.

Ele espera uma retração de 0,1% do PIB na base trimestral, com declínio de investimentos e contribuição líquida negativa das exportações pela menor competitividade brasileira e os problemas da economia argentina.

Retomada gradual

Para o restante do ano, os analistas ainda enxergam que o impulso à economia deve vir do retorno da confiança de investidores com a aprovação de uma reforma da Previdência que contenha a trajetória crescente da dívida pública.

"Cenário continua de muito baixo crescimento até a reforma ser aprovada", diz Gustavo Rangel, economista-chefe para América Latina do ING Financial Markets, que também destaca que outros país importantes da região como Chile e México tiveram crescimento negativo na comparação anual no primeiro trimestre.

"Apesar do juro na mínima histórica, perspectiva política tem impedido crescimento maior de investimento e crédito", diz Rangel, que vê Selic estável em 6,5% até o fim de 2019.

"Haverá retomada nos trimestres à frente com reforma aprovada, e juros na mínima histórica ajudam canal do crédito", diz Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Mizuho.

Para ele, a contração da atividade econômica não será um evento duradouro após a ocorrência do desastre de Brumadinho, conjugado com a continuidade da crise argentina. Ele também vê que a sustentação do consumo privado impedirá retração maior do PIB trimestral.

Se a reforma é chave, um corte da ordem de 0,5 ou 1 ponto percentual na taxa básica de juros não traria grandes repercussões no potencial de alta da atividade econômica, diz Camila Abdelmalack, economista da CM Capital Markets. "Não é questão de juros, mas de investimentos que estão reprimidos."

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