Economia

Persistente alta do desemprego obscurece reformas na Espanha

O percentual recorde de 24,44% de desempregados deixou em segundo plano a aprovação do Programa de Estabilidade 2012-2015

A Espanha supera a média de desemprego da UE, que é de 10,2%, e ultrapassa inclusive à Grécia (21%) e Portugal (15%), países que tiveram de ser resgatados e cujas contas estão sob supervisão internacional (Thomas Lohnes)

A Espanha supera a média de desemprego da UE, que é de 10,2%, e ultrapassa inclusive à Grécia (21%) e Portugal (15%), países que tiveram de ser resgatados e cujas contas estão sob supervisão internacional (Thomas Lohnes)

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Da Redação

Publicado em 27 de abril de 2012 às 14h04.

Madri - O anúncio do aumento do desemprego na Espanha no 1º trimestre do ano, que já afeta um em cada quatro trabalhadores, obscurece nesta sexta-feira a recente bateria de reformas apresentada pelo Governo e o novo Programa de Estabilidade, que prevê leve crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,2% em 2013.

Esse percentual recorde de 24,44% de desempregados anunciado nesta sexta deixou em segundo plano a aprovação do Programa de Estabilidade 2012-2015 pelo Executivo que preside Mariano Rajoy, que segue tentando enquadrar a maltratada economia espanhola à austeridade reivindicada pela União Europeia com a Alemanha à frente.

Conforme a Pesquisa da População Ativa (EPA, na sigla em espanhol) do Instituto Nacional de Estatística divulgada hoje, nos três primeiros meses de 2012 a ocupação diminuiu em 374,3 mil pessoas, totalizando 5.639.500 o número de desempregados na Espanha.

Os dados da EPA indicam que há 1.728.400 de famílias sem que nenhum de seus membros esteja empregado, ou seja, 153,4 mil mais do que no trimestre anterior.

O ministro da Economia, Luis de Guindos, avançou essa previsão de crescimento econômico espanhol de 0,2% para 2013 em entrevista coletiva na qual lembrou o compromisso do Governo de cumprir com a redução do déficit público até deixá-lo em 5,3% do PIB neste ano e 3% para o próximo, como pede Bruxelas.

Junto a De Guindos compareceu a vice-presidente e porta-voz do Governo, Soraya Sáenz de Santamaría, ao fim do Conselho de Ministros no qual se aprovou o Programa de Estabilidade, que agora deve ser enviado à Comissão Europeia.

Entre as previsões do Executivo, De Guindos incluiu a redução do desemprego em 2013 a 24,2%, percentual que contraria as estimativas dos analistas e organizações empresariais após a divulgação dos dados da EPA.

As Câmaras de Comércio espanholas expressaram seu temor de que o desemprego ultrapasse 25% já em 2012, embora confiem em que a deterioração do mercado laboral desacelere na segunda metade do ano.

A agência de medição de risco Standard & Poor"s, que ontem à noite rebaixou a nota da dívida espanhola em dois degraus, para BBB+, indicou que a reforma trabalhista do Governo de Rajoy (pedra angular dos ajustes) não evitará a deterioração do emprego no curto prazo.

S&P prevê taxa de desemprego em 2013 de 25,5% e que o país não vai gerar emprego líquido até 2016.


Entre as novas medidas da reforma estrutural empreendida pelo Executivo do Partido Popular (centro-direita), De Guindos anunciou que em 2013 subirá o IVA (Imposto sobre o Valor Agregado) e os impostos especiais, para arrecadar 8 bilhões de euros adicionais.

Ao Programa de Estabilidade se soma uma série de medidas para modernizar as administrações públicas e a eliminação de duplicidades, assim como a reforma do sistema financeiro e de setores como o imobiliário. Além disso, aprovou plano de luta contra a fraude trabalhista, que endurece as sanções.

Com estas decisões, disse Sáenz de Santamaría, "se dá um passo fundamental para marcar o caminho para retirar a Espanha da crise".

Não são da mesma opinião os principais grupos da oposição, entre eles o Partido Socialista (PSOE), para o qual a alta do desemprego constatada hoje demonstra que o Governo espanhol está "em um beco sem saída".

Segundo o secretário de Organização dessa formação, Oscar López, a "desastrosa" reforma laboral está alimentando as demissões em um momento em que são maioria as vozes na UE que apostam em combinar ajustes com políticas de crescimento.

Rajoy "ficou sozinho na Espanha e está sozinho com (a chanceler alemã, Angela) Merkel na Europa" defendendo a austeridade com todo rigor, declarou López.

O líder da Esquerda Unida, Cayo Lara, considerou que o aumento de desempregados no primeiro trimestre de 2012 é "diretamente" atribuível à reforma laboral e aos cortes.

Também se mostraram muito críticos os sindicatos majoritários, a União Geral dos Trabalhadores (UGT) e Comissões Operárias (CCOO), cujos respectivos secretários gerais, Cándido Méndez e Ignacio Fernández Toxo, pediram ao Executivo para não levar ao país à "autodestruição".

"A brutal tradução da destruição de emprego pela reforma laboral é um fato e não tem comparação em outros países europeus que estão em crise", declarou Méndez.

A Espanha supera a média de desemprego da UE, que é de 10,2%, e ultrapassa inclusive à Grécia (21%) e Portugal (15%), países que tiveram de ser resgatados e cujas contas estão sob supervisão internacional.

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