Economia

Paz de Lagarde corre risco diante de racha no BCE sobre resposta a vírus

Tensões aumentam novamente à medida que um novo surto de infecções força o BCE a contemplar ainda mais estímulos, com velhas divisões reaparecendo

Presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde (Kai Pfaffenbach/File Photo/Reuters)

Presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde (Kai Pfaffenbach/File Photo/Reuters)

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Reuters

Publicado em 28 de setembro de 2020 às 11h27.

As autoridades do Banco Central Europeu estão cada vez mais divididas sobre como conduzir a economia através de uma segunda onda de Covid-19, ameaçando a paz duramente conquistada pela presidente do banco, Christine Lagarde, mostraram conversas com oito fontes do BCE.

Lagarde conseguiu acabar com as brigas públicas que deixaram o BCE em desordem nos últimos meses do mandato de Mario Draghi no ano passado, e avançou perfeitamente com vários pacotes de estímulos recordes para manter a economia à tona em meio à pandemia.

Sua promessa de buscar consenso e trazer os céticos a bordo das decisões do banco está em total contraste com seu antecessor, Draghi, que raramente enfrentava oponentes importantes de suas políticas e sinalizava seus movimentos antes mesmo de qualquer discussão no Conselho do BCE.

Mas as tensões estão aumentando novamente à medida que um novo surto de infecções força o BCE a contemplar ainda mais estímulos, com velhas divisões reaparecendo e o economista-chefe da autarquia, Philip Lane, sendo atacado por todos os lados.

As autoridades conservadoras, conhecidas no jargão de banco central como "hawks", argumentam que o BCE está minimizando algumas das boas notícias, como um fluxo de indicadores econômicos melhores do que o esperado durante o verão (no Hemisfério Norte).

No lado oposto, as autoridades "dovish" estão pressionando Lagarde para que adapte uma linguagem mais forte tanto sobre os riscos para o crescimento quanto sobre a ameaça da valorização do euro em relação ao dólar.

As divergências já estavam claras durante a última reunião de política monetária de setembro, disseram à Reuters as oito fontes, todas com conhecimento direto do processo.

Os "hawks" queriam que o BCE reduzisse discretamente suas compras de títulos, dadas as condições de mercado relativamente benignas, economizando seu poder de fogo para que pudesse aumentar o ritmo de compra novamente, se necessário, em uma data posterior, sem aumentar o tamanho geral do Programa de Compra de Emergência da Pandemia (PEPP, na sigla em inglês).

Alguns também argumentaram que as projeções econômicas estavam muito pessimistas porque não levaram em consideração as medidas de estímulo fiscal já anunciadas, que inevitavelmente levariam a um maior crescimento e inflação.

Ambos os pontos foram rejeitados pelo economista-chefe, Lane, assim como o apelo por um aviso mais claro sobre os riscos para o crescimento apresentados por um euro mais forte, disseram as fontes.

O BCE, que fala em nome dos membros do conselho, não quis comentar.

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