Economia

Para Shiller, chance de recessão nos EUA em 2020 é menor que 50%

Para o Prêmio Nobel Robert Shiller, as ideias que se tornam virais são mais importantes do que imaginamos para prever o rumo da economia

Robert Shiller, Prêmio Nobel de economia (Nelson Ching/Bloomberg)

Robert Shiller, Prêmio Nobel de economia (Nelson Ching/Bloomberg)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 13 de setembro de 2019 às 06h00.

Última atualização em 13 de setembro de 2019 às 06h00.

Os mercados em Wall Street enviam mensagens contraditórias este ano: investidores de títulos de dívida e a guerra comercial contam uma história de desaceleração econômica, enquanto traders de ações recitam contos otimistas sobre o mundo corporativo dos Estados Unidos.

Talvez todos devêssemos ler o Twitter.

Para o Prêmio Nobel Robert Shiller, as ideias que se tornam virais são mais importantes do que imaginamos para prever o rumo da economia -- tanto quanto números de crescimento e preços de ativos.

Em seu livro mais recente, "Narrative Economics”, o economista de 73 anos, famoso por sua análise sobre bolhas de ativos, argumenta que as histórias podem se transformar em profecias autorrealizáveis com o tipo de potência que a economia mainstream geralmente ignora.

Com ventos contrários afetando o crescimento econômico internacional enquanto a maioria dos indicadores mostra que a economia dos EUA ainda está saudável, é uma teoria cuja hora pode ter chegado.

A boa notícia é que as chances de uma recessão em 2020 são inferiores a 50%, disse Shiller em entrevista à Bloomberg News no Ned Hotel, em Londres.

Em entrevista, Shiller disse que torce para que Joe Biden seja o candidato presidencial do Partido Democrata e eventual vencedor nas eleições dos EUA no ano que vem, embora confesse que aceitará qualquer candidato para derrotar Donald Trump.

As ideias de esquerda de Bernie Sanders e Elizabeth Warren, como aumentar impostos sobre os ricos, dificultam a conquista de votos a nível nacional e afetariam o mercado acionário, alertou.

A seguir, trechos da entrevista:

Por que ações e títulos estão perto de nível recorde?

Minha visão do mundo é conduzida por múltiplas narrativas. Por que alguém ofereceria mais pelo preço dos títulos e não ofereceria menos pelo preço das ações? Os preços são definidos pelas pessoas que negociam e, portanto, podemos obter contradições nos dados.

Os rendimentos dos títulos, próximos a recordes de baixa ou até negativos, têm algo a ver com o medo de outros investimentos. Também têm a ver com a narrativa de estagnação secular ou com a narrativa de recessão.

Quais narrativas são populares hoje em dia?

Existe essa narrativa de estagnação secular ou uma narrativa do Japão agora se expandindo para o mundo, que parece superficialmente plausível. Quase ninguém previu que o atual regime de baixas taxas de juros ainda estaria em vigor em 2019, então, me pergunte novamente em 10 anos e talvez eu tenha um modelo de previsão.

O que poderia fazer a volatilidade aumentar novamente?

Pode ser o retorno de uma narrativa que inspira o medo, como aconteceu em 2008. A volatilidade disparou. Houve um retorno da narrativa da Grande Depressão. Em setembro de 2008, tivemos a falência do Lehman e a aquisição do Washington Mutual, e depois a conversa mudou para: estamos novamente em 1929?

Aquilo trouxe de volta histórias de medo, mas agora essas histórias não são tão importantes. As pessoas não estão tão preocupadas com o mercado acionário. Estão interessadas em outras coisas, como Donald Trump ou Boris Johnson.

A próxima recessão nos EUA será grande ou moderada?

A resposta natural é que não será tão ruim quanto a de 2008. Porque essa foi a pior recessão! A questão é o que tornaria isso ruim. Seria algum tipo de narrativa assustadora que volta com uma nova força, como uma narrativa da Grande Depressão, ou mesmo a narrativa de 2008.

Nos EUA, a confiança se manteve em alta. Não está subindo rapidamente, mas ainda está em alta para que as pessoas não tenham medo. E isso significa que muitas pessoas simplesmente não estão prestando atenção ao seu portfólio de ações.

Existe uma bolha em investimentos passivos?

O investimento passivo pode permitir que as bolhas se tornem mais fortes. Por outro lado, ainda temos muitos investidores ativos e não sei se estou particularmente alarmado. É verdade que a atenção mudou de ações individuais para índices. Os ETFs smart-beta são uma tentativa de corrigir isso.

Trump vai concluir um acordo comercial antes das eleições?

Trump respeita muito sua própria intuição e não escuta nenhuma autoridade em particular. Então, penso que se tornará ainda mais feroz à medida que seus índices de aprovação diminuírem.

Quem é seu candidato preferido para 2020?

Tenho preferência por Biden, porque acho que tem as melhores chances de ganhar. Eu apoiaria qualquer um em vez de Donald Trump.

A força de Bernie Sanders na última eleição é surpreendente, porque ele se diz socialista e essa é uma palavra ruim, obscena e suja nos EUA. Acho que Bernie Sanders não vai ganhar. Elizabeth Warren é uma mulher inteligente, mas é um pouco de esquerda para ser eleita nos EUA. Seria uma vitória-surpresa.

Como uma vitória de Warren ou Sanders afetaria as ações?

O problema de Sanders e Warren é que querem tributar investidores ricos. Isso afetaria o mercado. Ao mesmo tempo, o mercado nem sempre é lógico.

Acompanhe tudo sobre:BloombergEstados Unidos (EUA)Guerras comerciaisPrêmio Nobel

Mais de Economia

Desemprego cai para 6,4% no 3º tri, menor taxa desde 2012, com queda em seis estados

Haddad: pacote de corte de gastos será divulgado após reunião de segunda com Lula

“Estamos estudando outra forma de financiar o mercado imobiliário”, diz diretor do Banco Central

Reunião de Lula e Haddad será com atacado e varejo e não deve tratar de pacote de corte de gastos