Economia

Para IBGE, dizer que há virada no mercado de trabalho é "forçar a barra"

Desemprego caiu a 12% no 2º trimestre e repete menor taxa do ano

Carteira de trabalho: população ocupada aumentou em 1,479 milhão de pessoas no segundo trimestre em relação ao primeiro trimestre (Gabriel Ramos/Getty Images)

Carteira de trabalho: população ocupada aumentou em 1,479 milhão de pessoas no segundo trimestre em relação ao primeiro trimestre (Gabriel Ramos/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 31 de julho de 2019 às 15h04.

Última atualização em 31 de julho de 2019 às 15h45.

A redução na taxa de desemprego na passagem do primeiro trimestre para o segundo trimestre do ano é um movimento sazonal mas há sinais de melhora no mercado de trabalho que indicam um "primeiro passo importante" na direção da recuperação, avaliou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Azeredo lembrou que a geração de vagas foi expressiva no segundo trimestre, sendo uma parte significativa delas no setor privado, com carteira de trabalho assinada.

"Eu acho que a gente deu um primeiro passo importante (para recuperação do mercado de trabalho)", opinou Azeredo. "Para dizer que é virada eu tenho que garantir que isso vai se confirmar no terceiro e quarto trimestres. Eu não tenho como dizer isso. Dizer que há virada eu acho que é forçar uma barra", completou.

A taxa de desemprego saiu de 12,7% no primeiro trimestre para 12,0% no segundo trimestre, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

"Tem um efeito sazonal nesse resultado, porque o primeiro trimestre é marcado por dispensa de trabalhadores temporários, e no segundo trimestre a economia volta a reaquecer. Sempre do primeiro para o segundo trimestre tem aumento na ocupação e redução na desocupação", explicou Azeredo.

A população ocupada aumentou em 1,479 milhão de pessoas no segundo trimestre em relação ao primeiro trimestre.

"Temos que lembrar que estamos com uma base de comparação muito ruim, com desemprego muito alto, informalidade muito elevada. Então qualquer movimento (de contratações) estimula um resultado positivo", ponderou Azeredo.

Na comparação anual, a população ocupada teve aumento recorde de 2,6%, com 2,401 milhões de pessoas a mais trabalhando.

"A gente nunca teve aumento em termos porcentuais tão alto na população ocupada na comparação anual. O fato da população ocupada ter subido em 2,4 milhões (de pessoas) é um movimento bastante expressivo. Isso mostra que o mercado de trabalho tem força bastante expressiva no que tange a postos de trabalho", avaliou o coordenador do IBGE.

Embora o mercado de trabalho dê os primeiros sinais de melhora, ainda há o grande desafio de solucionar o patamar recorde de subocupados e de informais, diz Azeredo.

Subocupados

"Falar em desemprego, dizer que está limitado a 12 milhões, é minimizar o problema. Apesar dos avanços no mercado de trabalho, o problema é que há 28,405 milhões de subutilizados. O problema é muito maior do que isso. A gente tem um mercado de trabalho ainda com bastante subutilização", avaliou Azeredo.

O Brasil tem hoje uma população recorde de pessoas atuando por conta própria (24,141 milhões) e trabalhando sem carteira assinada no setor privado (11,500 milhões).

O número de trabalhadores com jornada aquém do desejado também atingiu o patamar máximo: 7,355 milhões.

Outros 4,877 milhões de brasileiros estão desalentados, ou seja, deixam de procurar emprego acreditando que não conseguiriam uma oportunidade, por exemplo. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).Uma das consequências do emprego sem qualidade é a redução da média salarial. O rendimento médio dos trabalhadores ocupados recuou 1,3% no segundo trimestre em relação ao primeiro trimestre do ano. De acordo com Azeredo, a renda média cai porque quem está entrando no mercado de trabalho consegue uma vaga com renda mais baixa.

Outra consequência é a diminuição na proporção de trabalhadores ocupados contribuindo para a Previdência Social: recuou de 63,6% em março para 62,8% em junho.

"O porcentual de pessoas ocupadas contribuindo para a Previdência cai porque o que está crescendo é o mercado informal", justificou o coordenador do IBGE. "A gente está longe de uma virada, porque a gente está com muita informalidade e muita subutilização da força de trabalho", concluiu.

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