Economia

Opinião: Por que a "rendição" da China aos EUA não é o que parece

Por mais doloroso que pareça, as importações de carros dos EUA mal chegam a 5% do mercado automotivo da China, o maior do mundo

 (cybrain/Getty Images)

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João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 16 de dezembro de 2018 às 08h00.

Última atualização em 16 de dezembro de 2018 às 08h00.

A China se rendeu em relação aos carros. Pelo menos é o que parece aos olhos dos observadores da guerra comercial.

Dias após um tweet precipitado do presidente Donald Trump e um telefonema entre negociadores comerciais, a China pode estar desistindo de um dos principais pontos em disputa: a proposta de eliminação de tarifas retaliatórias aos automóveis americanos foi submetida ao Conselho de Estado, disseram pessoas familiarizadas com o assunto à Bloomberg News.

A percepção é de que a China perdeu. Mas sua economia, não. Para começar, neste ano a China reduziu para 15 por cento as tarifas de importação aplicadas a automóveis e componentes, contra 25 por cento no caso dos carros de passeio e 20 por cento no caso dos caminhões. Depois, o país adicionou uma punição de 25 por cento aos automóveis americanos como retaliação pelas medidas comerciais de Trump.

Os EUA mantêm uma tarifa equivalente de 25 por cento específica para a China, além da tarifa geral de 2,5 por cento, sobre as importações de carros e de 25 por cento para caminhões -- medida antiga que protege a indústria nacional de caminhões, dominada pelas três grandes fabricantes de Detroit.

Por mais doloroso que pareça, as importações de carros dos EUA mal chegam a 5 por cento do mercado automotivo da China, o maior do mundo. Como escrevemos na semana passada, a maioria das fabricantes de veículos produz na China para a China.

Além disso, os principais afetados por esse pequeno solavanco seriam os europeus, já que as fabricantes de veículos alemãs respondem por um total estimado de US$ 7 bilhões dos US$ 11 bilhões em exportações de carros dos EUA para a China.

Entre as empresas americanas, a Tesla teria o maior benefício -- mas Elon Musk já fechou um grande negócio com Pequim e está construindo uma fábrica juntamente com o governo para produzir carros na China.

Frente à queda das vendas na maioria dos segmentos do mercado automotivo da China, o pequeno benefício obtido com as tarifas mais baixas deve ser compensado por ventos contrários muito maiores, gerados pelo enfraquecimento da perspectiva econômica.

Neste momento, as fabricantes de veículos precisam da China: as margens ainda são interessantes em termos globais e, mesmo que as pressões de preço aumentem, onde mais a Cadillac baterá recordes de venda?

As vendas de carros elétricos continuam crescendo rapidamente e a China provavelmente ficará feliz por adotar uma nova tecnologia que os EUA mostram cada vez mais aversão em apoiar.

A perspectiva de longo prazo é a única coisa que importa, apesar do contexto de aprofundamento da guerra tecnológica com a prisão da diretora financeira da Huawei Technologies no Canadá a pedido de Washington.

Para debelar a aspiração pública de Trump, Pequim lhe concedeu uma vitória sobre a qual ele pode se vangloriar no Twitter, mas lhe negou uma vitória econômica. Ao fazê-lo, espera que todos pensem que está tomando uma atitude nobre nas negociações comerciais. Este é o estilo chinês de negociar.

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