Economia

Opinião: O que é a OMC e por que uma saída dos EUA seria um erro

O que faz exatamente a OMC, eleita como alvo por Trump, e por que importaria se os EUA a deixassem? Em artigo, o professor Stephen J. Silvia explica

Os membros da OMC concordam com quatro princípios básicos (Denis Balibouse/Reuters)

Os membros da OMC concordam com quatro princípios básicos (Denis Balibouse/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 4 de julho de 2018 às 06h00.

Última atualização em 4 de julho de 2018 às 09h41.

Artigo de Stephen J. Silvia, professor de Relações Internacionais na American University School of International Service

O presidente Donald Trump fez da Organização Mundial do Comércio (OMC) um alvo frequente.

Recentemente, ele supostamente considerou suspender a observância americana em relação ao órgão global, uma alegação rapidamente negada pela Casa Branca.

O que exatamente é a OMC, e por que importaria se os EUA a deixassem? Como um estudioso do comércio internacional, gostaria de começar com a história.

História da OMC

A criação em 1995 da OMC, sediada em Genebra, foi o ponto culminante de um esforço de 50 anos liderado por sucessivos governos americanos para estabelecer e assegurar um regime de comércio multilateral baseado em regras.

Antes da Segunda Guerra Mundial, poderes europeus impuseram restrições comerciais duras contra países fora de seus impérios, o que prejudicou substancialmente exportadores norte-americanos.

Isso também contribuiu para que o Japão fosse à guerra para moldar sua "Esfera de Co-prosperidade da Grande Ásia Oriental" e para que a Alemanha Nazista atacasse a leste para obter um “espaço vital” – ou seja, territórios vassalos – ao seu redor.

O Acordo Geral de Tarifas e Comércio de 1948, o precursor da OMC, foi projetado para evitar uma repetição do colapso de comércio dos anos 30, que agravou a Grande Depressão, e para eliminar o acesso a mercados como uma razão para ir à guerra.

Uma história de sucesso

O resultado foi espetacularmente bem-sucedido. A exportação dos países, como parcela da produção global, subiu de menos de 5% em 1948 para acima dos 30% hoje.

Isso permitiu aos países crescerem de forma mais rápida e estável e trouxe paz e prosperidade para a Europa e o Japão.

Os membros da OMC, que atualmente são 164, concordam com quatro princípios básicos:

  • Não-discriminação, o que significa que todas as importações estão sujeitas ao mesmo patamar de tarifa, com algumas exceções;
  • Reciprocidade, que equilibra a redução de barreiras e permite retaliação;
  • Transparência;
  • Tomada de decisões por consenso.

Como funciona

A OMC facilita negociações comerciais entre os seus países membros para abrir mercados e solucionar eventuais disputas que surjam.

Rodadas de negociação subsequentes permitiram que os países tomassem fortes passos em direção à liberalização do comércio, enquanto equilibravam concessões com benefícios.

Quando surgem as disputas, como aquelas relacionadas às tarifas do aço de Trump, painéis imparciais julgam usando as regras da OMC e permitem que países prejudicados sancionem os violadores.

Os EUA estão entre os países que fazem isso (e têm sucesso) com mais frequência, o que ajudou a manter mercados abertos para exportadores americanos.

O que aconteceria se os EUA saíssem

Se os EUA fossem sair da OMC, outros países poderiam elevar tarifas livremente contra ele. E os EUA perderiam acesso ao mecanismo de resolução de disputas, o que tornaria a retaliação a única resposta disponível.

Isso inevitavelmente elevaria os preços e reduziria as escolhas para os consumidores americanos, minaria a competitividade e a rentabilidade de empresas que dependem de importações e tornaria o crescimento mais lento.

O declínio da OMC também elevaria a possibilidade de conflitos violentos entre Estados.

Publicado originalmente no site The Conversation e traduzido por João Pedro Caleiro com permissão do autor

Acompanhe tudo sobre:Comércio exteriorDonald TrumpEstados Unidos (EUA)GlobalizaçãoOMC – Organização Mundial do ComércioProtecionismo

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor