Economia

O que a guerra comercial pode fazer com o crescimento global

Disputa com a China voltou a esquentar na quarta-feira (11) e cenário pode piorar se ameaças à Europa se concretizarem, diz relatório do Bradesco

O presidente americano Donald Trump fala com a imprensa no último dia 8 de junho em Washington D.C. (Andrew Harrer/Bloomberg)

O presidente americano Donald Trump fala com a imprensa no último dia 8 de junho em Washington D.C. (Andrew Harrer/Bloomberg)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 12 de julho de 2018 às 06h00.

Última atualização em 12 de julho de 2018 às 06h00.

São Paulo - A economia global pode sofrer de forma significativa caso os Estados Unidos sigam insistindo em medidas de restrição comercial.

O alerta aparece em um relatório do Bradesco assinado pela economista Fabiana D'Atri e divulgado nesta quarta-feira (11).

A estimativa do banco é que um cenário de guerra comercial plena contra a China e, especialmente, sobre a Europa tiraria entre 0,3 e 0,4 ponto percentual do crescimento global em 2018 e 2019.

A previsão atual do Fundo Monetário Internacional é que o crescimento global fique em 3,9% neste e no próximo ano.

China

A principal briga até agora tem sido com a China. Na última sexta-feira (6), entraram em vigor as novas tarifas americanas de 25% sobre US$ 34 bilhões em produtos chineses, e em breve o valor atingido chegará a US$ 50 bilhões. A China respondeu com retaliações na mesma escala.

Nesta quarta-feira (11), os EUA anunciaram um segundo pacote com tarifas de 10% sobre US$ 200 bilhões de importações da China, que já prometeu contra-atacar. A tensão fez o preço do petróleo despencar quase 7%.

O relatório do Bradesco nota dois pontos importantes da estratégia dos EUA até agora. Uma é excluir das tarifas extras alguns bens finais como celulares, já que poderiam levar a preços mais altos ao consumidor americano.

A outra é "inviabilizar a estratégia China 2025, do governo chinês, que tem como foco o upgrade da indústria local, com a priorização de segmentos de alta tecnologia".

A estimativa do banco é que se a guerra comercial tomar outras proporções, a China pode perder entre 0,1 e 0,5 ponto percentual do seu crescimento, estimado pelo FMI em 6,6% neste ano.

Com superávit comercial de US$ 389 bilhões nos últimos 12 meses, a China é mais dependente dos EUA do que o contrário. No entanto, há quem avalie que o sistema político torna a China mais resiliente diante de possíveis efeitos adversos.

Europa e Brasil

O perigo global se ampliaria caso Donald Trump siga com a ameaça, feita no último dia 22 de junho, de impor tarifas aduaneiras de 20% aos veículos importados pelos EUA da União Europeia.

Foi uma resposta a algumas tarifas adicionais aplicadas recentemente pelos europeus - que, por sua vez, já eram uma resposta às novas tarifas americanas de 25% sobre o aço e de 10% sobre o alumínio.

O bloco europeu é bastante aberto e dependente do comércio internacional, apesar de no caso dos veículos seus países terem hoje tarifas de importação maiores (10%) do que do lado americano (2,5%).

De qualquer forma, o efeito dessas disputas vai além das perdas diretas com o comércio:

"Acreditamos que há uma perda de dinamismo global, fluxos de capitais menos intensos, com correção de preços dos ativos e uma possível “guerra cambial”. Efeito sobre confiança e decisões de investimentos também tende a ser negativo", diz o texto do Bradesco.

Para o Brasil, há potenciais repercussões positivas. O prêmio da soja brasileira subiu e o país poderá aproveitar para ampliar suas vendas para a China, tomando espaço hoje ocupado pelos EUA.

Mas o efeito geral é negativo, já que também sofremos os efeitos do crescimento global menor e principalmente da aversão ao risco, que se reflete diretamente nos preços de ativos brasileiros.

Nesta quarta-feira, o Ibovespa fechou em queda de 0,49% e o dólar subiu 2%, voltando a se aproximar de R$ 3,90.

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