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O dragão da inflação está de volta?

Queda da inflação é difícil, afirma previsão do BBV

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h01.

Os últimos números de inflação, divulgados nesta terça e quarta-feira, deixam cada vez mais evidentes que a atual conjuntura torna pouco viável qualquer tentativa de uma política monetária expansiva até o final do ano e até mesmo no ano que vem.

O IPCA, anunciado nesta quarta-feira, atingiu 0,72% em setembro, superando a previsão do mercado, de 0,63%. No acumulado do ano, o IPCA já registra 5,60%, um nível superior ao averiguado para o mesmo período do ano passado (5,35%). Nos últimos doze meses, o índice soma 7,93%, contra 7,46% nos doze meses anteriores. O IPA, que mede os preços no atacado, chegou a 2,17% só nos primeiros dez dias de outubro. Tudo isso coloca em xeque a meta inflacionária estabelecida pelo BC, cujo teto para 2002 é de 7,5%.

O que está acontecendo todos sabem: a alta do dólar está alimentando os preços. Mas há outro dado: diante da alta da inflação, o dólar voltou a subir e bateu em R$ 3,87. Haveria risco de a inflação sair do controle? "A manutenção de uma taxa de câmbio excessivamente depreciada ao longo dos últimos meses e o sentimento de que o potencial de apreciação, ainda que existente, é hoje menor, fazem com que o anseio por repasse do aumento de custos ao consumidor seja crescente", afirma o BBV Banco em seu relatório diário.

Por enquanto, a diferença da inflação medida nos preços ao atacado (pelo IPA, Índice de Preços no Atacado, Agrícola e Industrial) e no varejo (pelo IPC, Índice de Preços ao Consumidor) mostra um represamento da inflação. Esse represamento está sendo absorvido pelos produtores e não repassado de forma integral para os consumidores finais. Exemplo: em outubro, o IPA apurado nos dez primeiros dias foi de 2,17%, e o IPC, de 0,49%.

Mas isso, diz o BBV, coloca o BC numa situação difícil. "Esta pressão faz com que o Banco Central tenha de ser cauteloso na condução da política monetária. Um relaxamento da política monetária neste instante poderia implicar algum aquecimento na demanda e propiciar espaço para que o represamento seja repassado, implicando pressões adicionais nas taxas de inflação ao consumidor", afirma o banco. "A conjuntura não permite vislumbrar uma redução dos juros até o final do ano, mantendo-a estável nos atuais 18% ao ano até dezembro".

"Projetamos variação de 7,5% para o IPCA este ano, não incorporando reajustes adicionais nos preços dos combustíveis. A diferença entre os preços domésticos e no mercado internacional sugerem aumentos com impacto de pelo menos 0,5 ponto percentual no IPCA", avalia o CSFB.

Os indicadores

Uma análise mais detalhada desta variação mostra qual foi a maior alta no IPCA de setembro: nos alimentos, que têm captado uma parcela da desvalorização cambial, por ser negociáveis. As principais variações foram: óleo de soja (14,23%) e derivados de trigo, como farinha (10,71%), macarrão (5,60%), biscoito (4,28%) e pão francês (2,68%).

Outros segmentos também apresentaram fortes pressões de correção de preços no período tais como os eletrodomésticos (1,90%) e os artigos de higiene pessoal (1,89%). O índice poderia ter sido ainda maior se não tivesse havido a redução de 7,61% no preço do gás de cozinha (isso representou contribuição negativa de 0,13%).

O resultado do IGP-DI de setembro, divulgado nesta quarta-feira, ficou em 2,64% - também acima das expectativas do mercado, que calculava a taxa entre 2,15% e 2,55%. Entre seus componentes, o IPA registrou variação de 3,84%, sendo 5,86% nos produtos agrícolas e 3,04% nos produtos industriais; o IPC ficou em 0,66% e o INCC registrou variação de 0,71%. Com este resultado, o IGP-DI acumulou inflação de 11,6% este ano e 14,28% em 12 meses, contra 11,76% em 12 meses até agosto.

O resultado da 1 a quadrissemana do IPC-Fipe de outubro, na manhã de quinta-feira, ficou em 0,81% contra 0,76% no fechamento de setembro. A tendência de desaceleração dos grupos alimentação (1,18% contra 1,42% no fechamento de setembro) e habitação (0,72% neste resultado contra 0,87% no fechamento de setembro) deve contribuir para a desaceleração dos próximos resultados do IPC-Fipe. "Para outubro, nossa projeção preliminar indica variação de cerca de 0,6%. Para o ano projetamos variação de cerca de 5,3% para o IPC-Fipe", afirma o CSFB.

Para os analistas do BBV, além de progressivamente restringir a perspectiva de queda significativa nas taxas de juros para 2003, o comportamento recente das previsões médias do mercado apontam que há um pequeno espaço para a queda da inflação em 2003 e de restrição à grande expansão monetária no ano que vem. Quem quer que seja o próximo presidente deverá optar entre moderar suas expectativas de crescimento da economia ou conviver com a volta da inflação.

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